Do NE10
imagem: ne10.uol.com.br |
A única
esperança para quatro pernambucanos portadores da Hemoglobinúria Paroxística
Noturna (HPN) está comprometida. Por determinação da Justiça, os pacientes
devem receber quinzenalmente três doses do medicamento Soliris (Eculizumab)
através da Secretaria Estadual de Saúde. O medicamento, importado pelo
laboratório Alexion e o mais caro do mundo, segundo pesquisa feita pela revista
norte-americana Forbes, custa ao bolso do portador cerca de US$ 410 mil somente
em um ano. A entrega milionária está atrasada há mais de dez dias. Sem a medicação,
os diagnosticados vivem em sofrimento constante.
Em 2011, o
problema foi ainda maior. Entre agosto e outubro, todos ficaram sem receber a
medicação. Por o Soliris não ser comercializado no Brasil e o agravante de ser
produzido apenas por um laboratório, a disponibilidade e compra do remédio é
precária. Na teoria, cada um dos pacientes deve receber de quinze em quinze
dias três vidrinhos de Soliris (30 ml cada). Aliado às doses, que devem ser
tomadas pelo resto da vida (ou até encontrar uma cura), o diagnosticado precisa
ingerir diariamente outros comprimidos, entre antibióticos e analgésicos. O
custo mensal fica em média de R$ 200.
A pedagoga
Auxiliadora Rattes, 43 anos, uma das pacientes que têm direito ao remédio,
descobriu a doença em 2009. Tudo começou com uma dor muito forte na perna.
"O sofrimento era tanto que eu nem conseguia sair da cama", revela.
Internada com uma embolia pulmonar, passou quase o ano todo sem sair do
hospital. O diagnóstico confirmatório só veio com a urina escura e a anemia
profunda. Mãe de três filhos, sofre com uma angústia sem fim. "Já estou
com o coração na mão. Sem a previsão, temos que ficar com as malas prontas para
ser internados no hospital", lamenta.
A paciente
reclama que falta organização na entrega. "A Secretaria de Saúde não tem
um programa de acompanhamento, sempre ficamos sem saber o que está
acontecendo". Quando questionou o porquê do atraso na entrega, Dona
Auxiliadora, conta, recebeu a resposta de que o documento de licitação foi
extraviado e que o prazo para nova entrega é de, no mínimo, 45 dias.
Para a professora Elizete Galvão, 57 anos, a situação é mais crítica. "A última vez que tomei o remédio foi em fevereiro. Quando fui pegar o de março, já não tinha mais para mim", reclama. Viúva e mãe de três filhos, sente o peso da abstinência na rotina. "Fico sem condições de trabalhar. Acordo sem energia, muito cansada e com dores abdominais fortes".
Outro
afetado pelo atraso no medicamento é o aposentado Severino Júlio da Silva, 45
anos. Há três dias, ele teve que ser internado. Ele estaria vivendo uma rotina
praticamente normal se estivesse em dia com a medicação. Dona Joana da
Conceição, esposa de Seu Severino, lamenta o preço do remédio fora de seu
alcance. "Se todos nós tivéssemos condições financeiras, jamais
passaríamos por isso. Agora temos que ficar apelando para um, para outro".
ENTENDA A DOENÇA - A HPN (Hemoglobinúria
Paroxística Noturna) é uma doença crônica e rara, que causa a destruição das
hemácias (hemólise) dentro dos vasos sanguíneos. A hematologista Joana Koury,
responsável pelo tratamento de três diagnosticados no Hemope, afirma que
antigamente muitos acreditavam que a hemólise só acontecia na parte da noite e
que os problemas fossem periódicos. "Hoje já se sabe que a destruição é
crônica, ou seja, acontece diariamente, tendo períodos exacerbados".
Caracterizada com um diagnóstico difícil, os principais sintomas são a fadiga intensa, espasmos no esôfago, dores abdominais, anemia profunda e a cor escura da urina. Se não tratada com regularidade, pode levar a disfunções em vários órgãos vitais, deixando os pacientes improdutivos. "O sacríficio é totalmente em vão quando há uma descontinuidade do tratamento com o Soliris", ressalta a especialista. A doença surge geralmente em jovens adultos.
De acordo
com a última estimativa da Associação Brasileira de HPN (ABHPN), cerca de 200
pessoas estão diagonosticadas com a doença no Brasil, mas apenas 56 estão
associadas. Em Pernambuco, o número é ainda desconhecido. Na América do Norte e
Europa, a enfermidade afeta de 8 a 10 mil pessoas.
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