domingo, 19 de agosto de 2012

Parto em casa gera discussão nacional


Da Folha PE

O tema parto domiciliar vem trazendo uma forte discussão em nível nacional. Isso porque, há cerca de dois meses, após o depoimento para a Rede Globo do ginecologista e obstetra paulistano Jorge Kuhn, ocasião em que ele defendia partos realizados em casa, representantes do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) solicitaram à seccional São Paulo, onde o diploma do médico está registrado, a abertura de uma investigação por desvio de conduta.

Pouco tempo depois, a revolta popular contra o conselho foi clara. Mais de cinco mil defensores do parto domiciliar em 28 cidades brasileiras, incluindo no Recife, realizaram a Marcha Nacional pelo Parto em Casa, nos dias 16 e 17 de junho, afim de chamar a atenção da sociedade civil para a questão, e mostrar apoio à declaração de Kuhn.

Porém, mesmo após esta manifestação, cerca de um mês depois, o Cremerj publicou as resoluções 265 e 266 que proibiam a participação de médicos obstetras em partos domiciliares e a presença das obstetrizes (profissionais que acompanham o pré-natal das gestantes), doulas (acompanhantes) ou parteiras em ambientes hospitalares. Logo após, no dia 5 de agosto, mais uma mobilização nacional contra o Cremerj foi realizada.


A “Marcha Pelo Parto Humanizado” contou com a participação de moradores de 32 cidades, e mais uma vez com a participação dos recifenses. Hoje, a situação encontra-se estável, uma vez que o Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren-RJ), com o apoio do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), entrou com uma ação contra as resoluções, e a Justiça Federal no Rio aprovou e as suspendeu.

Ilegal foi o que considerou a presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Pernambuco (Coren-PE), Simone Diniz, a respeito das ações impostas pelo Cremerj. “É um direito da mulher, um direito do profissional capacitado em assistir essa mulher. Foi uma medida que coibiu o direito humano de dispor de como a mulher quer ser assistida durante o parto. A sociedade tem que entender os direitos que ela tem em relação à sua saúde”, pontuou.

Apesar disso, no último dia 10, o Conselho Federal de Medicina (CFM) recomendou que, de forma preferencial, os partos fossem feitos em ambientes hospitalares, considerando a viabilidade e a vitalidade do feto ou recém-nascido, bem como a própria integridade física e psíquica materna.

Segundo a enfermeira obstetra Tatianne Frank, que atende a partos domiciliares desde 2009, não há diferenças significativas entre partos em casa e hospitalares planejados, com relação ao risco de morte intraparto. “O Jornal Britânico de Obstetrícia e Ginecologia divulgou um estudo em 2009 onde eles analisaram a morbimortalidade perinatal em 529 mil partos domiciliares ou hospitalares, planejados em gestantes de baixo-risco. Destas, 300 mil mulheres planejaram seu parto em casa enquanto cerca de 160 mil tinham a intenção de dar à luz em hospital. A conclusão do estudo foi que um parto domiciliar planejado não aumenta os riscos de mortalidade perinatal e morbidade perinatal grave entre mulheres de baixo-risco”, informou.

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