quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Anvisa ameaça proibir inibidores de apetite e endocrinologistas reagem

Adriana Correia é um exemplo de determinação que pode ser considerado um pivô do embate travado entre endocrinologistas e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Aos 43 anos, ela, que é chefe de taquigrafia na Assembleia Legislativa de Pernambuco, decidiu mudar de vida há 6 meses e, hoje, perdeu um terço de seu peso, o equivalente a 30 quilos. “Sempre fui muito ansiosa. Chegava a tomar dois litros de refrigerante durante a madrugada. Não conseguia me controlar. Hoje sempre me perguntam por que não assumo ter feito cirurgia de redução de estômago”, brinca.

Mas não, não se trata de mais um caso de paciente de cirurgia de gastroplastia, mas de alguém submetido a dietas, exercícios físicos e, claro, anorexígenos anfetamínicos, como são chamados os clássicos inibidores de apetite. Compostos a base de sibutramina, anfepramona, femproporex e mazindol as drogas correm o risco de desaparecer, com ou sem receitas médicas, das prateleiras de farmácias de todo o país. A decisão será discutida na próxima quarta-feira (23), em audiência pública proposta pela Anvisa para determinar o cancelamento dos registros deste tipo de medicamento, tendo em vista os possíveis efeitos colaterais aos quais o paciente fica exposto durante o tratamento.

O problema é que de acordo com alguns médicos endocrinologistas, a medida vai de encontro com o progresso que vem sendo desenvolvido há dezenas de anos no tratamento da obesidade. Para Luciano Teixeira, somente um dos exemplos, se aprovada, a medida representa uma tragédia que pode comprometer o tratamento de obesos. “Seria uma tragédia. Hoje já se sabe que obesidade é uma doença. Ninguém é gordo porque quer. Comer compulsivamente, com fome exagerada ou alimentos não apropriados é apenas alguns dos sintomas. Dizer a uma pessoa dessa que a única opção que ela tem é simplesmente fechar a boca e subir em uma esteira é pedir para que o tratamento acabe não sendo eficiente”, defende.

Segundo nota divulgada pela Anvisa, de acordo com parecer da Câmara Técnica de Medicamentos (Cateme), de 26 de outubro do ano passado, estas substâncias apresentam baixo coeficiente de efetividade de redução de peso e pouca manutenção da mesma em longo prazo. Em outros casos, haveria indícios de aumento de risco cardiovascular entre todos os seus usuários ou mesmo possibilidade de comprometimento cardiopulmonar ou do sistema nervoso central.

De acordo com Teixeira, as drogas produzidas no Brasil não são as ideias, justamente por conta de efeitos colaterais, mas que, sem dúvidas, os benefícios apresentados por elas no tratamento da obesidade superam os custos. “O que precisamos é de mais opções para realizar um acompanhamento clínico com o uso de medicamentos, não de ficar sem opções. O brasileiro quer imediatismo, sem pensar nas consequências, por isso, o que deve preocupar a Anvisa são fórmulas irreponsáveis com diuréticos, hormônios tireoidéticos e anorexígenos, não as drogas já legalizadas e consideradas clássicas neste tipo de tratamento”, conclui.
A sibutramina é uma substância que já foi retirada de mercados como o americano, depois da publicação do polêmico estudo Scout, que apontou uma mortalidade 1,5% maior entre usuários da droga e de um placebo. No entanto, o conteúdo do mesmo é contestado em outros países por conter, entre os pacientes submetidos à avaliação, por exemplo, idosos, hipertensos ou pacientes pós-cirurgicos, que, por definição, compõem grupos contra indicados para o uso da droga. No Brasil, a substância, até então, estava liberada, com o consentimento da Associação Brasileira de Estudos Sobre a Obesidade (Abeso).

No mundo, a doença já subiu da décima posição entre os motivos de mortalidade, em 1994, para a sétima, em 2010. Para se ter uma ideia, estudos indicam que todos os tipos de doença atacam com mais gravidade os obesos, que chegam a representar até 80% dos afetados por diabetes mellitus e são acometidos até mesmo, acredite, por um maior número de acidentes automobilísticos.

Em recente pesquisa publicada na revista americana de saúde, New England, ficou comprovado que para cada cinco pontos de elevação de Índice de Massa Corpórea (IMC), os riscos de morte são multiplicados em até 31%. A partir do sobrepeso, para pacientes com IMC entre 25 e 29,9, o grau de mortalidade sobe 13%. Para os superobersos, entre 40 e 49,9, o risco chega a 251% a mais do que uma pessoa de peso ‘normal’.

Chat – Para tirar dúvidas sobre os inibidores de apetite, tratamentos de endocrinologia e sobre os possíveis efeitos colaterais destas drogas, o que motivou a proposta da Anvisa, o Pernambuco.com traz, amanhã, às 11h, o médico Luciano Teixeira para um chat com os internautas. Participe!

Por Ed Wanderley
Diario de Pernambuco

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