Brasília e Lisboa – A qualidade
da obra faz de Fernando Pessoa um dos autores mais festejados da língua
portuguesa, avalia Fernando Cabral Martins, professor da Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, um dos maiores especialistas
sobre o escritor.
“A grande poesia tem essa
capacidade. Os grandes poetas são todos atuais no sentido que interessam ao
leitor, a nós, da mesma maneira que interessaram aos que os conheceram à sua
época”, destacou Cabral Martins.
No caso de Pessoa, a existência
de textos inéditos alimenta o fascínio. “Há uma produtividade que parece
escapar às leis da natureza.
Apesar dos 125 anos [de nascimento], Pessoa
continua a publicar e, melhor ainda, vai continuar a publicar nos próximos
anos”, diz o acadêmico em referência ao espólio literário guardado na
Biblioteca Nacional de Portugal.
No acervo, estão guardadas 27.543
folhas de papel escritas por Fernando Pessoa, compradas por Portugal em 1969, e
mais 249 documentos também escritos pelo autor e adquiridos a partir de 1980.
Todo o conjunto foi digitalizado e estará disponível ao público em 2014.
A poesia do heterônimo Alberto
Caeiro, os originais do livro Mensagem e 29 cadernos de Fernando Pessoa
depositados na biblioteca já podem ser vistos e lidos na internet.
Grande parte dos papéis ainda
precisa ser estudada e classificada. Especialistas apontam que há textos sobre
diversos assuntos - desde astrologia à sociologia -, mas não sabem com exatidão
o que é de natureza literária e o que poderá vir a ser publicado.
A expectativa, no entanto, é que
não haja mais poemas desconhecidos. “Nessas coisas é melhor não sermos
categóricos, mas eu não creio que haja dentro do espólio poesia inédita”, opina
Fátima Lopes, responsável na Biblioteca Nacional de Portugal pelo Arquivo de
Cultura Portuguesa Contemporânea onde estão os papéis de Fernando Pessoa.
Segundo Fátima, a principal
dificuldade de identificação está na letra do escritor. “Há uma infinidade de
documentação que tem que ser estudada ao pormenor, por investigadores que
conheçam Fernando Pessoa e consigam ler a letra. Por vezes, é preciso um esforço
muito grande para conseguir decifrar a letra corrida”, diz.
Fernando Cabral Martins, que
pesquisou documentos originais do espólio literário, concorda com as
argumentações de Fátima Lopes. Segundo ele, “é difícil ler os manuscritos de
Pessoa”.
Cabral Martins ressaltou que as
letras do poeta são legíveis em determinados documentos. Em outros, no entanto,
pela rapidez com que escrevia, “torna-se um problema terrível de adivinhação”.
Assim como as dificuldades da
leitura, chama a atenção o caráter não sistemático das anotações. Em um mesmo
papel é possível ver desenhos e cálculos de mapa astral, anotações e
comentários do cotidiano, assim como apontamentos para incluir no Livro do
Desassossego em meio a rasuras.
“Ele era múltiplo na escrita e na
prática cotidiana”, explica Fernando Cabral Martins ao assinalar que além do
vasto repertório de assuntos, o escritor dos três heterônimos “era variado e
não obedecia a ideia de coerência. Ele não se sentia obrigado a dizer a mesma
coisa”.
Parte da obra publicada de
Fernando Pessoa no Brasil está disponível gratuitamente na internet nas páginas
do Domínio Público (Ministério da Educação): http://www.dominiopublico.gov.br.
Agência Brasil
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