O escritor, humorista e chargista Millor Fernandes durante
entrevista à Folha de S.Paulo em seu estúdio em Ipanema,
Rio de Janeiro, 2006
MAIS Ricardo Moraes/Folhapress
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Do G1 RJ
O escritor carioca Millôr
Fernandes morreu, às 21h desta terça-feira (27), em casa, no bairro de Ipanema,
na Zona Sul do Rio de Janeiro. Segundo Ivan Fernandes, filho do escritor, ele
teve falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca. Millôr tinha dois filhos,
Ivan e Paula, e um neto, Gabriel. Ele foi casado com Wanda Rubino Fernandes. De
acordo com sua certidão, Millôr nasceu no dia 27 de maio de 1924, embora ele
dissesse que a data correta era 16 de agosto do ano anterior.
De acordo com a família, o velório
está marcado para esta quinta-feira (29), das 10h às 15h, no Cemitério Memorial
do Carmo, no Caju, na Zona Portuária do Rio. Em seguida, o corpo será cremado
numa cerimônia só para a família.
Em 2011, o escritor chegou a ser
internado duas vezes na Casa de Saúde São José, no Humaitá, Zona Sul. Na época,
a assessoria do hospital não detalhou o motivo da internação a pedido da
família.
Nascido no bairro do Méier,
Millôr sempre fez piada em relação ao seu registro de nascimento. Costumava
brincar que percebeu somente aos 17 anos que o seu nome havia sido escrito
errado na certidão: onde deveria estar Milton, leu “Millôr” (o corte da letra
“t” confundia-se com um acento circunflexo, e o “n” com um “r”). Seja como for,
gostou do novo nome e o adotaria a partir de então. “Milton nunca foi uma boa
escolha”, comentaria anos mais tarde, durante uma entrevista. A data de
nascimento também não estaria correta: em vez de 27 de maio de 1924, ele teria
nascido em 16 de agosto do ano anterior.
Desenhista, tradutor, jornalista,
roteirista de cinema e dramaturgo, Millôr foi um raro artista que obteve grande
sucesso, de crítica e público, em todas as áreas em que se atreveu trabalhar.
Ele, que se autodefinia um “escritor sem estilo”, começou no jornalismo em
1938, aos 15 anos, como contínuo e repaginador de “O Cruzeiro”, então uma
pequena revista. Ele retornou à publicação em 1943 ao lado de Frederico
Chateaubriand e a tornou um sucesso comercial. Lá, criou a famosa coluna
“Pif-Paf”, que também teria desenhos seus.
Em 1948, viajou para os Estados
Unidos e conheceu Walt Disney. “Nessa época eu ainda acreditava que Disney
sabia desenhar. Só mais tarde, lendo sua biografia, aprendi que até aquela
assinatura bacana com que ele autentica os desenhos é criação da equipe”, provoca,
na autobiografia que escreveu em seu site. No ano seguinte, Millôr assinou seu
primeiro roteiro cinematográfico, “Modelo 19", e já foi logo agraciado com
o Prêmio Governador do Estado de São Paulo, criado na década seguinte.
O início dos anos 50 seria importante
na vida do autor, tanto pessoal quanto profissionalmente. Na companhia do
também escritor Fernando Sabino, fez uma viagem de carro pelo Brasil, com
duração de 45 dias. Em 1952, seria a vez da Europa, por onde permaneceria
quatro meses. Um ano depois, veria a estreia de sua primeira peça de teatro,
"Uma mulher em três atos", no Teatro Brasileiro de Comédia, em São
Paulo.
E foi no teatro, como dramaturgo,
que Millôr mais colecionou prêmios. Como em ”Um elefante no caos”, em 1960.
Anos depois, diria em seu site: “Foi transformada num excelente espetáculo pela
genial direção de João Bittencourt. Uma das poucas vezes que um diretor
melhorou um trabalho meu”.
Também no teatro foi um tradutor
prolífico e importante. Clássicos como “Rei Lear”, de William Shakespeare, a
moderna “As lágrimasaAmargas de Petra von Kant”, de Fassbinder, ou o musical
Chorus Line, de James Kirkwood e Nicholas Dante, chegaram aos palcos
brasileiros através de suas mãos. "Ao traduzir é preciso ter todo o rigor
e nenhum respeito pelo original”, diria em uma entrevista.
Roteirista
Como roteirista, escreveu mais de
uma dezena de textos, dentre eles o longa “Terra estrangeira”, e “Memórias de
um sargento de milícias”, adaptação da obra de José Manuel de Macedo produzida
pela Rede Globo de Televisão. Também roterizou espetáculos musicais, como o
musical “Liberdade liberdade”, escrito em parceria com Flávio Rangel, e “Do
fundo do azul do mundo”, ao lado de Elizeth Cardoso e do Zimbo Trio.
Recebeu uma homenagem durante o
carnaval carioca de 1983, quando foi samba-enredo da Escola de Samba Acadêmicos
do Sossego, de Niterói (RJ). Millôr, inclusive, compareceu ao desfile.
Dentre os veículos de imprensa,
colaborou ainda com artigos e crônicas nos jornais “O Correio Brasiliense”,
“Jornal do Brasil”, “O Estado de São Paulo”, “O Diário Popular”, “Correio da
Manhã”, “O Dia”, “Folha da Manhã” e “Diário da Noite”. Para internet, criou o
site “Millôr Online”, sobre o qual diria posteriormente: “Se eu soubesse o que
atrai tanta gente, nunca mais faria de novo”.
E, como bom roteirista, ainda
escreveria sobre a própria vida: "Meu destino não passa pelo poder, pela
religião, por qualquer dessas entidades idiotas. Meu script é original, fui eu
quem fez. Por isso não morro no fim".
Seu perfil no Twitter já contava
com mais de 285 mil seguidores.
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