quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Coluna de Anderson Francisco


Sobre a estreiteza do olhar

Quero postar aqui um texto que escrevi há algum tempo, depois de visitar um amigo que havia sido baleado. Já faz um tempo também que não o vejo, mas lembro-me constantemente dele.

(Texto escrito, originalmente, em 18 de novembro de 2009)

Por um amigo

Um colega da faculdade disse-me esses dias, enquanto tentávamos identificar os diversos bairros do Recife do alto do 15º andar do prédio onde estudamos, que olhar para lugares distantes faz bem para os olhos; que pessoas que vivem e trabalham em lugares fechados e, portanto, sem "horizontes", tem mais problemas de visão. "Olhar para longe é um exercício para o cristalino", disse ele.


No último domingo (15/11), visitei um amigo que foi assaltado e recebeu um tiro. Ele está paralítico. Tudo por causa de um telefone celular. Infelizmente, esse não é um caso isolado, mas uma realidade cada vez mais presente entre nós: a violência banalizada. Uma vida e um celular colocados numa balança, e o que pesa mais? O celular.
 

Parece que cada vez mais o olhar se estreita. As causas disso? São várias, e não quero nem pretendo tratar delas aqui. Quem atirou no meu amigo certamente não enxergou uma pessoa quando disparou a arma, mas um obstáculo que o impedia de obter o que ele queria: o celular.



Era, provavelmente, só isso que ele enxergava: o celular que lhe daria status (se fosse o da moda), ou algum dinheiro, ou alguma droga, ou qualquer coisa; e entre ele e aquele celular, o obstáculo que deveria ser eliminado. Não uma pessoa, com todo "horizonte" que ela traz consigo, mas um obstáculo que pode ser removido sem a menor dor de consciência.

Cada vez mais o olhar se estreita. Em qual horizonte devemos exercitar nossas vistas antes que a cegueira nos atinja a todos?







Por: Anderson Francisco







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