O carnaval tem origem ancestral
em festas de povos antigos que celebravam fenômenos astronômicos e o início ou
término de ciclos naturais. Outros elementos foram agregados à festa ao longo
do tempo e um dos que se fixou mais fortemente nos folguedos carnavalescos de
Pernambuco foi a máscara.
No estado, várias manifestações populares fazem uso
desse acessório para brincar e desfilar o carnaval, levando alegria e tradição
para cidades do interior do estado. Em cidades como Bezerros, Triunfo e
Pesqueira, os papangus, caretas e caiporas, respectivamente, fazem a festa de
Momo.
Eles saem pelas ruas num grande desfile de máscaras e fantasias
coloridas.
Em Nazaré da Mata, na Mata Norte
de Pernambuco, os maracatus de baque solto - também chamados de maracatus
rurais - comandam o encontro dos caboclos de lança, com tambor, tarol e figuras
representativas como o Mateus.
Já em Vitória de Santo Antão, na Mata Sul, o
costume da época da folia está nos bichos e no Clube de Fados Taboquinhas.
Conheça um pouco de algumas dessas manifestações tradicionais em cidades do
interior de Pernambuco.
Foto: Ricardo B. Labastier /JC Imagem
Agência Estado
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Papangus de Bezerros
No dicionário, o significado
encontrado para a palavra papangu é “aquele que usa fantasia no carnaval ou em
reisados; pessoa mascarada; indivíduo moleirão, bobo, apalermado”. Os papangus
são figuras emblemáticas no carnaval de Bezerros, cidade do Agreste central, a
107 km do Recife.
Mascarados e com roupas que cobrem todo o corpo, eles saem
pelas ruas da cidade sem serem reconhecidos, fazendo brincadeiras e animando a
festa momesca. O grande dia do encontro de papangus em Bezerros, onde milhares
deles se juntam para dar colorido às ruas, é o domingo de carnaval.
Um texto do professor Ronaldo J.
Souto Maior, fundador do Instituto de Estudos Históricos, Arte e Folclore dos
Bezerros, explica as origens do papangu.
De acordo com o pesquisador, os
primeiros papangus de Bezerros surgiram em 1881 e nasceram "de uma
brincadeira de familiares dos senhores de engenhos, que saíam mascarados, mal
vestidos, para visitar amigos nas festas de entrudo – antigo carnaval do século
19 –, e comiam angu, comida típica do Nordeste (Agreste) pernambucano.
Por
isso, as crianças passaram a chamar os mascarados de papa-angu”. Para Leonardo
Dantas Silva, historiador e estudioso do carnaval pernambucano, o papangu era
um mascarado doméstico, que não tinha máscara especial e podia sair até com
fronhas na cabeça.
Foto: Ricardo Moura/Divulgação Fundarpe |
“Eles saíam de porta em porta falseando a voz, fazendo
visitas para comer o angu e espantavam as crianças. Hoje virou um grande
desfile de máscaras”, comenta.
Atualmente, a máscara do papangu
passou a ser confeccionada por artesãos da cidade e chega a servir de objeto de
decoração.
Ela é normalmente confeccionada com papel maché. Os papangus se vestem com túnicas compridas, escondendo
todo o corpo, e luvas, com o objetivo de não serem reconhecidos pelos foliões.
Antes da folia, alguns papangus mantém a tradição e costumam comer angu feito
pelos moradores da cidade.
Foto: Ricardo Moura/Divulgação Fundarpe |
Caretas de Triunfo
Em Triunfo, distante 411 km do
Recife, no Sertão do Pajeú, o carnaval é alegrado pelos famosos caretas. A
tradição dos personagens da folia triunfense tem aproximadamente nove décadas
de existência.
Uma das versões para o início dessa história estaria em outro
folguedo: o Mateus, um dos personagens do reisado, teria sido expulso do grupo
por ter bebido e foi para as ruas mascarado, para brincar.
A princípio foi
chamado de “correio” e depois passou a ser conhecido como “careta”. De acordo
com informações da Prefeitura de Triunfo, o bairro do Alto da Boa Vista teria
sido o primeiro a receber a brincadeira, apenas com homens entre os
participantes. Depois, as mulheres tiveram espaço e atualmente também ganham as
ruas mascaradas.
Com máscaras, chicotes nas mãos e
indumentárias que escondem todo o corpo, os caretas, no passado, saíam pelas
ruas da cidade, a partir das 9h, depois da missa, até às 17h, pontualmente.
Caso não cumprissem o horário que era determinado pelo delegado da cidade, eles
eram presos. “As máscaras só eram usadas até cinco horas da tarde. No carnaval,
os palhaços viravam as máscaras para trás porque não podiam andar mascarados.
Era uma postura municipal. Era como se fosse uma determinação, de quando
ninguém se lembra mais, mas era proibido”, explica o historiador Leonardo
Dantas.
Dos acessórios dos caretas se
destacam também a tabuleta com mensagens satíricas como as que são encontradas
em para-choques de caminhão e o som dos chocalhos pendurados. Além disso, os
personagens impõem medo às pessoas porque descem as ladeiras mascarados, com
chicotes nas mãos, assustando com as chicotadas no chão, como em um duelo. Suas
roupas são bem coloridas, de cetim, e chapéus enfeitados com flores e fitas.
Foto: Vitor Tavares / G1 PE |
Maracatus de Nazaré da Mata
Os maracatus de baque solto, ou
maracatus rurais, dão o colorido à festa de carnaval da cidade de Nazaré da
Mata, distante 65 km do Recife. A manifestação é uma tradição passada de pai
para filho na Zona da Mata Norte pernambucana, mas também atrai muitos
curiosos, moradores e turistas.
O Encontro de Maracatus, que reúne milhares de
visitantes na cidade e acontece na segunda-feira de carnaval, tem início no
Parque dos Lanceiros e percorre as principais ruas da cidade, até a Praça Papa
João XXIII, conhecida como Praça da Catedral.
O brilho, colorido e a animação
de mais de 50 grupos comandam a festa de Momo em Nazaré da Mata. Os caboclos de
lança, com suas golas coloridas e lanças enfeitadas com fitas, saem pelas ruas
fazendo suas evoluções ao som dos tambores e taróis. “O maracatu rural, aquela
figura do caboclo de lança, é uma entidade. Eles se juntam e formam a
caboclada. Cada maracatu bota 30, 40, 50 caboclos. Cada caboclo de lança faz a
sua fantasia, caprichada. O maracatu de baque solto também tem a figura do
Mateus, que vem do bumba-meu-boi, do reisado”, ressalta o historiador Dantas.
O mais antigo maracatu de
Pernambuco, o Cambinda Brasileira, fundado em 1898, é de Nazaré da Mata. A sede
do grupo permanece no Engenho do Cumbe desde essa época.
Possivelmente, a
manifestação virou tradição na cidade por conta de maracatus antigos existentes
na região, como o Cambinda Brasileira. “Essa região é exatamente a área da
cana-de-açúcar e os cortadores de cana são os caboclos de lança. Existem vários
grupos tradicionais naquela região, como também o Estrela de Ouro de Aliança”,
diz Dantas.
A lei estadual nº 11.506/1997
instituiu o dia 1º de agosto como o Dia Estadual do Maracatu. O maracatu rural
se diferencia do maracatu de nação - também chamado de baque virado - pelos
personagens, instrumentos utilizados e ritmo.
Foto: Chico Ludermir Divulgação Fundarpe |
Caipora nas ruas de Pesqueira
O carnaval de Pesqueira,
município localizado a 212 km do Recife, é conhecido pela irreverência dos
caiporas, que dão o tom da festa na cidade.
Segundo o historiador Leonardo
Dantas, os caiporas são personagens que migraram do bumba-meu-boi, que possui
48 figuras. “As figuras do bumba-meu-boi brincam o São João, mas arrumam um
jeito para brincar o carnaval, modificam a história e continuam.
O caipora é um
dos bichos da mata que vem para a rua durante o carnaval”, conta.
Uma das histórias contadas sobre
os caiporas de Pesqueira é que eles são assombrações que pregam peças em
caçadores.
A fantasia do caipora é composta por paletó, gravatá e um saco de
estopa usado como máscara, que cobre da cabeça à cintura. A troça carnavalesca
Os Caiporas, criada em 1962, também aproveita a fama do personagem e anima os
foliões na cidade de Pesqueira.
O que era uma lenda assustadora passa a ser uma
grande diversão com homens, mulheres e crianças brincando juntos.
Foto: Costa Neto Divulgação / Fundarpe |
Bichos de Vitória
Em Vitória de Santo Antão, a 49
km do Recife, a tradição carnavalesca fica por conta do encontro dos bichos,
que é como são chamados os clubes carnavalescos do Leão, do Camelo, da Girafa,
da Zebra e do Cisne.
O Clube Leão (1902) é o mais antigo, seguido pelo Camelo
(1921). “São clubes que saem pelas ruas com carros alegóricos com motor, muita
gente com fantasias caras. Eles são acompanhados por carro alegórico com
orquestra de frevo.
O Leão e o Camelo são rivais”, conta Leonardo Dantas.
Os bichos de Vitória saem
normalmente na segunda-feira de carnaval e têm como principal ponto as praças
da Matriz e Duque de Caxias. A tradição é colocar os estandartes na rua, com as
orquestras e alegorias. A bicharada reúne dezenas de foliões na cidade. Além
dos clubes com nomes de bichos, a festa no município é animada por maracatus,
caboclinhos e grupos de bumba-meu-boi.
Foto: Orlando Leite |
Outra manifestação carnavalesca
bem tradicional na cidade é o Clube de Fados Taboquinhas, que costuma desfilar
na sexta-feira de carnaval.
Fundado em 1924, ele é uma reminiscência do rancho
português e de um clube que havia no Recife, chamado Caninha Verde.
“Taboquinhas, na realidade, é uma marcha portuguesa que migrou do Caninha Verde
para Vitória de Santo Antão como Taboquinhas.
Eles usam rabecas e flautas, e
fantasias como um rancho de Reis”, ressalta Dantas. As fantasias lembram damas
e cavalheiros da corte portuguesa, acompanhados por uma orquestra de pau e
corda.
Do G1 PE
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