domingo, 29 de janeiro de 2012

QUANDO É TARDE PARA SER MÃE?

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foto: revistaepoca.globo.com

As mulheres colocaram de lado os limites impostos pela natureza – com a ajuda das técnicas de reprodução assistida – e revolveram corpo e alma em busca da maternidade depois dos 50 anos. O fenômeno é mundial. Desde 1997, triplicou o número de grávidas americanas com mais de 50 anos. Na Inglaterra, entre 2008 e 2009, aumentou em 55%. No Brasil, mães com mais de 40 anos respondem hoje por 4% dos nascimentos. Em 1999, respondiam por 1,8%.
Apesar da popularização, a maternidade tardia ainda impõe questionamentos sociais. Muitos especialistas afirmam que, depois dos 50 anos, o vigor físico e o psicológico não são os mesmos. Falta aos pais tardios, dizem, energia para lidar com os filhos. Estes, por sua vez, podem sofrer impactos psicológicos por terem pais que mais se parecem com os avós dos amigos. E, pior, correm maior risco de se tornar órfãos. Segundo o último censo, uma criança nascida no Brasil de uma mãe cinquentenária ficaria órfã aos 23 anos.


Nos Estados Unidos e na Europa, onde a expectativa de vida é maior, essa idade subiria para 30 e 32 anos. No ano passado, o casal italiano Gabriella e Luigi d’Ambrosis perdeu a guarda da filha recém-nascida porque a Justiça considerou que ela, com 58 anos, e ele, com 70, eram velhos demais. A decisão chamou a atenção do mundo para o dilema: é possível (e justo) traçar um limite etário para a maternidade?
A maioria dos países não estabelece limite. A Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva recomenda que as clínicas de fertilização desencorajem mulheres na menopausa. Na Inglaterra, a Lei de Fertilização Humana e Embriologia sugere que apenas mulheres com menos de 45 anos recebam doação de óvulos – no caso de as candidatas não ovularem e precisarem de óvulos de outra mulher. Depois dos 43 anos, a chance de conceber um filho naturalmente é de menos de 10%. A quantidade de óvulos viáveis míngua até se esgotar, por volta dos 50 anos. Poucas mulheres assumem recorrer a óvulos doados – o que implica assumir que a criança não carrega sua carga genética.

foto: emterrasdemouros.blogspot.com


No Brasil, uma resolução do Conselho Federal de Medicina determina que procedimentos como receber ovodoação e fertilização sejam feitos se não houver risco para a mãe. A única restrição é o número de embriões implantados. Não pode passar de quatro depois dos 35 anos. “Uma gravidez múltipla é de alto risco em qualquer idade e só piora com o passar do tempo”, afirma José Hiran Gallo, coordenador da Câmara Técnica de Reprodução Assistida. Em março, ele diz que se reunirá com especialistas para propor mudanças. “A resolução é omissa por não fixar limite etário”, diz. “Há clínicas tratando mulheres cada vez mais velhas.” A gestação em idade avançada pode trazer riscos à gestante e ao bebê.
O assunto é delicado. Caberia a alguma instituição governamental ou colegiado de profissionais decidir quando é tarde demais para ser mãe? Para os defensores da maternidade tardia, mesmo que os filhos percam os pais mais cedo, por volta dos 30 anos, essa idade é suficiente para eles serem independentes. “Não vejo egoísmo nem inconsequência”, diz a americana Sylvia Ann Hewlett, economista da Universidade Harvard, autora do livro Criando uma vida: mulheres profissionais e a busca por crianças. “A idade não muda a natureza zelosa de uma mãe”, diz.
Pesquisas mostram que ter pais mais velhos pode ser bom. Eles estão estabelecidos financeiramente (desembolsam cerca de R$ 20 mil a cada tentativa de engravidar) e oferecerão educação e assistência médica de qualidade. As crianças contariam com a atenção integral dos pais, já fora do mercado de trabalho, o que se traduziria em maior desenvolvimento cognitivo e segurança emocional. Um estudo da Universidade de Iowa, nos EUA, descobriu que quanto mais velha a mãe, melhor o desenvolvimento da criança em testes de linguagem e matemática. Seria mais um indício de que, além de não ter tamanho determinado, coração de mãe não tem idade?

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