Imagem ilustrativa da Internet |
O Banco Central quer estimular o
uso dos cartões de crédito e débito em transações de maior valor, como a compra
de veículos e imóveis. Em sua primeira avaliação sobre a indústria de cartões
desde que passou a regular o setor, há um ano, o BC mandou esse recado ao
setor, segundo apurou o “Estado”. Espera-se que o setor privado incorpore essa
“dica” em seu negócio. Se não houver sinais de melhoria nos produtos e
serviços, o BC pode lançar novas normas que têm de ser seguidas pelas empresas.
No documento, publicado em julho,
o BC avalia que, apesar da forte utilização de meios eletrônicos em transações
de baixo valor, principalmente dos cartões, o cheque ainda é a principal forma
de pagamento em valores mais elevados. Isso ocorre, diz o Relatório de
Vigilância do Sistema de Pagamentos Brasileiro, porque a decisão de aceitar
cartões é baseada em um porcentual sobre o valor do bem ou serviço. No caso de
cheques, o custo independe da quantia expressa no papel.
“O BC incentiva a indústria a
buscar soluções que colaborem com o objetivo de promover a redução da
utilização de instrumentos baseados em papel, que carregam pesados custos para
o próprio mercado, bem como para a sociedade, principalmente nas transações de
altos valores unitários”, diz o relatório.
Como a prática, hoje, é cobrar um
determinado porcentual sobre a venda, essa taxa inviabiliza o pagamento com o
plástico em caso de produtos e serviços mais caros. O BC lembra que boletos,
DOC e TED bancários poderiam ser alternativas, mas não caíram no gosto do
consumidor. “As transferências de crédito não se mostraram como instrumentos de
conveniência satisfatória, principalmente em transações presenciais, que os
tornassem atrativos como forma de liquidação de grandes valores, como por
exemplo, na compra de veículos e imóveis. Assim, ante a falta de alternativas,
essas operações ainda utilizam amplamente o cheque.”
Dados do “Sistema de Pagamentos
de Varejo no Brasil” revelam que as operações com cheques recuaram 35% em
quantidade entre 2007 e 2013. Nesse mesmo período, houve uma alta de 62% nos
valores médios dos cheques. As transferências de crédito (TEDs e DOCs)
cresceram 33% e as transações com cartões, apenas 12%.
Lojas
A demanda também é do comércio. O
presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque
Pellizzaro Junior, diz que o ideal é que o cartão de débito deixasse de ter um
porcentual sobre o preço do produto e houvesse uma taxa fixa nos casos de bens
de maior valor. “Estamos pleiteando uma tarifa fixa por transação”, diz.
A mudança não é tão fácil, alega
o diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito
e Serviços (Abecs), Ricardo Vieira. “Esse primeiro relatório do BC externa o
pensamento do regulador e existem lacunas que todos temos de tentar completar
pela frente”, diz. “Mas a discussão é complexa.”
Segundo a Abecs, o tíquete médio
das compras de cartões de débito no Brasil é de R$ 43,50 e determinar um valor
fixo sobre essas operações poderia inviabilizar os pagamentos de produtos mais
baratos. “Isso vai na contramão do que se deseja, que é ampliar o uso dos
cartões, pois acabaria impedindo a utilização do cartão em compras de menor
valor. Na média, a receita com as operações tem de ser suficiente para todo
mundo”, diz Vieira.
O relatório do Banco Central
também ressalta o “alto potencial” dos pagamentos móveis, como aqueles feitos
via celular. O modelo adequado para o País, porém, deve ser inovador, e não
limitar-se ao uso em negócios já existentes. “Isso permitiria trazer novos benefícios
para a sociedade, como aumento da conveniência, segurança, e qualidade do
serviço”, avalia o BC.
O banco cita modelos de
pagamentos onde o comércio receba os valores em tempo real em sua conta, por
exemplo. O mesmo ocorreria em um pagamento pessoa a pessoa. “O BC incentiva que
a indústria avalie a possibilidade de criação de um arranjo de pagamento, de
amplo acesso às instituições de pagamento e instituições financeiras detentoras
de contas de depósito ou de pagamento em nome de clientes, que possibilite a
realização de transferências de varejo de forma ininterrupta e em tempo real a
um custo razoável.”
Estadão Conteúdo
Nenhum comentário:
Postar um comentário