Do O
Globo
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| imagem: mairarabassa.blogspot.com |
BAGSHOT,
Inglaterra - O secretário geral da Fifa, Jérôme Valcke, criticou duramente a
organização da Copa de 2014, no Brasil. Ele reclamou do atraso nas obras de
infra-estrutura nas cidades sedes e disse que o país está mais preocupado em
ganhar o Mundial do que em organizá-lo.
- As
coisas não estão funcionando no Brasil. Muitas coisas estão atrasadas - atacou
Valcke, que visitará o Brasil na próxima semana. - Acho que a prioridade do
Brasil é ganhar o Mundial. Não creio que seja organizar o Mundial - reforçou.
Segundo o
dirigente, faltam apoio e entusiasmo por parte das autoridades brasileiras para
finalizar os estádios e trabalhar a estrutura relacionada a hotéis e transporte
público.
- Não há
hotéis suficientes. Você tem mais do que o suficiente em São Paulo e no Rio,
mas se você pensa em Manaus, você precisa mais. Vamos dizer que joguem
Inglaterra x Holanda em Salvador. Onde os torcedores vão ficar? A cidade é
bonita, mas o modo de chegar ao estádio e a organização de transporte precisa
melhorar - alertou.
Valcke
também se disse frustrado pela demora na aprovação da Lei Geral da Copa. Na
terça-feira passada o texto base chegou a ser aprovado na comissão especial da
Câmara para tratar do tema, mas a aprovação acabou anulada, por uma questão
regimental. Por dois minutos, a sessão na comissão extrapolou o horário e
coincidiu com o início da Ordem do Dia no plenário, o que é vetado pelo
regimento da Câmara. Isso permitiu que um deputado levantasse questão de ordem
e pedisse a anulação da sessão. Nova votação deve ocorrer na semana que vem.
Depois ainda precisará passar no plenário da Câmara e ainda receber o aval dos
senadores.
A Lei
Geral da Copa é motivo de muita discussão entre governo e oposição. Mesmo entre
os governistas não há consenso sobre pontos considerados polêmicos. Os
principais são a venda de bebida alcólica nos estádios e a meia-entrada.
O relator
do texto, deputado Vicente Cândido (PT-SP), colocou no projeto a permissão para
a venda de bebida alcoólica, que teria ficado acertada com a Fifa quando da
candidatura do Brasil a sede do Mundial. Ministério da Justiça de que a
proibição de bebida nos estádios reduziu a violência após os jogos. Os
contrários à ideia argumentam que a probição reduziu o número de casos de violência
nos estádios. Para Cândido, proibir a venda durante a Copa mancharia a imagem
do país, que estaria desrespeitando um compromisso da época da candidatura na
Fifa.
Sobre a
meia-entrada, o texto proposto pelo relator prevê a venda de pelo menos 300 mil
ingressos populares para estudantes, idosos e beneficiários de programas de
transferência de renda do governo. E também garante o direito a idosos com mais
de 60 anos.
Outro tema
que gera controvérsia é a exigência da Fifa de que o governo brasileiro arque
com eventuais prejuízos à entidade máxima do futebol causados por desastres
naturais e atos de terrorismo. O relator incluiu isso no texto, mas afirmou que
caberá ao ministro-chefe da Advocacia Geral da União (AGU) dar um parecer com
sua interpretação sobre a questão. Ainda segundo Cândido, há diferentes
interpretações, mesmo dentro do governo, em relação à redação do projeto
original enviado à Câmara em setembro. Segundo o relator, o parecer da AGU será
apresentado à Fifa ainda durante a tramitação do projeto no Congresso.
VALCKE JÁ TINHA SUBIDO TOM DAS CRÍTICAS
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| imagem: corinthians1910.blogspot.com |
Em meados
de janeiro deste ano o secretário-geral da Fifa já tinha se queixado com mais
ênfase do que de costume. Após reunião com o ministro do Esporte, Aldo Rebelo,
e o conselheiro do Comitê Organizador Local da Copa (COL) e ex-jogador Ronaldo,
em Brasília, naquela ocasião, Jérôme Valcke disse que o país faz exigências
demais à Fifa.
- Só
porque vocês ganharam cinco Copas do Mundo, vocês acham que podem pedir, pedir
e pedir - declarou a jornalistas na ocasião, quando voltou a cobrar agilidade
na aprovação da Lei Geral da Copa.
O
dirigente tinha dado prazo até março para que o projeto se tornasse realidade e
pusesse fim às negociações que se arrastam há meses.
- Espero
que possamos fechar esse capítulo até março. O tempo está passando rápido como
nunca e a expectativa aumenta para todos nós - afirmou Valcke num comunicado
divulgado pela Fifa em janeiro.
A
expectativa do governo era conseguir aprovar a Lei na Comissão Especial da
Câmara em dezembro, mas diferenças sobre um artigo que determina a
responsabilização civil da União em caso de eventuais incidentes durante o
Mundial e a questão da venda de bebida alcoólica nos estádios na Copa adiaram a
votação para este ano.
Em
entrevista ao GLOBO em 2009, Valcke já manifestava sua preocupação com a
organização da Copa de 2014. Naquela época destacou dois pontos que considerava
cruciais para o sucesso do Mundial, ambos a ver com o fluxo turístico.
- A
principal preocupação em relação ao Brasil é aeroporto. Não há bons aeroportos.
Meu sentimento é que muita gente vai querer vir ao Brasil, em 2014. É um lugar
especial, um país magnifíco. Por isso, eu penso também que a coisa mais
difícil, o pior de conseguir, serão os ingressos. Esses dois pontos estão
ligados. Conheço muita gente que me diz que vir ao Brasil durante uma Copa do
Mundo é algo já marcado na agenda. Então, precisamos cuidar bem desses temas -
afirmou, no final daquele ano.


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