Da revistaepoca
Ele acabou lotando as cadeiras do palco principal da feira para falar de uma experiência cativante com crianças indianas e computadores, e causou impacto ao afirmar que "professores podem ser substituídos por uma máquina. E o que pode ser substituído por uma máquina deve ser substituído", disse. A palestra ocorreu no início da noite desta terça-feira, dia 7.
Mitra é pesquisador e professor de Tecnologia Educacional da Newcastle University, na Inglaterra, e professor visitante do Massachusetts Institute of Technology, o prestigiado MIT, no Estados Unidos. Sua principal pesquisa foi o mote da palestra, intitulada "O buraco na parede... e além". O título se refere à experiência de colocar um computador preso dentro de uma parede, com acesso à internet, em um povoado pobre da Índia, sua terra natal.
"Entre 1999 e 2001, na Índia, havia muitas crianças sem acesso a computadores, e quase nenhum professor para ensinar informática", disse Mitra. Ele resolveu testar a reação das crianças ao aparelho sem a ajuda de professores, simplesmente colocando um no meio de uma favela indiana. Não havia ninguém para ajudar no uso, mas a máquina tinha monitoramento remoto. Estava equipada com teclado, mouse e o mecanismo de busca na web popular na época, o Altavista.
O resultado dos dados de navegação foi surpreendente. "Crianças que não sabiam inglês estavam surfando na web, ensinando umas às outras", disse o professor. Ao repetir a mesma experiência em uma comunidade ainda mais isolada, o resultado de dois meses foi uma demanda técnica das crianças. "Eles disseram que precisavam de um processador mais rápido e um mouse melhor", afirma Sugata Mitra.
Com os resultados impressionantes nas mãos, a equipe de Mitra conseguiu verba do Banco Mundial para prosseguir com a pesquisa, que foi replicada em outras cidades da Índia e da África do Sul. Além de dados, os computadores da nova fase também enviavam fotografias de quem estava usando a máquina e imagens da tela navegada, de dois em dois minutos. Para garantir que apenas crianças navegassem, o teclado e o mouse ficavam em uma caixa de madeira, com um buraco para caber apenas mãos bem pequeninas.
Até 2004, segundo Mitra, 1 milhão de crianças aprenderam sozinhas a usar o computador, em grupo, ensinando umas às outras. E aprenderam o básico de inglês, para poder se comunicar com o mundo. "Em apenas 9 meses, as crianças chegavam no nível de secretárias que trabalham com o computador", disse.
Atualmente, as pesquisas com crianças e computadores são aplicadas por Mitra em vários países, inclusive no Brasil. Na manhã antes da palestra, no dia 7 de fevereiro, o pesquisador visitou a Casa do Zezinho, um projeto social de educação para crianças de favelas da Zona Sul de São Paulo. A nova configuração do experimento é apresentar grandes questões às crianças e esperar pelo resultado das buscas em grupo.
A questão apresentada às crianças de São Paulo foi "Por que nós sonhamos?". Com apenas um dia de pesquisas, a resposta foi simples, mas surpreendente: "Sonhos são causados pela mente, e Sigmund Freud desvendou seus significados. Mas estudos recentes contestam as conclusões dele", disse Mitra, reproduzindo a resposta dos alunos.
Na polêmica teoria de Sugata Mitra, "o futuro da educação está na auto-educação", e o papel do professor do futuro seria o de apresentar questões que instigam a curiosidade das crianças, principalmente crianças com menos de 13 anos, mais abertas ao conhecimento e menos ligadas a questões como classes sociais. "A reação de crianças abaixo dos treze anos é exatamente igual em qualquer lugar do mundo", afirma o pesquisador. "O emprego dos professores não seria ameaçado. Seria diferente", afirmou.
Como um modelo de ensino tão polêmico teria lugar nas escolas? Segundo Mitra, a mudança precisa vir de baixo para cima. "Basta procurar as empresas de tecnologia e investir na banda larga nas escolas, e tudo vai acontecer naturalmente", diz Mitra, que já procurou o governo da Inglaterra para testar seu modelo, sempre sem sucesso.
imagem: revistaepoca.globo.com |
Um dos maiores especialistas do mundo em
tecnologias educacionais fala ao público da Campus Party 2012, em São Paulo,
sobre sua experiência com crianças que aprendem sobre o mundo apenas em
computadores, e ensinam umas às outras. Sugata Mitra, indiano radicado na
Inglaterra, veio à Campus Party 2012, no Anhembi Parque, em São Paulo, para
falar de um assunto tomado como "chato" por um público de jovens
nerds e seus potentes computadores: Educação.
Ele acabou lotando as cadeiras do palco principal da feira para falar de uma experiência cativante com crianças indianas e computadores, e causou impacto ao afirmar que "professores podem ser substituídos por uma máquina. E o que pode ser substituído por uma máquina deve ser substituído", disse. A palestra ocorreu no início da noite desta terça-feira, dia 7.
Mitra é pesquisador e professor de Tecnologia Educacional da Newcastle University, na Inglaterra, e professor visitante do Massachusetts Institute of Technology, o prestigiado MIT, no Estados Unidos. Sua principal pesquisa foi o mote da palestra, intitulada "O buraco na parede... e além". O título se refere à experiência de colocar um computador preso dentro de uma parede, com acesso à internet, em um povoado pobre da Índia, sua terra natal.
"Entre 1999 e 2001, na Índia, havia muitas crianças sem acesso a computadores, e quase nenhum professor para ensinar informática", disse Mitra. Ele resolveu testar a reação das crianças ao aparelho sem a ajuda de professores, simplesmente colocando um no meio de uma favela indiana. Não havia ninguém para ajudar no uso, mas a máquina tinha monitoramento remoto. Estava equipada com teclado, mouse e o mecanismo de busca na web popular na época, o Altavista.
O resultado dos dados de navegação foi surpreendente. "Crianças que não sabiam inglês estavam surfando na web, ensinando umas às outras", disse o professor. Ao repetir a mesma experiência em uma comunidade ainda mais isolada, o resultado de dois meses foi uma demanda técnica das crianças. "Eles disseram que precisavam de um processador mais rápido e um mouse melhor", afirma Sugata Mitra.
Com os resultados impressionantes nas mãos, a equipe de Mitra conseguiu verba do Banco Mundial para prosseguir com a pesquisa, que foi replicada em outras cidades da Índia e da África do Sul. Além de dados, os computadores da nova fase também enviavam fotografias de quem estava usando a máquina e imagens da tela navegada, de dois em dois minutos. Para garantir que apenas crianças navegassem, o teclado e o mouse ficavam em uma caixa de madeira, com um buraco para caber apenas mãos bem pequeninas.
Até 2004, segundo Mitra, 1 milhão de crianças aprenderam sozinhas a usar o computador, em grupo, ensinando umas às outras. E aprenderam o básico de inglês, para poder se comunicar com o mundo. "Em apenas 9 meses, as crianças chegavam no nível de secretárias que trabalham com o computador", disse.
Atualmente, as pesquisas com crianças e computadores são aplicadas por Mitra em vários países, inclusive no Brasil. Na manhã antes da palestra, no dia 7 de fevereiro, o pesquisador visitou a Casa do Zezinho, um projeto social de educação para crianças de favelas da Zona Sul de São Paulo. A nova configuração do experimento é apresentar grandes questões às crianças e esperar pelo resultado das buscas em grupo.
A questão apresentada às crianças de São Paulo foi "Por que nós sonhamos?". Com apenas um dia de pesquisas, a resposta foi simples, mas surpreendente: "Sonhos são causados pela mente, e Sigmund Freud desvendou seus significados. Mas estudos recentes contestam as conclusões dele", disse Mitra, reproduzindo a resposta dos alunos.
Na polêmica teoria de Sugata Mitra, "o futuro da educação está na auto-educação", e o papel do professor do futuro seria o de apresentar questões que instigam a curiosidade das crianças, principalmente crianças com menos de 13 anos, mais abertas ao conhecimento e menos ligadas a questões como classes sociais. "A reação de crianças abaixo dos treze anos é exatamente igual em qualquer lugar do mundo", afirma o pesquisador. "O emprego dos professores não seria ameaçado. Seria diferente", afirmou.
Como um modelo de ensino tão polêmico teria lugar nas escolas? Segundo Mitra, a mudança precisa vir de baixo para cima. "Basta procurar as empresas de tecnologia e investir na banda larga nas escolas, e tudo vai acontecer naturalmente", diz Mitra, que já procurou o governo da Inglaterra para testar seu modelo, sempre sem sucesso.
2 comentários:
Eu tenho alguns estudo feito nessa área, que particularmente me agrada muito.
Muito obrigado por disponibilizar essa matéria, gostei muito.
O texto toca em pontos chaves verdadeiros como:
"o papel do professor do futuro seria o de apresentar questões que instigam a curiosidade das crianças."
"O emprego dos professores não seria ameaçado. Seria diferente".
concordo plenamente, a sociedade mudou, as crianças pensam diferente do que os meus pais pensavam...
então como a didática usada naquele tempo daria certo hoje em dia?
como resultado vemos alunos desmotivados e professores mudando de profissão.
Oi Diego que bom que gostou da matéria!
Confesso que fiquei intrigada com o tema, porém, quando comecei a ler vi que a postura do ensino é que deverá ser mudada.
A questão salarial também é um fator desmotivante para o professor e em contato com alunos sem interesse, a troca de informações com certeza, fica prejudicada.
Tenho amigos e parentes que são professores e acompanho dos bastidores seus desencantos com a profissão. Talvez com a inserção nas escolas de tablets e o uso de novas tecnologias, alunos e professores consigam se harmonizar e busquem o interesse mútuos.
Um abraço! Walkíria Araújo.
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