Da revistaepoca.globo.com por FELIPE PONTES
imagem: blogcarlossantos.com.br |
Quando era
um estudante de 21 anos, Stephen Hawking descobriu que sofria de esclerose
lateral amiotrófica, doença degenerativa que mata as células nervosas
responsáveis pelo controle da musculatura. Na previsão dos médicos, ele teria
alguns meses de vida, nos quais assistiria o corpo fugir progressivamente de
seu controle.
Contra
fortes evidências, apostou na vida – e se tornou protagonista de uma história
fantástica. Aos 70 anos, já se casou duas vezes, teve três filhos e três netos,
experimentou a gravidade zero num voo sub-orbital, acrescentou dados novos à
teoria da relatividade de Einstein e popularizou a ciência ao escrever livros
como Uma breve história do tempo (1988) e O universo numa casca de noz (2001).
“Não posso dizer que a doença foi uma sorte, mas hoje sou mais feliz do que era
antes do diagnóstico”, afirma, em entrevista a ÉPOCA.
ÉPOCA - O senhor de considera uma
pessoa de sorte, apesar de sua condição física. Por quê?
Stephen
Hawking – Eu não tenho muita coisa boa para dizer da minha doença, mas ela me
ensinou a não ter pena de mim mesmo e a seguir em frente com o que eu ainda
pudesse fazer. Estou mais feliz hoje do que quando era saudável. Tenho a sorte
de trabalhar com Física teórica, uma das poucas áreas em que a minha
deficiência não atrapalha muito.
ÉPOCA - O senhor acha que viveu até
hoje uma vida boa? Por quê?
Hawking –
Quando minha doença foi diagnosticada, nem eu nem meus médicos esperavam que eu
viveria mais 45 anos. Acho que meu trabalho científico me ajudou a seguir
adiante. Na primeira hora, eu fiquei deprimido. Mas a doença avançou mais
devagar do que eu esperava. Comecei a aproveitar a vida sem olhar para trás.
Minha doença raramente atrapalhou meu trabalho. Isso porque tive sorte de
encontrar a Física teórica, uma profissão em que minha doença quase não
atrapalha. Faço meu trabalho dentro da minha cabeça. Na maioria das profissões,
teria sido muito difícil.
ÉPOCA – Depois do diagnóstico, o
senhor pensou em abandonar a própria vida?
Hawking –
Eu acho que as pessoas têm o direito de encerrar a própria vida, se quiserem.
Mas eu acho que seria um grande erro. Não importa quanto a vida possa ser ruim,
sempre existe algo que você pode fazer, e triunfar. Enquanto há vida, há
esperança.
ÉPOCA – O senhor teme a morte? Por
quê?
Hawking –
Medo de morrer eu não sinto, se é essa a pergunta, mas também não tenho pressa.
Tem muita coisa que eu quero fazer antes.
ÉPOCA – O que o senhor ainda espera
da vida?
Hawking –
Todos nós vivemos com a perspectiva de morrer no fim. Comigo é exatamente
igual, a diferença é que eu esperava a morte bem mais cedo. Mais ainda estou
aqui. Antes de morrer, espero nos ajudar a entender o universo.
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