Audiência pública organizada pela
Comissão Nacional da Verdade (CNV) discutiu neste sábdo (23) o caso da
companhia aérea Panair do Brasil. A empresa perdeu a licença para voar em 10 de
fevereiro de 1965 e foi extinta pelo regime militar, sendo reabilitada em 1995.
O atual presidente da Panair,
Rodolfo da Rocha Miranda, filho de Celso da Rocha Miranda, um dos sócios da
empresa na época do fechamento, diz que somente após a criação da CNV e da Lei
de Acesso à Informação foi possível conhecer documentos, antes considerados
sigilosos, que comprovam a suspeita que se tinha sobre a perseguição política e
financeira.
“Essa documentação provou o que
se intuía, o que se comentava veladamente: Celso da Rocha Miranda e Mario
Wallace Simonsen sofreram perseguição por parte do regime militar por serem
identificados com os governos de Juscelino Kubitschek e João Goulart. Eram
documentos secretos, todos acusatórios de Celso da Rocha Miranda, que
posteriormente instruíram a Comissão Geral de Investigação do Rio de Janeiro,
do Ministério da Justiça, num processo aberto em 1969, visando o enquadramento
de Celso da Rocha Miranda no crime de enriquecimento ilícito”.
O jornalista e escritor Daniel
Leb Sasaki, autor do livro Pouso Forçado, sobre a história da Panair, lembra
que a empresa era a maior companhia aérea do Brasil na época, concessionária da
maior parte dos voos internacionais e uma rede nacional muito grande, além de
ter uma estrutura em terra que nenhuma companhia alcançou até hoje, com aeroportos
e uma área de telecomunicações aeronáuticas privada.
De acordo com ele, a Panair
recebeu por telegrama a notícia de que não podia mais voar e imediatamente foi
paralisada, sem aviso prévio ou direito de defesa.
A coordenadora do Grupo de
Trabalho sobre o golpe de 64 da CNV, Rosa Cardoso, explica que a audiência
sobre a Panair inaugura a linha de investigação sobre a perseguição a empresas
e empresários feita pelo regime militar.
“É muito valioso nós recordarmos
porque mostra a extensão das violações de direitos à vida durante a ditadura.
Violações que não se caracterizaram somente com assassinatos, sequestros,
desaparecimentos forçados, tortura, mas também uma ação contra empresas e
empresários que anteriormente haviam apoiado governos como o de Juscelino
Kubistchek, como é o caso da Panair, e também João Goulart”.
De acordo com ela, vão ser
chamados para uma reunião empresários e empresas que se sentiram perseguidos
para montar os casos e iniciar as pesquisas no Arquivo Nacional e em outros
acervos. Por enquanto, a comissão não tem nenhum outro caso concreto.
O coordenador da CNV, Paulo
Sérgio Pinheiro, afirma que a comissão trabalha com duas linhas de pesquisa
sobre as pessoas jurídicas na época da ditadura, que se complementam, para
compreender que interesses sustentaram a perseguição a certas empresas e
empresários e quem se beneficiou dessas práticas ilegais.
“Uma investiga as empresas e
empresários que deram suporte material ao regime, financiando equipes de
repressão, tortura, assassinatos, desaparecimentos em vários estados, tendo
sido beneficiados. E uma outra linha sobre empresas e empresários que sofreram
perseguições, intervenções do regime, como é o caso da Panair. Os motivos da
perseguição podiam variar desde um possível alinhamento ideológico de esquerda
até uma recusa em colaborar materialmente com o regime ditatorial. Tudo isso
precisa ser trazido à luz pela Comissão Nacional da Verdade”.
Ressaltando a importância de se
entender melhor a história do país, Pinheiro terminou sua exposição citando
Milton Nascimento e Fernando Brant: “descobri que a minha arma é o que a
memória guarda dos tempos da Panair”.
Amanhã (24), integrantes da CNC
participam do ato público pelo Dia Internacional pelo Direito à Verdade sobre
Graves Violações de Direitos Humanos, às 16h na Praça São Salvador, em
Laranjeiras, na zona sul.
Fonte: Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário