Do Fantástico
As mensagens são passadas para seguidores do Brasil e outras partes do mundo. O lugar das supostas aparições é uma tranquila cidade no sul de Minas Gerais.
imagem: g1.globo.com |
Uma história intrigante no sul de Minas. Em Carmo da
Cachoeira, aparições de Nossa Senhora têm dia, hora e local marcados para
acontecer, com anúncios no rádio e na internet. Mas apenas um homem se diz
capaz de receber as mensagens da santa - um uruguaio que se apresenta como
"Frei Elias". O que está por trás desse mistério?
“Queridos filhos, oremos por todos aqueles que não acreditam na presença do meu
imaculado coração. Assim encontrará Deus, confiem no que estou dizendo”. Essas
seriam palavras de Maria, a mãe de Jesus, transmitidas por um uruguaio que se
diz vidente. Um jovem de 26 anos que garante ouvir e ver a Nossa Senhora.
“Hoje teve um detalhe diferente na aparição. O primeiro que se iluminou foi seu
rosto, era o rosto da mãe de Jesus da Virgem Maria. Ela dizia: eu amo vocês, eu
amo vocês, eu amo vocês”, conta Frei Elias.
As mensagens são passadas para seguidores do Brasil e outras partes do mundo. O lugar das supostas aparições é uma tranquila cidade no sul de Minas Gerais.
Carmo da Cachoeira tem pouco mais de 10 mil habitantes, de maioria católica. E,
desde setembro do ano passado, viu a rotina mudar com as supostas aparições da
Virgem Maria.
As visitas de Nossa Senhora são anunciadas em cartazes e até na rádio da
cidade. “A Nossa Senhora Aparecida estará aparecendo em Carmo da Cachoeira
novamente”, diz um radialista.
E, no dia da aparição, gente de todas as idades supera os limites, movida pela
fé.
Nos últimos cinco meses, a santa teria aparecido 17 vezes em Carmo da
Cachoeira. Nessas ocasiões, aparecem cerca de 1,5 mil pessoas.
De acordo com os membros da comunidade a santa anuncia a aparição com antecedência
e horário marcado. As últimas foram às 20h40, antes de uma cerimônia com
orações e cânticos.
Finalmente, chega a hora mais esperada.
“Momento de aparição, contemplemos com o coração”, reza Frei Elias.
E o vidente começa a transmitir as supostas mensagens da Virgem Maria.
“Queridos filhos, o mundo pode viver em paz, isto é possível”, continua o frei.
O Fantástico acompanhou o ritual durante três dias.
“Que encontrem sempre o meu caminho, que os levará até Cristo”, diz Frei Elias
Depois de receber as supostas mensagens, o homem que se diz vidente descreve as
imagens que teriam aparecido pra ele.
“Segurava um rosário e estava com sua mão encostada sobre o coração e o véu
voava”, descreve Frei Elias.
Quem está assistindo, não enxerga a santa.
“Você viu a santa?”, pergunta Paulo X.
“Você viu a santa?”, pergunta Paulo X.
“Não, mas eu senti”, responde a menina.
“Eu penso que cada pessoa sente de uma maneira, eu sinto no meu coração”, conta
Maria Alice Carvalho, membro da comunidade.
Frei Elias conta que as aparições começaram no Uruguai, quando tinha 5 anos de
idade. Na época, ainda frequentava a Igreja Católica.
“Chegou um momento em que não encontrava explicação para o que acontecia. Até
que conheci a Madre Shimani e ela começou a clarear um pouco mais o que estava acontecendo”,
revela o frei.
Madre Shimani, a orientadora de Elias, era líder de uma comunidade, chamada
Casa Redenção, em Salto, no Uruguai. “O centro espiritual não é ligado a
nenhuma religião”, diz ela. Mas, como na Igreja Católica, todos seguem uma hierarquia
e por isso se intitulam frei e madre.
“Nós cremos em Deus, é a energia que pode reconciliar os homens e todo
universo”, diz Madre Shimani.
Mas como Elias e Shimani chegaram ao Brasil? Eles contam que, depois de 13
aparições em Salto, no Uruguai, a santa teria feito um pedido: os próximos
encontros, deveriam acontecer aqui. E os dois teriam que procurar José
Trigueirinho Neto, um brasileiro mentor espiritual
da comunidade Figueira, que fica em Carmo da Cachoeira.
da comunidade Figueira, que fica em Carmo da Cachoeira.
A comunidade Figueira existe há 24 anos, tem ramificações em várias regiões do
Brasil e em países como África, Portugal e França. O líder trigueirinho tem
mais de 70 livros publicados sobre temas como evolução espiritual e vidas em
outros planetas.
“A comunidade é ecumênica. Ela tem uma relação interna com todas as religiões,
porque todas as religiões no fundo são uma só”, afirma José Trigueirinho Neto.
A comunidade de Trigueirinho segue regras rígidas de convivência. As pessoas
não têm acesso aos meios de comunicação. Homens e mulheres dormem em
alojamentos
separados. Para fazerem parte do grupo, muitos se desfazem de tudo.
separados. Para fazerem parte do grupo, muitos se desfazem de tudo.
“A gente era estável nos empregos, como servidores públicos. Abandonamos tudo,
por causa desta vida”, explica Gustavo Pacífico Cabral, ex-funcionário público.
Em Carmo da Cachoeira, são cerca de 400 seguidores. Alguns se arrependem de
largar tudo e ir para lá. O Fantástico conversou com ex-integrantes da
comunidade, que não quiseram se identificar. Pessoas que abandonaram a seita
por considerar a doutrina muito radical.
“Eu deixei família, emprego e fui morar lá. Fui percebendo que não era tão como
o livro transmitia, as mensagens como eles transmitiam. Todos eram forçados a
trabalhar cada vez mais, porque era um meio de domínio mental”, revela um ex
frequentador.
Outra mulher morou apenas seis meses na comunidade da Figueira. “Você tinha que
obedecer mesmo que você não concordasse”, descreve.
A Igreja Católica se posicionou em relação às aparições pedindo prudência aos
fiéis.
“Com todo respeito a essas pessoas que estão envolvidas nesse fenômeno, mas
creio que nós todos devemos ser mais sóbrios, mais prudentes em aceitar tudo
como sendo verídico, verdadeiro”, diz o Bispo Dom Diamantino.
As aparições dividem os moradores da cidade.
“Eu não vi nada”, diz uma moradora.
“Eu acredito sim, porque todo mundo fala que ela está aparecendo lá”, fala
outra.
“Vê quem quer, quem precisa ver. Eu não sei”, conclui um homem.
“Vê quem quer, quem precisa ver. Eu não sei”, conclui um homem.
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