Clarissa Thomé
Folhapress
RIO – A cidade que ostenta informalmente o título de maravilhosa pode se tornar finalmente patrimônio da humanidade. O dossiê da candidatura do Rio de Janeiro, na categoria paisagem cultural, foi aceito pelo Centro do Patrimônio Mundial da Unesco. A decisão final será divulgada na 36ª sessão do comitê, prevista para ocorrer em meados de 2012.
O Brasil tem 18 bens culturais e naturais na lista dos 911 reconhecidos pela Unesco, como o Pantanal ou o conjunto arquitetônico de Ouro Preto (MG). Nenhum desses bens em território fluminense – o trecho de Mata Atlântica que é considerado patrimônio da humanidade divide-se entre São Paulo e Paraná.
“A candidatura do Rio de Janeiro nunca havia sido apresentada porque a questão que se colocava era pensar a cidade como centro histórico ou paisagem natural. Mas o Rio foi muito descaracterizado no seu centro histórico. Não teria sentido uma candidatura tradicional do ponto de vista das edificações”, explica o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida.
Foi preciso pensar o que tornava o Rio tão especial e que garantiu a alcunha de Cidade Maravilhosa, cravada pelo escritor maranhense Coelho Neto, numa crônica publicada em 1908, no jornal A Notícia. “Nós entendemos que o valor patrimonial mais importante do Rio de Janeiro é a relação entre a paisagem construída e a paisagem natural. A excepcionalidade do Rio está baseada nessa relação homem/natureza. Poucas cidades do mundo construíram uma relação tão forte como o Rio de Janeiro”, afirma Almeida.
As missões que virão ao Rio ao longo do ano para avaliar o dossiê vão analisar o conjunto formado pelos morros da Urca, Pão de Açúcar, ligados pelo bondinho, a Floresta da Tijuca, que já deu lugar a uma extensa plantação de café, e foi replantada por determinação de d. Pedro II, a paisagem formada pelo Cristo e o Morro do Corcovado.
Também fazem parte do dossiê o Jardim Botânico e as intervenções do arquiteto e urbanista Roberto Burle Marx na paisagem do Rio, seja nas curvas do calçadão de Copacabana, seja no gigantesco jardim que é o Parque do Flamengo.
“No Rio de Janeiro é que se cria o paisagismo tropical, através do Burle Marx. Isso não é uma coisa espontânea. Vem de uma tradição de o Rio de Janeiro ter aclimatado espécies vegetais da Ásia e da África para se levar para Europa”, lembra Almeida.
O presidente do Iphan explica que o conceito de paisagem cultural foi criado recentemente pela Unesco. Mas até então as candidaturas para essa categoria eram de comunidades tradicionais e regiões rurais. “A candidatura do Rio abre uma frente nessa categoria, que é a possibilidade de existir a paisagem cultural urbana.”
A candidatura do Rio foi preparada pelo Iphan em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Fundação Roberto Marinho, além do governo do Estado e da prefeitura.
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