Imagem ilustrativa da Internet |
Franzino, ar sério, sem camisa e
de alpercatas no pé, Saulo (nome fictício) tem apenas 12 anos, mas já pilota
uma cinquentinha – veículo ciclomotor de até 50 cilindradas.
O menino ajuda o
pai numa oficina de Nova Descoberta, Zona Norte do Recife, levando veículos do
tipo para lavar, por uma via cheia de curvas, onde, além dos carros, passam
ônibus nos dois sentidos.
O pai alega não ter medo porque o percurso é pequeno.
Os números provam o contrário.
Em 2013, pelo menos 20 crianças
menores de 13 anos morreram em acidentes com as cinquentinhas no Estado,
segundo levantamento do Comitê de Prevenção aos Acidentes de Moto em Pernambuco
(Cepam). “É uma epidemia”, alerta o coordenador-executivo da entidade, o médico
João Veiga. “Fizemos a contabilidade até o último dia do ano, no IML, mas podia
haver pessoas internadas e esse número ser maior.”
O Cepam realizou pesquisas de
campo no Recife, Petrolina, Caruaru, Araripina e Ouricuri. “No interior a
situação é ainda mais grave. Flagramos meninos de 8 anos pilotando”, declara
Veiga. “Eles usam a motocicleta, sobretudo, para ir à escola ou trabalhar, a
maioria sem capacete. Há uma conivência dos pais, dos colégios, dos agentes de
trânsito.”
O médico informa que a Operação
Lei Seca será realizada também durante o dia, para fiscalizar as cinquentinhas.
“É tarefa dos municípios, mas estão adiando demais. Se não há placas, vamos
multar pelos chassis e apreender os veículos. Menores não podem pilotar.”
O Recife sancionou lei para
emplacamento e regularização das cinquentinhas em novembro, com previsão de
começar a aplicá-la em janeiro, mas até agora nem sequer publicou decreto
regulamentando-a. Sem isso, não há como identificar os proprietários e nem
mesmo a quantidade de veículos em circulação. Estima-se 150 mil.
A Companhia de Trânsito e
Transporte Urbano (CTTU) limitou-se a enviar nota informando que já finalizou a
redação do decreto e agora trabalha no ajustamento do sistema que fará o
cadastro. Não deu, contudo, previsão para iniciar o emplacamento e a fiscalização.
Até lá, Saulo e outras crianças
(o JC flagrou pelo menos três menores na Zona Norte ontem, um deles fazendo
piruetas arriscadas) continuam dirigindo sob os olhos de todos e a crença das
famílias de que nada vai acontecer. “Sei que é um crime, estou errado. Ele já
foi parado três vezes por policiais, com armas na cara. Mas só deixo porque é
pertinho”, disse o pai do garoto, que tem outro filho de 15 anos no serviço de
“piloto”.
Do JC Online
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