Por Cláudio Gomes*
O rádio conta história que identifica com a do ouvinte, e
essa peculiaridade aproxima cada vez mais o veículo do povo.
O rádio que
ouvimos hoje com imparcialidade, precisão nas informações, e com uma forma
isenta de passar a notícia, é o mesmo das casas de alpendre que ficava no
terreiro para todos os vizinhos ouvirem o Repórter Esso. Talvez o que sobrou
daquela época - considerada “era de ouro do rádio”- foi a ideia de que voz
impostada é voz bonita. O ranço do passado era muito forte e a linguagem mais
comum era a do “jornal falado”. Mal percebiam que o Repórter Esso era apenas
uma referencia histórica e pertencia ao passado – um cadáver tirado do armário
toda vez que se tentava um projeto jornalístico.
Rádio não simpatiza com discurso e leitura e sim com bate
papo e conversa. Alguns tempos atrás os locutores não se limitavam a dar as
notícias, faziam questão de anunciá-la. Acreditavam e muitos ainda acreditam
que o estilo solene, empostado, e às vezes dramático dava mais peso à
informação, o que na verdade apenas dificultava o entendimento. De acordo com a
diretora de jornalismo da CBN, Mariza Tavares, um dos grandes mitos do rádio
que, felizmente, a CBN ajudou a derrubar é de que uma bela voz é a principal
ferramenta do profissional. Segundo ela, voz boa ajuda, sem duvida, mas não é
fundamental. No entanto o bom texto é indispensável na produção de conteúdo
editorial de qualidade.
A história do rádio registra que no Brasil a primeira transmissão
foi realizada no centenário da Independência, em 7 de setembro de 1922, pelo
presidente Epitácio Pessoa. O discurso de abertura foi transmitido para
receptores instalados em Niterói, Petrópolis e São Paulo, através de uma antena
instalada no Corcovado. Era o princípio da primeira emissora de rádio do Brasil,
uma novidade comentada em todos os lugares – estava no ar a Rádio Sociedade do
Rio de Janeiro, a estação foi fundada por Roquette Pinto, mas tarde em 1936 foi
doada ao governo, hoje Rádio MEC.
Depois disso o rádio cresceu, instabilizou-se e ganho rumo
certo. A partir daí as histórias que faz rádio são muitas e algumas muito
engraçadas. Quem escuta a CBN, com certeza já ouviu Juca Kfouri, dizer: - Oito
e meia, dona Nadir. É hora de seu remédio. Ele conta no livro CBN – a rádio que
toca notícia – que alguns entendem como mero bordão, mas esse recado diário
durante o “CBN esporte clube” é para valer. E a história nasceu logo no dia da estréia
do programa, em 2000, quando dona Nadir ligou para a redação e deixou o recado
para ser repassado para ele.
– Avise a esse rapaz que rádio é prestação de serviço e se
ele não informa as horas eu me esqueço de tomar o remédio. Juca Kfouri conta,
que no dia seguinte, olhou para o relógio e disparou pela primeira vez o
recado: - “Oito e meia dona Nadir, é hora de seu remédio. O pessoal do estúdio
olhou para mim, como se fosse maluco. Aí pensei: isso pode ficar engraçado.
Então fiz de novo às nove horas. No dia outro dia, recebi novo recado dela,
agora mais amistoso.” - Diga a esse rapaz que ele é muito delicado e que fiquei
muito feliz de ele ter falado meu nome. Tempo depois dona Nadir estava sendo
entrevistada por Juca. São histórias iguais a essa que deixa o rádio dinâmico e
espontâneo.
O modismo da
comunicação atribui a necessidade de nós nos informarmos cotidianamente, a
ponto de saber qual a manchete do principal jornal da cidade, a cotação do
dólar; a vida atribulada do desemprego, a falta de perspectivas, faz-nos a
viver cada vez mais limitados à necessidade do poder da informação. A
comunicação torna possível a interação e ao mesmo tempo adéqua a convivência
entre os homens já que a integração do indivíduo ao seu ambiente e ao seu tempo
está relacionada de forma intrínseca ao acesso ao conhecimento.
Segundo um dos renomados rádiojornalistas brasileiro,
Heródoto Barbeiro, o desafio da ancoragem em rádio somente de notícias surgiu
em uma época importante de transformações sociais e histórias, e foi envolvido
nas grandes mudanças do final do século XX. O conceito inicial seria o de
aplicar no rádio os mesmos princípios éticos e profissionais de outros meios,
com base na premissa de que jornalismo é jornalismo não importa por onde seja
propagado.
*Cláudio Gomes –
É estudante de Jornalismo.
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