domingo, 13 de julho de 2014

O rock agora é sessentão

Imagem ilustrativa da Internet
Hoje é o Dia do Rock, criado há 29 anos, mas o gênero nasceu mesmo em 1954

O Dia do Rock, celebrado hoje, é uma efeméride a mais no calendário. Num dia 13 de julho, há 29 anos, aconteceu no estádio de Wembley, na Inglaterra, o Live Aid, um festival idealizado pelo roqueiro Bob Geldof (vocalista do Boontown Rats), a fim de arrecadar dinheiro para mitigar o sofrimento na Etiópia, onde a população passava por uma das maiores secas de sua história. Foi o maior evento do gênero até então.

Praticamente todos os grandes nomes do rock inglês e americano participaram do Live Aid, com shows dos dois lados do Atlântico (e também no Japão, na Austrália e na Rússia). Foi transmitido ao vivo pela TV, alcançando uma audiência de 1,5 bilhão de pessoas em 100 países. O baterista e cantor Phil Collins teria sido o autor da sugestão para que aquele data fosse, daí em diante, celebrada internacionalmente como o Dia do Rock.

Por coincidência, foi num dia 13 de julho que os Rolling Stones começaram. Mas a celebração do Dia do Rock hoje tem um a conotação especial. O rock ‘n’ roll, até agora ligado à juventude, como um Peter Pan que nunca saiu da fase adolescente, tornou-se sexagenário. Foi num dia 5 de julho de 1954, no estúdio da Sun Records em Memphis, Tennessee, que três caipiras, Elvis Presley, Scotty Moore e Bill Black, gravaram That’s all right, a primeira música que se pode chamar de rock ‘n’ roll. Uma mistura original de blues e country & western. Em lugar de copiar ou tirar arestas e embranquecer a canção, Elvis fez dela uma coisa nova.

Numa região em que negros e brancos viviam em segregação, o que à ótica de hoje parece algo quase banal, há seis décadas era subversão e revolução ao mesmo tempo. Em 17 de maio de 1954, dois meses antes do disco de Elvis Presley That’s all right chegar às lojas, com selo da Sun Records, a Suprema Corte dos Estados Unidos declarou contrária à Constituição a segregação nas escolas, como era a praxe no Sul dos EUA. Uma decisão iniciada pela citação judicial à administração escolar de Topeka, capital do Kansas, pelo cidadão negro chamado Oliver Brown, indignado com o fato de sua filha não poder ser aluna de uma escola próxima à sua casa, que só aceitava alunos brancos. A decisão da Supremo Corte derrubou o princípio de “escolas iguais, porém separadas”.

A segregação musical também existia. Gravadoras criaram os chamados “race records”, discos direcionados ao consumidor negro. Pode-se acabar com segregação por decretos, mas racismo, não. Em 18 de julho de 1957, a censura suspendeu um programa de TV de grande audiência, The big beat, de Alan Freed, o homem a quem se atribuiu ter dado o nome rock ‘n’ roll à nova música. A suspensão deveu-se a Frankie Lymmon, um negro, líder do grupo The Teenagers, ter ousado dançar diante das câmeras com uma moça branca.

CENSURA

Em 1956, ano em que Elvis Presley foi contratado pela RCA e catapultado a ídolo internacional como Rei do Rock ‘n’ Roll, o Conselho de Cidadão de Nova Orleans distribuiu um panfleto incitando a população branca a não permitir o filhos consumirem “discos de negro”: “Os gritos, as letras idiotas e a música selvagem desses discos enfraquecem a juventude branca da América. Liguem para os locutores das estações de rádio que difundem esse tipo de música e reclamem. Não deixem seus filhos comprarem ou ouvirem esses discos de crioulos”, diz o panfleto, que tem o título de Ajude a salvar a juventude da América.

A citação às emissoras de rádio, porque elas foram importantes agentes na derrubada de barreiras segregacionistas. Os DJs (disc-jockeys) não atendiam aos pedidos de separação de raças na música. A mistura de negros e brancos que programaram foi de uma influência marcante.

Enquanto guiavam os automóveis dos pais à noite, com a turma ou a namorada, o jovem sintonizava as emissoras onde se tocavam rock e rhythm & blues, Elvis Presley e Fats Domino, Gene Vincent e Little Richard. Uma emissora de ondas potentes como a WLAC, de Nashville, por exemplo, que tocava country & western e blues desde 1946, alcançava o país inteiro.

Jornal do Commercio.

Nenhum comentário: