Desiludidos com propostas
apresentadas pelos candidatos à Presidência e desconfiados das promessas feitas
em palanques, 27,7 milhões de eleitores brasileiros não compareceram às zonas
eleitorais no primeiro turno. O número de eleitores que não foram às urnas foi
o mais alto desde o pleito de 1998. Somados aos 4,4 milhões que votaram em
branco e mais 6,6 milhões que anularam os votos, um total de 38,7 milhões de
eleitores preferiram não escolher um candidato à Presidência da República. Esse
número representa 29% dos 142,8 milhões de eleitores no país, quantidade
superior à votação do segundo colocado na disputa pelo Palácio do Planalto, o
senador Aécio Neves (PSDB), que recebeu 34,8 milhões de votos.
De acordo com dados do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) sobre o primeiro turno das eleições, o alto número de
eleitores que preferiram não participar da disputa em 2014 superou as
abstenções das últimas três eleições presidenciais. O maior número de pessoas
que não votaram em eleições em primeiro turno ocorreu em 1998, quando o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) buscava a reeleição. Naquele
ano, 21,5% dos eleitores não foram às urnas. Nas eleições seguintes, esse
percentual passou a cair. Em 2002, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) foi eleito para o primeiro mandato, a abstenção foi de 17,7%. Em
2006, quando Lula foi reeleito, o índice caiu para 16,7%. No entanto, em 2010,
quando Dilma venceu, as abstenções voltaram a crescer, chegando a 18,1%.
Para o cientista político do
Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) Carlos Eduardo Martins, a eleição deste ano tem muitas
semelhanças com o pleito de 2010, quando PT e PSDB disputaram no segundo turno
o apoio dos eleitores indecisos e daqueles que votaram em Marina Silva. Ele
avalia que na segunda etapa será importante também o comportamento de
militantes dos partidos da esquerda, que costumam se engajar muito nos momentos
decisivos das eleições. "As primeiras pesquisas mostram Aécio Neves
capturando uma parcela superior que José Serra em 2010."
Ele aponta que o aumento da
abstenção em 2014 está ligado a uma "frustração em relação ao que se
esperava dos governos petistas", mas ressalta que o PSDB pouco se
beneficiou com o cenário adverso do PT e o grande números de eleitores que
apoiaram uma terceira via deixa claro a insatisfação com as duas legendas.
DIVISÃO O analista político
Gaudêncio Torquato ressalta que normalmente os eleitores que seguem indecisos
para o segundo turno se dividem entre os candidatos, sem que apenas um deles
consiga conquistar completamente aqueles que não escolheram no primeiro turno.
Ele aposta que a divisão de classes sociais, que foi constatado na primeira fase,
se repita entre os indecisos, com a parte da população mais pobre se
identificando com a presidente Dilma Rousseff e os grupos mais ricos com o
senador Aécio Neves.
"O segundo turno é uma fase
mais objetiva, porque as pessoas podem comparar melhor os perfis de cada um. O
eleitor tende a confirmar aquele que escolheu no primeiro. E sobre os indecisos
ou que não votaram, é mais comum que cada parte se identifique com um lado. Não
acredito que esse 20% de abstenção continue. A tendência é de que uma motivação
maior das pessoas e de militantes influencie mais aqueles que estão
indecisos", analisa Gaudêncio.
Em relação aos votos nulos e
brancos, o TSE registrou novo aumento nos índices quando comparados com a
última eleição, em 2010. Em 1998, foram registrados os maiores índices de
brancos e nulos, com 8% e 10,6%, respectivamente. Os números caíram
significativamente na eleição de 2002, quando 3% dos eleitores votaram em
branco e 7,3% anularam seus votos. Em 2006, o percentual de brancos foi de 2,7%
e nulos 5,6%. Nas eleições de 2010, quando a presidente Dilma Rousseff (PT) foi
eleita, o número caiu ainda mais, com 2,5% em branco e 5,5% nulos. No primeiro
turno deste ano, os percentuais de votos brancos e nulos subiram para 3,8% e
5,8%, respectivamente.
O Maranhão foi o estado com o
maior índice de abstenção, com 23,6% dos eleitores deixando de comparecer às
urnas. O segundo estado com a maior abstenção foi a Bahia, também na região
Nordeste, onde 23,2% não votaram. Na outra ponta do ranking, o Amapá foi o estado
que registrou o menor nível de abstenção, com apenas 10,4% do eleitorado
ausente. Em seguida vem o Distrito Federal, com 11,6% de faltas no primeiro
turno. Em Minas, dos 15,2 milhões de eleitores aptos para votar, o número de
abstenções foi de 3 milhões - 20% do total.
Estado de Minas
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