Ele começou como observador técnico de Parreira na Copa do Mundo de 94. Depois migrou para o futebol feminino, onde em treze anos no comando do supertime do Santos, ajudou a projetar não só as sereias, mas o próprio futebol brasileiro no cenário mundial. Hoje no comando técnico da Seleção Brasileira Kleiton Lima é um dos principais nomes do futebol feminino no país. Na última segunda segunda-feira (16) ele desembarcou em Pernambuco para conhecer o comentado trabalho do Vitória na modalidade e falou ao site do Tricolor das Tabocas de como ele vê o futebol. Confira:
Luciano S. – No primeiro ano, o Vitória conquistou o título Estadual e representou de forma honrosa Pernambuco na Copa Brasil, ficando entre as oito melhores equipes do país. Para chegar a estes resultados o clube disponibiliza para as meninas toda estrutura que é dada aos profissionais. Como você vê esse trabalho do Vitória?
Kleiton Lima – É um trabalho importantíssimo, primeiro porque é da quantidade que a gente tira e extrai a qualidade. Um trabalho como este com quase 40 atletas, meninas jovens, a maioria delas com 15, 16, 17 anos, tendo a oportunidade de ter uma condição de trabalho, de poder treinar todo dia, de ter uma estrutura profissional de um clube que oferece isso a elas é importantíssimo.
A gente sabe que o Brasil carece de trabalhos como este, estamos longe do ideal. Fico feliz porque aqui no Vitória, através de um presidente atuante que dar o valor necessário a modalidade, da o valor necessário a suas atletas. Isto faz crescer e massificar o futebol feminino. Com iniciativas como esta, podemos ter cada vez mais a matéria prima sendo trabalhada, sendo realmente extraída dos focos de grandes clubes, ou de clubes profissionais que dão oportunidade a elas.
Luciano S. - Você é uma das pessoas que mais contribuiu no intuito de consolidar o futebol feminino no país, antes no Santos e hoje na Seleção Brasileira. Qual o caminho que os clubes devem percorrer para que o futebol feminino tenha a mesma visibilidade e consiga atrair os mesmos incentivos e investimentos do masculino?
Kleiton Lima - O problema do futebol feminino hoje nos clubes, é que o clube quer o retorno imediato e o futebol feminino não é uma modalidade ainda rentável no país, quando se trata de venda de jogadores. Você não comercializa as jogadoras de futebol, já o garoto com 16 anos 17 anos você pode comercializar e o clube pode ter uma renda própria. Mas isso se corrige com organização e planejamento.
O Santos começou um trabalho a longo prazo e chegou no ano de 2007, onde o Modesto (Modesto Roma, ex-supervisor de futebol do Santos)profissionalizou o departamento, criou perspectivas de se auto-sustentar, com investidores, com patrocinadores, trouxe a criação de um departamento de marketing, de publicidade, de assessoria de imprensa, com todos os profissionais adequados para o momento.
Hoje o clube tem um departamento que se sustenta com as maiores jogadoras do país, tanto é que, tem oito delas na Seleção Brasileira e consegue ter uma Marta, uma Cristiane, Maurine; jogadoras que já são negociadas lá fora, mas estão no Brasil, por causa desse trabalho que foi idealizado por eles. Falta isto, falta o clube dar uma oportunidade para que as atletas do futebol feminino tenham espaço. Enquanto isso não acontecer, a gente vai ficar ainda refém de só dar valor nos momentos de uma pré-Copa do Mundo, ou uma pré-Olimpíada. A gente está aqui para tentar fazer melhorar de alguma forma. Eu vejo o trabalho do Vitória como uma das exceções do restante do Brasil, porque é um trabalho que valoriza a modalidade.
Luciano S. - Você tem uma larga experiência trabalhando com o futebol feminino, no Santos foram 13 anos, além da Seleção Brasileira. Como você vê o futuro da modalidade, tanto no país, como em nível mundial?
Kleiton Lima - Em nível mundial, hoje é uma realidade. Recentemente jogando fora com a Seleção, em países como Alemanha e Suécia, na Europa e na Coréia, na Ásia, e a gente vê lá os clubes totalmente profissionalizados nos departamentos de futebol feminino.
Jogamos contra a Alemanha, num amistoso com 48 mil pessoas. Os ingressos todos da Copa do Mundo já estão vendidos, a estreia do Brasil é superlotada, isso demonstra que a evolução lá fora é ainda muito maior do que a evolução que acontece aqui em nosso país, que é uma evolução mais sorrateira.
O Brasil precisa abrir um pouco mais os olhos para a modalidade. A gente só lembra do futebol feminino quando chegamos numa competição importante com chances de ser campeão. Isso é muito pouco, a gente começa a dar o valor pra essas meninas quando começa os ciclos, desde o final de um trabalho e em seguida o inicio de um novo trabalho para que a gente possa ter um futebol feminino mais forte. A gente ainda ta caminhando lentamente pra isso, mas estamos aqui pra da um injeção de velocidade nisso, contribuindo com o nosso trabalho, com nossa visão e dando um pouquinho do know hall para que essa evolução possa acontecer o quanto antes.
Luciano S.- Você acha que essa mudança deveria iniciar com as diretorias dos clubes, dos dirigentes, com os presidentes dos clubes. Como podemos chegar nesse nível de organização de outros países e de outros continentes?
Kleiton Lima – Falta isso, porque o futebol brasileiro ele geralmente é gerenciado ou administrado por pessoas que não que não tem essa cultura. O futebol é masculino, o futebol é jogado pelos homens.
Já na Europa, nos Estados Unidos, na Ásia, a mulher ela é tratada como uma atleta normal do futebol. A mãe jogou bola então ensina a filha a jogar bola, o pai educa a menina, e ela também vai poder optar pelo futebol, é uma questão de cultura e os dirigentes brasileiros não tem essa abertura de mente.
Talvez seja necessário, uma geração toda morrer, pra nascer agora uma geração mais jovem, como uma condição de enxergar o futebol praticado pelas mulheres.
O presidente Paulo, aqui do Vitória, já tem essa visão, por isso que ele está abrindo um espaço pra elas e eu acho que é a visão do futuro. Mais cedo ou mais tarde isso vai acontecer. Tomara que seja abreviado esse período para que a gente possa com pouco tempo ver as meninas tão valorizadas quanto os homens.
Luciano S. – A gente sabe que o futebol feminino não ocupa a capa dos jornais e os patrocinadores podem questionar que não há visibilidade como no futebol masculino. Em curto prazo qual é saída para essas questões?
Kleiton Lima – os times, primeiro, tem de estar organizados, criar departamentos que possam correr atrás. Um exemplo é o Santos. O que o Santos fez? Eu sei porque participei desse processo todo, junto com o Modesto.
A gente tinha um time bom, um time competitivo, mas também era um time anônimo, com jogadoras anônimas, porém, com talento. Primeiro que, se você não tiver o talento, você não faz nada. Talento são elas, as atletas, depois vem a organização e o planejamento. Aí você cria departamentos para buscar recursos e depois você começa a ter visibilidade com as conquistas, com o Estadual, com competições como a Libertadores da América, uma visibilidade através da própria Seleção Brasileira, onde você coloca uma atleta para disputar medalha numa olimpíada ou num Panamericano. Com essas ações você acaba atraindo um marketing positivo e você tem departamentos criados por pessoas que saibam explorar essa imagem vitoriosa da modalidade e consegue se auto-sustentar. Isso é o que falta aos clubes do país, mas os clubes não querem esse comprometimento.
Texto e fotos:
Luciano S. Abreu,Assessoria de Imprensa
Luciano S. Abreu,Assessoria de Imprensa
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