Pesquisa realizada pelo Instituto
de Pesquisas Aplicadas (Ipea) com 3.810 brasileiros no ano passado apontou que
58,5% concordam que o estupro é culpa da vítima.
Os dados foram revelados nesta
quinta-feira (27) e fazem parte de um estudo sobre tolerância social à
violência contra as mulheres. O mais chocante: 66,5% dos entrevistados são
mulheres.
A roupa curta foi apontada como
grande "vilã" e, para 65,1% dos entrevistados, a mulher que usa essa
roupa "pede para ser estuprada". O estudo não se limitou apenas a
casos de estupro; também procurou saber o que os brasileiros pensam sobre
violência doméstica.
De acordo com o Ipea, 63% dos
entrevistados concordaram, total ou parcialemente, que casos de violência doméstica
devem ser discutidos apenas por mebros da família e não pela sociedade. Porém
91% afirmaram, total ou parcialmente, ser a favor da prisão do marido se ele
bater na mulher.
Batizado de Sistema de
Indicadores de Percepção Social (SIPS), o trabalho se baseou na entrevista de
3.810 pessoas residentes em 212 municípios no período entre maio e junho do ano
passado. O estudo alerta, no entanto, que é prematuro concluir, com bases
nesses dados, que a sociedade brasileira tem pouca tolerância à violência contra
a mulher. “Há uma ambiguidade do discurso”, afirmam os autores.
Dos entrevistados, 63% disseram
concordar com a ideia de que “casos de violência dentro de casa devem ser
discutidos somente entre membros da família”. Para autores, um número
significativo de entrevistados parece considerar a violência contra a mulher
como uma forma de correção. A vítima teria responsabilidade, seja por usar
roupas provocantes, seja por não se comportarem “adequadamente”.
A avaliação tem como ponto de
partida o grande número de pessoas que diz concordar com a frase "se
mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros". O trabalho
indica que 58,5% concorda com esse pensamento. A resposta a essa pergunta
apresenta variações significativas de acordo com algumas características.
Residentes das regiões Sul e Sudeste e os jovens têm menores chances de
concordar com a culpabilização do comportamento feminino pela violência sexual.
A pesquisa não identifica
características populacionais que determinem uma postura mais tolerante à
violência, de forma geral. Os primeiros resultados, no entanto, indicam que
morar em metrópoles, nas regiões mais ricas do País, ter escolaridade mais alta
e ser mais jovem aumentam a probabilidade de valores mais igualitários e de
intolerância à violência contra mulheres. Autores avaliam, porém, que tais
características têm peso menos importante do que a adesão a certos valores como
acreditar que o homem deve ser cabeça do lar, por exemplo.
MESMO SEXO - A pesquisa do Ipea
também revela que a maior parte dos brasileiros se incomoda em ver dois homens
ou mulheres se beijando. Dos entrevistados, 59% relataram desconforto diante da
cena. A relação afetiva entre pessoas do mesmo sexo também não tem uma
aceitação expressiva.
Das pessoas ouvidas, 41% disseram
concordar com a frase “um casal de dois homens vive um amor tão bonito quando
entre um homem e uma mulher” e 52% concordam com a proibição de casamento gay.
O levantamento identificou, no entanto, um avanço na aceitação do princípio da
igualdade dos direitos de casais homossexuais e heterossexuais. Metade dos
entrevistados concorda com a afirmação de que casais de pessoa do mesmo sexo
devem ter mesmos direitos de outros casais.
Do NE10
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