Da
Agência Estado
Brasília
- Na véspera de completar 32 anos, o PT voltou a defender o controle da mídia,
pregando a democratização dos meios de comunicação, e decidiu partir para o
confronto com o PSDB. Incomodada com as declarações do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, para quem os leilões dos aeroportos "desmistificam o
demônio privatista", a cúpula do PT retomou o tema privatizações e
radicalizou o discurso.
Uma
versão preliminar de resolução política apresentada ontem ao Diretório Nacional
do PT diz que "não é verdade que acabou a disputa ideológica sobre as
privatizações, como afirmou uma apressada voz tucana". Mesmo sem citar
Fernando Henrique, a referência ao ex-presidente não podia ser mais clara.
"Nós
não confundimos concessão com privataria tucana", afirmou o presidente do
PT, Rui Falcão. "Não vejo porque toda essa celeuma, já que o sistema de
concessão dos aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília nada tem a ver com o
modelo privatista dos tucanos, que entregou patrimônio público a preços
duvidosos."
E,
depois de defender o marco regulatório para os meios de comunicação em seu 4.º
Congresso, no ano passado, o PT voltou a bater na mesma tecla ontem.
"Outra campanha importante que o PT lançou e na qual avançará em 2012 é a
campanha pela democratização dos meios de comunicação de massa, que aperfeiçoa
nosso processo democrático ao dar voz a todos os setores da sociedade",
afirma o item 15 do documento preliminar.
‘Bacia
das almas’
Para
tentar neutralizar o discurso tucano de que o PT também adotou a privatização,
o partido vai organizar a militância para ressaltar supostas diferenças.
"Antes, as empresas públicas, às dezenas, como a Vale do Rio Doce, a
Companhia Siderúrgica Nacional, a Embraer, as telefônicas, as empresas de
energia elétrica, de transporte ferroviário, os bancos, eram vendidas dentro da
concepção de Estado mínimo, e os recursos obtidos usados para pagamento de
dívidas", diz trecho do documento. "Antes, as empresas eram torradas
na bacia das almas a preços de compadre. Agora, os ganhos para o poder público
são enormes e aplicados no desenvolvimento do País."
Na
prática, o PT usa um jogo de palavras para justificar a mudança de discurso ao
longo de sua trajetória. A versão preliminar do texto, que recebeu 15 emendas e
ainda passará pelo crivo de uma comissão executiva, diz haver muita diferença
entre as concessões dos aeroportos no governo Dilma Rousseff e a venda de
estatais na gestão Fernando Henrique (1999 a 2002).
Em
vídeo divulgado pela internet, na quarta-feira, Fernando Henrique disse que as
privatizações não devem ser encaradas como "questão ideológica". Foi
aí que citou a desmitificação do "demônio privatista".
"A
privatização não é uma questão ideológica. É uma questão que depende das
circunstâncias, como aumentar a capacidade de gerenciar, aumentar a oferta de
serviço", afirmou o tucano.
Corrupção
A
queda de nove ministros, sete dos quais envolvidos em denúncias de corrupção, é
citada de forma indireta na proposta de resolução. "Não vingou a campanha
de setores da oposição que buscavam desestabilizar o governo através de
seguidas denúncias de corrupção em ministérios". Para o PT, o governo da
presidente Dilma Rousseff deu "respostas adequadas" às suspeitas
levantadas.
O
texto preliminar do PT diz ainda que 2012 será o ano da "Comissão da
Verdade" e enfatiza que o partido estará empenhado no "resgate de
nossa memória da luta pela democracia durante o período da ditadura
militar".
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