terça-feira, 3 de abril de 2012

Obra mais famosa do artista Cícero Dias é mostrada pela primeira vez no Recife

Santander Cultural/ Divulgação
Apesar de ser a obra mais famosa do consagrado artista pernambucano Cícero Dias, o painel Eu Vi o Mundo... Ele Começava no Recife nunca havia sido mostrado em Pernambuco. Concluído em 1929, o quadro, que tem mais de 11 metros de extensão, pode ser visto pela primeira vez na capital com a exposição Zona Tórrida, em cartaz de terça a domingo no Santander Cultural (localizado em frente ao Marco Zero, no Bairro do Recife). A mostra está aberta ao público até 20 de maio, das 13h às 20h, com entrada grátis.

Além de Dias, a exposição apresenta obras (principalmente pinturas) de artistas nordestinos como José Cláudio, Vicente do Rego Monteiro, Lula Cardoso Ayres, Delson Uchôa, Montez Magno, Paulo Meira, Carybé e Bruno Vilela.

O crítico Mário Pedrosa conta, em um artigo publicado no catálogo da exposição, que a sociedade pernambucana não estava preparada para a pintura de Cícero Dias (1907-2003). Quem encabeçou a reação extremada foi, inclusive, um senhor que viraria nome de avenida: Mário Melo.

“As famílias burguesas perderam o sossego; homens sisudos e pequenos burgueses moralistas não compreendiam como é que se havia aberto o salão nobre da Faculdade de Direito, tão vetusta, guardiã das mais respeitáveis tradições, àquelas garatujas e monstros. Para a boa gente, Cícero era um pernambucano endiabrado, que se perdera em Paris em más companhias”, escreve Pedrosa. As pessoas queriam delimitações, determinações rígidas. Como podia um pintor intitular uma tela Ou mamoeiro ou dançarino? Tinha que ser uma coisa ou outra.



Logo na entrada da exposição, é a pintura de Dias que se impõe. “Na grande pintura de Dias - realizada sobre papel kraft, já indício de profanação do métier -, a luminosidade tropical se transforma em clareza do enunciado e, assim, se o pretexto inicial da obra era o de contar a história de Joaquim Nabuco, inevitavelmente metamorfoseou-se por uma enxurrada de imagens do cotidiano”, escrevem os curadores.

O próprio Dias explicou: “Tudo se mexia na minha cabeça. Imagens do começo da vida. Tantas coisas: mulheres, histórias fantásticas, escada de Jacó, as 11 mil virgens. Levaria todas essas imagens para dentro de um afresco?”.
Por conta dessa pintura, exposta no chamado Salão Revolucionário, Mário de Andrade, que era próximo de Dias, possuía dele treze obras, inclusive cartas ilustradas, reagiu. “Mário recalcou a obra com silêncio tácito, pois nela pode ter percebido uma oposição a seu projeto geopolítico, já que Dias configurava uma geografia excêntrica. Já em 1928, para o Mário ideológico, o problema de Cícero era não ser paulista, pois lhe faltava ‘bandeirismo: o longe vago buscado’”.

Na exposição, há o Cícero Dias das décadas de 1920 e 1930 e, na parede oposta, o da década de 1940. E ninguém diria se tratar do mesmo pintor. No óleo sobre tela Sem título, de 1948, o abstracionismo só não abocanhou o tronco do coqueiro, talvez a vara de bambu. “Já há o movimento, os ritmos formais. Só que, na última, ele já não precisa de um imaginário para falar que o ponto de partida dele é o Recife”, avalia o pesquisador Paulo Herkenhoff, que fez a curadoria da exposição ao lado da artista Clarissa Diniz.

Serviço

Zona Tórrida, certa pintura do Nordeste
Quando: De terça a domingo, das 13h às 20h, até 20 de maio
Onde: Santander Cultural (Avenida Rio Branco, 23, Bairro do Recife)
Quanto: Entrada franca
Informações: (81) 3224-1110
Com informações de Pollyanna Diniz, do Diario de Pernambuco

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