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As mulheres colocaram de
lado os limites impostos pela natureza – com a ajuda das técnicas de reprodução
assistida – e revolveram corpo e alma em busca da maternidade depois dos 50
anos. O fenômeno é mundial. Desde 1997, triplicou o número de grávidas
americanas com mais de 50 anos. Na Inglaterra, entre 2008 e 2009, aumentou em
55%. No Brasil, mães com mais de 40 anos respondem hoje por 4% dos nascimentos.
Em 1999, respondiam por 1,8%.
Apesar da popularização, a
maternidade tardia ainda impõe questionamentos sociais. Muitos especialistas
afirmam que, depois dos 50 anos, o vigor físico e o psicológico não são os
mesmos. Falta aos pais tardios, dizem, energia para lidar com os filhos. Estes,
por sua vez, podem sofrer impactos psicológicos por terem pais que mais se
parecem com os avós dos amigos. E, pior, correm maior risco de se tornar
órfãos. Segundo o último censo, uma criança nascida no Brasil de uma mãe
cinquentenária ficaria órfã aos 23 anos.
Nos Estados Unidos e na
Europa, onde a expectativa de vida é maior, essa idade subiria para 30 e 32
anos. No ano passado, o casal italiano Gabriella e Luigi d’Ambrosis perdeu a
guarda da filha recém-nascida porque a Justiça considerou que ela, com 58 anos,
e ele, com 70, eram velhos demais. A decisão chamou a atenção do mundo para o
dilema: é possível (e justo) traçar um limite etário para a maternidade?
A maioria dos países não
estabelece limite. A Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva recomenda que
as clínicas de fertilização desencorajem mulheres na menopausa. Na Inglaterra,
a Lei de Fertilização Humana e Embriologia sugere que apenas mulheres com menos
de 45 anos recebam doação de óvulos – no caso de as candidatas não ovularem e
precisarem de óvulos de outra mulher. Depois dos 43 anos, a chance de conceber
um filho naturalmente é de menos de 10%. A quantidade de óvulos viáveis míngua
até se esgotar, por volta dos 50 anos. Poucas mulheres assumem
recorrer a óvulos doados – o que implica assumir que a criança não carrega sua
carga genética.
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No Brasil, uma resolução do
Conselho Federal de Medicina determina que procedimentos como receber ovodoação
e fertilização sejam feitos se não houver risco para a mãe. A única restrição é
o número de embriões implantados. Não pode passar de quatro depois dos 35 anos.
“Uma gravidez múltipla é de alto risco em qualquer idade e só piora com o
passar do tempo”, afirma José Hiran Gallo, coordenador da Câmara Técnica de
Reprodução Assistida. Em março, ele diz que se reunirá com especialistas para
propor mudanças. “A resolução é omissa por não fixar limite etário”, diz. “Há
clínicas tratando mulheres cada vez mais velhas.” A gestação em idade avançada
pode trazer riscos à gestante e ao bebê.
O assunto é delicado.
Caberia a alguma instituição governamental ou colegiado de profissionais
decidir quando é tarde demais para ser mãe? Para os defensores da maternidade
tardia, mesmo que os filhos percam os pais mais cedo, por volta dos 30 anos,
essa idade é suficiente para eles serem independentes. “Não vejo egoísmo nem
inconsequência”, diz a americana Sylvia Ann Hewlett, economista da Universidade
Harvard, autora do livro Criando
uma vida: mulheres profissionais e a busca por crianças. “A idade
não muda a natureza zelosa de uma mãe”, diz.
Pesquisas mostram que ter
pais mais velhos pode ser bom. Eles estão estabelecidos financeiramente (desembolsam
cerca de R$ 20 mil a cada tentativa de engravidar) e oferecerão educação e
assistência médica de qualidade. As crianças contariam com a atenção integral
dos pais, já fora do mercado de trabalho, o que se traduziria em maior
desenvolvimento cognitivo e segurança emocional. Um estudo da Universidade de
Iowa, nos EUA, descobriu que quanto mais velha a mãe, melhor o desenvolvimento
da criança em testes de linguagem e matemática. Seria mais um indício de que,
além de não ter tamanho determinado, coração de mãe não tem idade?
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