sábado, 23 de fevereiro de 2013

Arte do Mestre Salú é preservada por seus herdeiros



Quinze filhos, nove mães e uma herança deixada pelo pai (a única coisa em comum, aparentemente): a cultura popular. Na Cidade Tabajara, em Olinda, a família Salustiano guarda as lembranças e o legado do Mestre Salú como uma riqueza inesgotável e ao mesmo tempo mutável, que passa por gerações e vai se mantendo em meio a um mundo cada vez mais pop. Nada de maneira fácil ou simples, mas tudo sempre guiado pela lição número um de uma “cartilha” patriarcal que reverbera até hoje: paixão pelo que faz. Acervo e memória que estão prestes a ganhar um espaço fixo e serem reunidos no Centro de Referência da Cultura Popular Mestre Salustiano.

Betânia, Cristiano, Dinda, Moca e Maciel são cinco dos 11 herdeiros que dão continuidade aos grupos e à tradição do Mestre (ainda há Cleiton, Gilson, Beatriz, Mariana, Manoel e Pedro). Eles lembram bem dos ensinamentos – diretos e indiretos – que o pai lhes passou e vão levando isso para as novas gerações. Filhos e netos de Mestre Salustiano bordam golas de caboclos de lança, dançam, cantam, confeccionam e tocam rabeca, além de dar aulas. “Ele nunca forçou a gente, mas nosso divertimento sempre foi brincar”, lembra Maciel.


As imagens, os ensinamentos e as lembranças que os filhos de Salú guardam na memória e no DNA aos poucos vão ganhando vida nos depoimentos e nas cenas do documentário Filhos do Mestre – o legado de Salú (o nome ainda é provisório). O longa-metragem dirigido por Tiago Leitão (diretor do premiado Vou estraçaiá, sobre Luciano Todo Duro), com roteiro de Camerino Neto, está sendo filmado há mais de um ano e deve ser lançado em 2014. Nele, a família Salustiano mostra como a herança do rabequeiro famoso é mantida e repassada pelos seus filhos e netos.

“A ideia de fazer esse filme partiu da minha loucura por maracatu”, lembra Tiago. “A princípio, queríamos fazer um filme sobre os herdeiros que não eram de sangue, a exemplo de Siba, Antônio Carlos Nóbrega, Chico Science. Mas quando comecei a perceber o envolvimento dos filhos com a cultura popular, mudei de ideia.”

O filme está orçado em R$ 650 mil e tem patrocínio de empresas privadas e através da Lei Rouanet, além do apoio de produtoras e redes de TV que cederam gravações de arquivo para compor o longa. A ideia foi aceita de cara pelos Salustianos que não se intimidam em contar suas histórias e abrir as portas para a equipe. O documentário da família Salú é o primeiro passo de um projeto que está sendo desenvolvido por Thiago Leitão, a série Filhos dos mestres. Ele vai criar filmes a partir da temática familiar e mostrar como herdeiros de artistas populares pernambucanos dão continuidade à tradição.

Sensibilizados com a herança dos Salustianos, Tiago e a produtora Tactiana Braga estão dando início ao recolhimento de material para compor o acervo do Centro de Referência da Cultura Popular Mestre Salustiano, que deverá ser criado em breve na Casa da Rabeca. “Descobrimos que há muito material espalhado Brasil afora, mas quando alguém que estudar sobre o assunto vem à Casa da Rabeca e termina não achando aqui. A ideia é juntar tudo e transformar o espaço num centro de pesquisa”, explica Tactiana.

Jornal do Commercio

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