domingo, 8 de abril de 2012

XINGU, O FILME

O Globo por Susana Schild


imagem: scienceblogs.com.br

Se filmes sobre o cangaço geraram o nordestern brasileiro, “Xingu” aproxima-se do western americano, onde brancos aventureiros se embrenhavam por cenários inóspitos na conquista de novas terras. Para os cowboys de priscas eras, os peles-vermelhas eram inimigos a serem dizimados — e quanto maior o número de baixas, melhor (para o cowboy).



É nesse ponto crucial — na relação com os índios — que “Xingu” oferece uma guinada espetacular e emocionante. Os mocinhos da história, os irmãos Cláudio, Orlando e Leonardo Villas-Bôas, também enveredaram pelo Centro-Oeste mas, ao contrário dos similares americanos, lutaram, não com revólver, mas com poder de persuasão e articulação política, pela preservação física e cultural de várias nações indígenas.


Paulistas e brancos, os VillasBôas deixaram seus empregos em São Paulo nos anos 40 para integrarem a Expedição Roncador-Xingu, com a missão de desbravar o Brasil central. As filmagens em locações, em cidades de Tocantins e no Parque Xingu, a fotografia espetacular de Adriano Goldman, valorizando a exuberância da paisagem, a força da “atuação” dos figurantes, índios não atores de sete etnias, contribuem para a autenticidade da produção.

 

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Com direção de Cao Hamburger (“O ano em que meus pais saíram de férias”, “Castelo Rá-Tim-Bum” e da minissérie “Filhos de carnaval”) e produção de Fernando Meirelles (“Cidade de Deus”), “Xingu” aposta nos elementos de um épico para narrar a saga pioneira de uma família que cravou o nome na história da proteção ao índio brasileiro, sacramentada com a fundação do Parque Nacional do Xingu em 1951, um território do tamanho da Bélgica.


 
imagem: globofilmes.globo.com
Diferente do tom pessimista (e realista) de filmes como “Iracema, uma transa amazônica” (Orlando Senna, 1974), “Avaeté — Semente da violência” (Zelito Vianna, 1985) e “Serras da desordem” (Andrea Tonacci, 1985), “Xingu” investe no tom épico de uma trajetória de aventuras e idealismo. João Miguel, como Cláudio, confirma ser um dos maiores atores do país, enquanto Felipe Camargo, como Orlando, tem sua melhor atuação em cinema, e Caio Blat imprime intensidade ao caçula Leonardo. Já questões políticas são apenas apontadas, e coadjuvantes como Maria Flor têm presença pálida em uma história de pioneirismo cujos desdobramentos continuam até hoje e sob vários tipos de ameaça.

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