Instituições laicas e católicas dissidentes questionam custos da visita papal |
Anelise Infante de Madri para a BBC Brasil
Como ocorreu em outras visitas do papa ao exterior, Bento 16 enfrentará o protesto de grupos contrários à sua visita à Espanha, que começa em Madri na quinta-feira.
Mais de cem instituições laicas e católicas críticas em relação o Vaticano, como os grupos Europa Laica e Ateísta, Associação de Livres-pensadores de Madri e Redes Cristãs, lideram a campanha que reclama dos custos do evento.
A campanha "Não com meus impostos" está convocando a população a se manifestar nas ruas durante os quatro dias da Jornada Mundial da Juventude, e promete levar cartazes para os trajetos por onde circulará o papamóvel.
O primeiro evento - que está sendo divulgado pela imprensa e redes sociais - acontece nesta quarta-feira, véspera da chegada do Pontífice. Será a passeata laica pelo centro da cidade, apoiada, segundo os organizadores, por cinco mil espanhóis, muitos deles teólogos, homossexuais, laicos, militantes e dirigentes de partidos políticos de esquerda e católicos de base (que seguem uma linha crítica em relação ao Vaticano e pedem diálogo sobre questões como o aborto, celibato e a participação de mulheres no clero).
Os manifestantes definiram como "escandaloso" que os custos da visita superem os 50 milhões de euros (cerca de R$ 115 milhões) e que o governo contribua com a metade destes gastos, além de conceder isenções fiscais a empresas que financiem os outros 50%.
Papa terá de enfrentar protestos durante todo o trajeto do papamóvel em Madri |
Lista humanitária
O grupo elaborou uma lista alternativa de situações onde acham que o dinheiro poderia ser melhor empregado, na forma de ajuda humanitária.
Nas propostas divulgadas para a população no chamado "Manifesto Democrático Não com meus impostos - para o Papa nenhum centavo", eles citam a fome na Somália e as mais de um milhão de famílias espanholas sem fonte de renda.
"Porque todos os cidadãos temos que financiar uma viagem de caráter privado por um evento que só atende a parte da cidadania?", questiona o manifesto.
O governo espanhol, que não tem publicamente uma boa relação com o Vaticano, desde que aprovou as leis do aborto e casamento gay, teve de se defender das acusações.
O secretário-geral do Partido Socialista e Ministro de Administrações Públicas, José Blanco, disse que "queixar-se num debate gastos-lucros não é justo".
Instituições laicas e católicas dissidentes questionam custos da visita papal
"Inclusive porque, fazendo as contas, estaríamos falando de um saldo líquido positivo, somando as arrecadações de impostos e taxas aeroportuárias", completou.
"O governo pede respeito para as ideias de quem vê o papa como uma referência, tanto quanto para os que criticam seus postulados e querem se manifestar".
Os homossexuais prometem ser outro ponto polêmico na visita de Bento 16.
Grupos que defendem direitos dos homossexuais estão convocando participantes para cerimônia de beijos gays no trajeto do papamóvel.
Além disso, os chamados Indignados, milhares de jóvens que acamparam nas praças espanholas repetindo os atos da primavera árabe, farão, na sexta-feira, a "Via Crucis alternativa": um protesto onde pretendem criticar os casos de violência sexual contra menores cometidos por sacerdotes.
Em alerta
Diante deste clima de confronto, a polícia está em estado de alerta por todos os eventos.
Nesta terça-feira, um mexicano ultracatólico foi preso em Madri, acusado de preparar um atentado contra os manifestantes que criticam a visita do Papa.
José Alvano Pérez Bautista, 24 anos, supostamente elaborou um coquetel químico para lançar sobre o público durante os protestos.
"Existia um risco evidente: era uma pessoa preparada e potencialmente perigosa. Precisamos averiguar se as ameaças eram reais", disse um porta-voz da polícia, que acrescentou que "depois do caso da Noruega, as precauções são altas".
3 comentários:
e no mais abortistas são nazistas disfarçados de gente.
por que nao foi publicado o retante dos meus comentarios? é censura?
Bento XVI é aclamado pelos jovens em Madri
18/08/2011 - 14h49
Terra
Às centenas de milhares, ao longo das avenidas, agitando bandeiras coloridas, atirando no papamóvel uma chuva de confete, jovens do mundo inteiro receberam com alegria o Papa Bento XVI nesta quinta-feira, em Madri.
"É uma prova de que a juventude católica é muito viva", comentou Jesus Godoy, um seminarista de 27 anos vindo da Venezuela para participar da Jornada Mundial da Juventude.
"Viva o papa", "Somos a juventude do papa", gritavam a seu lado jovens peregrinos, com camisetas coloridas e que, desde segunda-feira, deixam explodir sua fé nas ruas de Madri.
Sob um céu cinzento, a recepção a Joseph Ratzinger pelo rei Juan Carlos e a rainha Sofia foi calorosa: atrás deles, um grupo de crianças vestidas com roupas imitando a guarda suíça aplaudia e gritava, numa alegria transbordante.
No início da visita de quatro dias, Bento XVI pintou um quadro sombrio da sociedade ocidental: "os jovens veem a superficialidade, o consumo e o hedonismo reinantes, a banalização da sexualidade no momento de vivê-la, em meio a tanta falta de solidariedade, tanta corrupção!".
Bento XVI atacou a precariedade do emprego que faz com que "muitos olhem com preocupação o futuro", num momento em que a Espanha conhece uma taxa de desemprego juvenil particularmente elevada: 46,1% das pessoas entre os 16 e os 24 anos.
Ao chegar a Madri, o papa também defendeu uma economia regulada, privilegiando "o homem" em vez do lucro a qualquer preço, após incidentes noturnos entre policiais e defensores da laicidade do Estado, que denunciavam o custo do evento.
"O homem deve estar no centro da economia", "isso se confirma na crise atual. A economia não poder ser medida pelo maior lucro", declarou, antes de descer do avião.
O centro da economia não está no lucro, mas na solidariedade, havia dito antes, num momento em que planos de austeridade na Espanha e em outros países europeus tentam pôr um freio ao endividamento e à especulação, ao preço de um grande descontentamento social.
Nesta quinta-feira, dezenas de milhares de jovens, ao longo das avenidas em torno da praça Cibeles, no centro de Madri, aguardavam fervorosamente a cerimônia de boas-vistas prevista para o final do dia, com um espetáculo equestre e uma parada aérea.
Desde o começo da semana, a cidade está no ritmo da JMJ: avenidas engalanadas, ruas com o trânsito desviado nos grandes eixos, alto-falantes divulgando cantos religiosos e música pop.
Mas, ante a pompa da recepção e o custo da visita - 50,5 milhões de euros, segundo os organizadores - os defensores de um estado leigo se mobilizaram. Na quinta-feira à tarde, um coletivo de defesa de homossexuais e transexuais tentava se misturar à festa, protestando com uma sessão de beijos.
Na quarta-feira à noite, milhares de defensores da laicidade haviam se manifestado na capital espanhola, aos gritos de "sou pecador, pecador, pecador".
"Essas pessoas tentaram roubar meus pertences, dizendo que era tudo deles. Mas eu ajudei a pagar o evento", dizia Jesus Godoy, apontando para a mochila vermelha e laranja que cada peregrino recebe em troca do pagamento da inscrição. "Respondemos com a mensagem de Cristo, com uma mensagem de paz, com uma bênção", acrescentou o seminarista.
Joseph Ratzinger falou, por sua vez, da "imensa alegria" de presidir a JMJ, que descreveu como "uma brisa de ar puro e juvenil" que "enche de confiança o futuro da Igreja". A JMJ "é uma cascata de luz para mostrar a presença de Deus", disse.
Postar um comentário