Há exatos 20 anos o
Brasil assistiu à abertura do processo de impeachment do então presidente
Fernando Collor de Melo, aprovado por 441 votos na Câmara dos Deputados. Collor
foi o primeiro presidente da República eleito pelo voto direto após o regime
militar, ao derrotar em segundo turno o então candidato do PT, Luiz Inácio Lula
da Silva.
As primeiras denúncias contra
Collor surgiram após os 100 primeiros dias de mandato e diziam respeito a um
esquema de corrupção montado pelo ex-tesoureiro de campanha, Paulo César Farias
– conhecido como PC Farias. As denúncias, intensamente divulgadas pela
imprensa, culminaram com a criação de uma comissão parlamentar mista de
inquérito, a CPI do PC.
As denúncias de corrupção,
associadas ao desgaste do então presidente em função da implementação de planos
de estabilização da economia, levaram mais tarde à mobilização popular e à
aprovação do pedido de impeachment. Os planos econômicos, chamados de Collor I
e Collor II, consistiam basicamente em tentar controlar a inflação, que já
vinha alta desde o governo anterior de José Sarney. No primeiro momento os planos
surtiram efeito, mas o confisco do dinheiro da população nos bancos e a volta
da alta da inflação começaram a provocar insatisfação do povo com o presidente.
Muitas empresas e até pessoas
físicas faliram quando o governo determinou que todas as contas bancárias
poderiam ter saldo máximo de Cr$ 50 mil (cinquenta mil cruzeiros, a moeda da
época). Impedidos de arcar com os compromissos financeiros, os empresários
foram os primeiros a abandonar o apoio a Collor. Além disso, denúncias como as
de desvio de dinheiro público para a construção dos jardins na residência
oficial, chamada de Casa da Dinda, e o pagamento de vultosas despesas do casal
presidencial, com dinheiro das empresas de PC Farias, levaram o povo às ruas
pedindo a saída do presidente.
Duas entrevistas foram
determinantes para a mobilização popular. Primeiro o irmão do presidente, Pedro
Collor, à revista Veja, denunciando o chamado esquema PC e o desvio de verbas
públicas para as empresas do ex-tesoureiro de campanha. Depois, o motorista
Francisco Eriberto França confirmou à revista Isto É ter feito pagamentos para
Fernando Collor e sua esposa, Rosane Collor, com cheques e valores que buscava
nas empresas de PC Farias.
A conclusão dos trabalhos da CPI
do PC, com relatório que considerou as denúncias procedentes, foi outro fator
que incentivou a mobilização popular. O movimento Fora Collor era formado
principalmente por estudantes, os chamados "Caras Pintadas", e por
mais pessoas ligadas às universidades, os professores. Diante do clamor da
sociedade civil, os presidentes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcelo
Lavanère, e da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Barbosa Lima Sobrinho,
entregaram ao presidente da Câmara dos Deputados, Ibsen Pinheiro, o pedido de
impeachment com mais de 20 mil assinaturas.
Pinheiro acolheu o pedido e
designou o então deputado Nelson Jobim como relator, que posteriormente
apresentou parecer favorável ao impedimento do presidente da República de
prosseguir no mandato. No dia 29 de setembro de 1992, Ibsen Pinheiro abriu a
sessão de votação pelo impeachment de Fernando Collor de Melo em um Congresso
Nacional cercado por milhares de manifestantes Caras Pintadas. Com 441 votos
favoráveis, 38 contrários, 23 ausências e 1 abstenção, a Câmara dos Deputados
decidiu pelo afastamento imediato do presidente da República de suas funções e
autorizou o Senado Federal a abrir processo de cassação de mandato e dos
direitos políticos.
No dia 2 de outubro, Collor foi
comunicado de seu afastamento temporário pelo período que durasse o processo de
impeachment e o então vice-presidente da República, Itamar Franco, assumiu o
cargo. Itamar permaneceria na cadeira presidencial até o fim do mandato, em
1994. A cassação de Fernando Collor de Melo foi confirmada por 76 votos favoráveis
e dois contrários no Senado Federal, em 29 de dezembro de 1992. O ex-presidente
ainda tentou uma manobra para evitar a perda de seus direitos políticos. Depois
de aberta a sessão no Senado, o advogado de defesa de Collor, José Moura Rocha,
apresentou aos senadores a carta de renúncia dele. A tentativa, no entanto, foi
em vão, e a cassação foi confirmada.
Em 1994, o ex-presidente foi
absolvido no Supremo Tribunal Federal (STF) da acusação de corrupção passiva
por falta de provas. A absolvição na ação penal, entretanto, não o livrou da
suspensão dos direitos políticos por oito anos, a contar da data do que seria o
término do seu mandato presidencial, em 1994. Collor voltou à cena política do
país apenas em 2002, quando tentou se eleger governador de seu estado, Alagoas,
mas foi derrotado. Em 2006, ele se elegeu senador e passou a ocupar uma cadeira
no plenário que cassou seus direitos políticos. Em 2010, o senador Collor
tentou novamente governar seu estado, mas ficou em terceiro lugar nas eleições.
O mandato dele no Senado termina em fevereiro de 2015.
Agência Brasil
Um comentário:
UM BANDO DE IDIOTAS ÚTEIS.
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