Do Fantástico
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Queimadas, na região de Campina Grande, ainda
não se refez do choque. Os acusados, que já estão presos, são amigos e parentes
das vítimas. Quando a notícia
correu, ninguém queria acreditar. Um estupro coletivo, duas mulheres
assassinadas e dez pessoas presas depois de uma festa de aniversário em uma
cidadezinha do interior.
“Quem estava na festa, quem estava
bebendo, quem estava brincando, quem matou, tudo era amigo”, diz o comerciante
Antônio de Melo.
A primeira versão era a de um assalto. Homens vestindo máscaras de carnaval
teriam invadido uma festa para estuprar as convidadas. Depois, levaram duas
delas como reféns. A recepcionista Michele Domingos da Silva, de 29 anos, foi
assassinada a tiros ao lado da igreja da cidade. A professora Isabela Monteiro,
de 27, foi encontrada morta em uma estrada vicinal. O cunhado dela reconheceu o
corpo.
“Ela estava parada, com o carro parado. Ela, em cima da caçamba, com as mãos
amarradas, olhos vendados. A cidade parou com um crime desses”, relata o
vendedor Dinarte de Arruda.
Quando o dono da festa foi dar queixa do assalto na delegacia, a polícia
começou a desconfiar da reação dele.
“Como é que um crime tão bárbaro que aconteceu na sua residência, durante um
aniversário de um irmão seu, meia hora depois você está sorrindo?”, questiona o
delegado regional André Luis de Vasconcelos.
Eduardo dos Santos Pereira, de 28 anos, foi preso no velório de Isabela. Um a
um, a polícia foi prendendo todos os acusados: três adolescentes e sete
adultos, inclusive o aniversariante, Luciano dos Santos Pereira, de 22 anos,
irmão de Eduardo.
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Isabela morava com a mãe em uma casa de esquina. No mesmo quarteirão, na outra
ponta, a menos de 50 metros, fica a casa de Luciano e Eduardo. Quem poderia
suspeitar de uma festa em que o aniversariante e os convidados são vizinhos,
amigos e alguns até parentes? A polícia da Paraíba já não tem dúvida alguma de
que o que houve foi uma armadilha minuciosamente planejada, que resultou em
duplo assassinato e em um caso de violência sexual jamais visto na região.
Os policiais encontraram grande quantidade de armas, presilhas e cordas para
amarrar as mulheres. O grupo teria preparado o crime com 15 dias de
antecedência.
“Inclusive um deles afirma que seria um presente para o aniversário de Luciano,
do irmão mais novo de Eduardo. Um presente do Eduardo para o Luciano”,
acrescenta o delegado.
A certa altura da festa, apagaram a luz, vestiram máscaras de carnaval e
estupraram cinco convidadas. Uma delas era mulher de um primo dos donos da
casa, que não sabia de nada. Isabela e Michele foram mortas porque reconheceram
os estupradores. Os irmãos Eduardo e Luciano negam tudo e jogam a culpa nos
outros.
“Jardel foi o mentor, dizendo que ia fazer isso. Queria pegar as meninas, que
ele tinha vontade de ficar com as meninas”, conta Luciano Pereira em um vídeo
da Polícia Civil da Paraíba.
Em outro inquérito, a polícia investiga a ligação deles com o traficante Nem,
do Rio de Janeiro. A família de Nem tem origens na cidade de Queimadas. Eduardo
já morou na Rocinha. Ele não trabalha e tem alto padrão de vida.
“Possuiu carros novos, cavalo de raça e vive sem nunca trabalhar, sem bater um
prego em uma barra de sabão”, reforça o delegado.
A prefeitura cancelou o carnaval de rua. A juíza da cidade proibiu o uso de
máscaras mesmo nos bailes de salão. Este ano, o que haverá em Queimadas são
protestos sentidos e manifestações de solidariedade, como uma em frente à casa
da família de Michele.
“Não tem ninguém que possa falar mal daquelas meninas trabalhadoras. Michele,
por exemplo, era tudo nessa família. A gente dependia inclusive financeiramente
dela”, conta Maria Domingos, mãe de Michele.
Na noite do crime, muito amigas, Michele e Isabela foram juntas à missa,
comungaram e saíram direto da igreja para a festa. A mãe de Isabela teve um
pressentimento e chegou a mandar uma mensagem no celular da filha.
“Vem para casa, já está tarde. Aí só sei que não teve resposta”, diz Maria de
Fátima Monteiro, mãe de Isabela.
Uma hora depois, recebeu a notícia do assassinato. “Criamos nossa filha com
muito amor. Sair de dentro do seu ventre, criar, crescer, educar, para depois
ver se destruir assim, por malvadeza? Nada vai trazer ela de volta, mas que a
justiça seja feita.”
Na noite anterior ao seu assassinato, Isabela postou na internet a bela
adaptação de Jorge Ben Jor da oração a São Jorge. Para os amigos, era uma
premonição, um temor intuitivo. Diz a canção: “Para que meus inimigos tenham
mãos e não me toquem. Armas de fogo, meu corpo não alcançarão”.
O povo da cidade de Queimadas e toda a sociedade brasileira esperam que a
justiça seja feita e que os culpados paguem pelo crime bárbaro que cometeram.
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