domingo, 25 de setembro de 2011

Quem não tem tempo, fala sobre ele...

Com a despropriedade de quem não tem propriedade alguma para filosofar, gostaria de divagar um pouco sobre o tempo e como nos relacionamos com ele.

O que é o tempo? É uma pergunta que sempre inquietou muita gente; por isso, muitos foram os que tentaram respondê-la. Aristóteles, por exemplo, definiu o tempo como “o número [ou a medida] do movimento segundo o antes e o depois”. Agostinho de Hipona, mais conhecido como Santo Agostinho, foi mais cauteloso e disse o seguinte sobre o tempo: “Se ninguém me perguntar, eu sei o que é o tempo. Mas se alguém me pergunta, eu não sei o que dizer”.


Estes dois exemplos bastam para nos dar uma idéia de como é difícil responder à pergunta sobre o tempo. Percebemos o tempo, estamos inseridos nele, mas isso não nos diz nada sobre ele nem nos aquieta. Costuma-se, para melhor falar sobre o tempo, dividi-lo em três partes (ou momentos): passado, presente e futuro. Mas, destes três momentos, o único que realmente vivenciamos é o presente. Do passado só podemos ter recordações; do futuro, expectativas.


O passado, porém, possui uma certa vantagem com relação ao futuro: dele podemos falar. Podemos descrever o passado, ainda que de acordo com as reconstruções de nossa memória que podem variar cada vez que recordamos algo. Podemos inclusive distorcê-lo, fantasiá-lo, recontá-lo a nosso bel-prazer, mas estaremos sempre partindo de algo vivenciado, "sólido", "real". Apesar disso, essa certa "vantagem" que mencionei é sempre ilusória, pois o passado é passado (descobri a roda!!!) e nada mais.


Do futuro, nada podemos dizer de verdadeiro nem de falso. Ainda que pudéssemos fazer todas as previsões possíveis (e não podemos), ainda assim estaríamos no campo da mera possibilidade e não teríamos avançado nem um passo sequer. "O futuro é sempre maior que todas as nossas análises", escreveu o frade dominicano Bernard Bro em seu livro Contra toda Esperança, querendo dizer com isso que o futuro sempre pode nos surpreender.


Parece que chegamos a uma conclusão inevitável: se passado e futuro não têm consistência alguma e só nos resta o presente que nos escapa a cada momento, a única "filosofia" que merece consideração é a do Carpe diem. Ou seja, aproveitar o dia, o momento como se fosse o último (e pode ser! - será que vou terminar esse texto???) e entregar-se à busca do prazer.


Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar! Ou como dizia minha vó: nem oito, nem oitenta! O passado pode e deve nos servir como referência para erros e acertos e o futuro deve ser reconhecido como aquilo que é: possibilidade, que é muito diferente de incerteza. E o presente? Carpe diem? Sim, mas não de uma forma extrema, não como se o passado não nos ensinasse nada ou como se o mundo fosse acabar amanhã (ou a qualquer momento), apenas como deve ser: cada momento de uma vez.


Um bom critério para avaliar essa constante relação vida/tempo, nos parece ser o amor. Afinal, como li em algum lugar, "quem ama não perde tempo". Ou para ser mais rebuscado "ama e faz o que quiseres" (Santo Agostinho).


Resta-nos, nos dias de hoje, saber o que é amor. Mas isso fica pra outro dia, agora não tenho muito tempo.





Por:  Anderson Francisco

9 comentários:

Flavio Bela Vista disse...

Otima postagem Parabéns

Flavio Bela Vista disse...

Otima postagem Parabéns

Manoel Carlos disse...

quanto a citação de Agostinho "ama e faz o que queres", é bom ter cuidado, pois muitos relativistas se utilizam do mesmo para justificar atos de homossexualismo, de romantismo, liberalismo, pedofilia, enfim de moral relativista, etc...
O Santo Agostinho foi um exemplo de ortodoxia católica, e em nada desviou o ensinamento de Jesus Cristo.
No mais o texto mostra alguém que gosta de ler e reflete para escrever.

Anônimo disse...

Oi Anderson, tudo bem? Se você diz não ter tempo e ainda assim fala sobre ele, fiquei imaginando se você o tivesse, como seria?
Belíssimo texto. Foi de uma peculiaridade singular e de uma sensibilidade notavelmente feliz!

A uma determinada altura do filme "Sociedade dos Poetas Mortos", o professor John Keating (Robim Wylliams), fala a seus alunos: "Porque somos comida para minhocas. Porque acreditem se quiserem,cada um de nós aqui nesta sala, um dia vai parar de respirar,ficar gelado e morrer. Carper diem! Aproveitem o dia! Tornem suas vidas extraordinárias!"

Parabéns pelo texto e pela inspiração em escrevê-lo!

Carpe diem! (latim)
Seyze the day!(inglês)
Aproveite o dia!(português)

Um abraço! Walkíria Araújo.

Anônimo disse...

o blog mais uma vez acerta na veia quando coloca em sua equipe pessoas desse gabarito, parabéns ao rapaz e a equipe blog pela qualidade de suas postagens

Anônimo disse...

lindo texto, e pra varear o Manoel com mania de Homofobia em tudo.

Rita rocha disse...

Parabéns Anderson belíssimo texto.o tempo e muito importante em nossa vida sim por isso temos que aproveitar cada segundo fazendo o que gostamos,tudo com respeito seriedade e amor ao proximo.eu gosto do passado pois aprendi com ele a viver o presente,o futuro só Deus saberá.nós sonhamos e temos muitas expectativas de um futuro melhor.
Eu acredito que se plantarmos a semente do amor no presente,colheremos frutos do amor no fururo.nossa vida e consequencia de nossos atos para ter um amanhã melhor é preciso fazer o hj melhor.o amor e fundamental.quando falo de amor to falando do amor a Deus a vida e ao proximos.adorei o texto parabéns mas uma vez.
também quero parabenizar o blog pelas qualidades das materias admiro o trabalho e a dedicação de todos que fazem a V1.

NOW I'M NO TIME !
Abraços

Thiago Bezerra disse...

Manoel sai desse mundo que ele não te pertence.

Anderson Francisco disse...

Agradeço a todos pelos comentários, e gostaria de dar uma satisfação ao amigo Manoel Carlos.
Caro Manoel, o amor, se bem entendido, procura o bem. É claro que quando Agostinho fala do amor, refere-se ao amor que tem em Deus seu modelo mais perfeito, sua origem - "Deus é amor", diz João. Quem tem como horizonte essa concepção de amor é livre para fazer o que quiser, pois sempre buscará o bem maior que é Deus, fonte de todo amor.
Por outro lado, mesmo quem não compartilha de nenhuma religião reconhece no amor o bem. Agora - e foi o que tentei suscitar no final do texto - será que nos dias de hoje a concepção do que seja o amor está clara ou confundimos todo tipo de desejo e sentimento com amor?
Talvez em outra oportunidade escrevamos sobre isso com mais calma.
Muito obrigado pelo comentário que só faz bem ao debate.

Um forte abraço,

Anderson Francisco.
www.vendedordelaranja.wordpress.com