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Placas de vende-se e aluga-se colocadas nas casas e estabelecimentos comerciais de Águas Belas estão deixando o município com cara de abandono. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press |
As pacatas ruas da cidade de
Águas Belas, no Agreste de Pernambuco, são o cenário ideal para quem gosta de
tranquilidade. Com pouco mais de 40 mil habitantes, o município que fica a
aproximadamente 300 km de distância do Recife, conserva características de
pequenas cidades do interior. É comum encontrar pessoas sentadas na calçada de
casa e ver cavalos e jumentos circulando no centro da cidade.
No entanto, a seca que castigou e
segue castigando o Nordeste brasileiro tem feito muita gente bater em retirada
e deixar uma vida inteira para trás. Placas de vende-se e aluga-se colocadas
nas casas e estabelecimentos comerciais de Águas Belas estão deixando o
município com cara de abandono. “As pessoas estão indo embora por causa da seca
e da falta de oportunidades”, sentenciou a professora Ismailda Leite de Sá, 66
anos.
Nas duas últimas semanas, a
cidade que abriga cerca de cinco mil índios teve uma movimentação fora do
comum. A presença de várias viaturas policiais e carros da imprensa que
trabalhavam na investigação do assassinato do promotor Thiago Faria Soares, 36
anos, morto com quatro tiros de espingarda calibre 12, chamou a atenção da
população local.
Quem circulou pela cidade com um
olhar mais atento contou, no mínimo, umas 30 placas oferecendo os imóveis para
vender ou para alugar. “Isso é o reflexo da situação na cidade. Muita gente
perdeu o gado que tinha e não consegue plantar nada na roça por conta da seca.
A cidade sofreu muito com essa falta de água, o que fez algumas pessoas
deixarem suas casas”, relatou a aposentada Tereza Pereira da Silva, 75,
moradora da periferia de Águas Belas.
O agricultor José Francisco da
Silva, 48, chega a ficar até 15 dias sem receber água em casa. Para abastacer a
família, é obrigado a pegar água numa fonte da cidade, onde muitos
águas-belenses fazem o mesmo. “Venho buscar água todos os dias. Graças a Deus,
aqui nunca falta. A situação é muito triste nessa região. A gente não consegue
plantar nada e os bichos acabam morrendo de sede. Conheço pessoas que não
aguentaram o sofrimento e foram embora da cidade”, contou Francisco enquanto
abastecia seu reservatório.
Apesar do depósito estar pintado
com o valor de R$ 20, o agricultor garantiu que não comercializava a água. O
movimento em torno da fonte na praça é grande. As carroças chegam a formar
filas à espera da sua vez de pegar água.
Violência
Localizada numa área histórica de
conflitos entre famílias rivais, Águas Belas, já viveu anos de violência.
Moradores e policiais da cidade afirmam que hoje a violência está sob controle.
A rotina de tranquilidade, porém, foi quebrada com o assassinato do promotor
Thiago Faria, na cidade vizinha de Itaíba. Até esse final de semana, a polícia
havia registrado seis homicídios em Águas Belas. O último aconteceu na
madrugada da última quarta-feira, na área rural. Segundo a Secretaria de Defesa
Social (SDS), 14 pessoas foram assassinadas no município nos anos de 2012 e
2011.
Diario de Pernambuco
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