ESPERA DOLOROSA - Há três dias, Pernambuco aguarda, silencioso e
choroso, os restos mortais do ex-governador Eduardo Campos (PSB) para
prestar-lhe as últimas homenagens. Jornalistas de todo o País de plantão em
frente à casa da viúva Renata Campos buscam a notícia que todos esperam: a
liberação dos corpos pelo ML de São Paulo.
Mas não foi feita ainda a
conclusão da perícia e as notícias quanto a esse desfecho são lentas e
incertas, simplesmente porque o Corpo de Bombeiros, deslocado ao local desde o
momento em que se confirmou a tragédia, não encontrou quase nada dos sete corpos,
a não ser pequenos fragmentos de carne humana.
Minúsculos pedaços, em áreas já
bem distantes do local em que foram encontrados os destroços da aeronave.
Dentista de Eduardo Campos, Fernando Cavalcanti foi a São Paulo com a missão de
identificar a arcada dentária do ex-governador, mas voltou ontem de madrugada
chocado e abalado.
A arcada não foi encontrada e no
contato com os peritos viu apenas pequeninos pedaços do que restaram dos
corpos, achados, segundo ele, em 15 paredes de casas ao redor do local do
acidente. “São tão minúsculos que para se montar seria necessário fazer um
xadrez”, disse Cavalcanti.
A razão de tamanha demora reside
ai. Os bombeiros, por mais esforços que tenham feito, não conseguiram encontrar
pedaços dos corpos, mas miniaturas de carnes humanas. Como estavam a bordo sete
pessoas, parece humanamente impossível acelerar a identificação do
ex-governador, dos seus quatro assessores e dos dois tripulantes.
Identificação esta pelo DNA,
processo que naturalmente já é mais lento, imagine com restos mortais que são,
na verdade, miniaturas! Porta-voz da família, o prefeito do Recife, Geraldo
Júlio, teve que voltar, ontem, para São Paulo para se inteirar dos trabalhos de
perícia com o próprio comando do IML e mais do que isso com o governador
paulista Geraldo Alckmin.
Agora, é torcer para que possa
encontrar um quadro já definido, mas pelo que deixou a entender, na coletiva,
há pouco, em frente à casa da família Campos, não é certo o traslado para
amanhã dos restos mortais nem tampouco o sepultamento para o próximo domingo.
Tudo isso prorroga o sofrimento
da família, de Renata e seus filhos, da mãe Ana Arraes, do irmão Antônio
Campos, dos tios, que estão todos reunidos para confortar a viúva, enfim, leva
todos a um sofrimento que parece sem fim.
E todo sofrimento é dramático e
doloroso. Mas temos que encarar tudo isso com muita força e coragem, porque se
trata de uma verdade cristalina. E toda verdade assim é dolorosa, porque nela
mora o silêncio que existe em volta das palavras.
Para encarar tudo isso, absorver
a compreensão deste momento, é preciso ter muita sensibilidade e saber prestar
atenção. Prestar atenção ao que não foi dito, ler as entrelinhas. A atenção
flutua, toca as palavras sem ser por elas enfeitiçada.
Há muitas pessoas de visão
perfeita que nada veem. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser
aprendido! Mas não precisa ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso
também que haja silêncio dentro da alma. Por isso que Pernambuco está tão
silencioso, a espera de notícias da chegada dos restos mais do seu mais ilustre
filho.
DESFECHO – Em entrevista exclusiva, ontem, ao Frente a Frente,
direto de São Paulo, o governador João Lyra se mostrou otimista em relação ao
desfecho dos trabalhos de identificação dos restos mortais de Eduardo e das
demais vítimas da tragédia para hoje por volta de meio dia. Se tudo correr bem,
o traslado para o Recife será feito no final da tarde, estando o velório
previsto para o início da noite.
PARA ENTRAR NA HISTÓRIA – O velório de Eduardo deve atrair as
maiores lideranças políticas do País, da presidente Dilma ao ex-presidente Lula
passando por uma penca de governadores, além de Aécio Neves, candidato do PSB
ao Planalto, e Marina Silva, cotada para substituir Eduardo na corrida
presidencial.
CRATERA DE TRÊS METROS – Segundo relato que o governador João Lyra
Neto ouviu, ontem, em São Paulo, quando o avião que conduzia Eduardo a Santos
caiu o impacto foi tão grande que abriu um buraco no chão de três metros. O
maior pedaço da aeronave encontrado não tinha 15 centímetros. As cenas da
tragédia são de um filme verdadeiramente de horror.
UM GENTLEMAN! – Na entrevista exclusiva que deu ao meu programa,
João Lyra se rasgou em elogios ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB). “Ele foi de uma atenção excepcional. Ontem (quinta), estava às 22 horas
no IML acompanhando de perto o trabalho dos peritos e fez questão de nos dar
assistência em tempo integral”, contou.
AMARAL, O COMPLICADOR – As maiores resistências ao nome de Marina
Silva para substituir Eduardo Campos na corrida presidencial partem do
presidente Roberto Amaral (foto), que tem uma relação complicada com a
ex-senadora. Se os eduardistas não fizerem uma força-tarefa para dobrar as
resistências, o partido pode disputar com uma candidatura olímpica, como a de
Luiza Erundina.
CURTAS
SOLIDARIEDADE – O senador Humberto Costa, que na política estadual
está hoje no campo da oposição a Paulo Câmara, candidato lançado por Eduardo
para disputar à sua sucessão, esteve, ontem, na casa de Renata Campos para
transmitir sua solidariedade.
COBERTURA – Um fato lamentável, ontem, em meio ao clima de comoção
observado na casa da família Campos, foi o assalto a um grupo de jornalistas
nas proximidades da BR-101, quando saia do almoço em direção ao QG da Imprensa,
em frente à própria residência.
PERGUNTAR NÃO OFENDE: Marina vai conseguir superar as divergências
internas no PSB?
'O Homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, de repente
será destruído sem que haja remédio'. (Provérbios 29-1)
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