Quinze filhos, nove mães e uma
herança deixada pelo pai (a única coisa em comum, aparentemente): a cultura
popular. Na Cidade Tabajara, em Olinda, a família Salustiano guarda as
lembranças e o legado do Mestre Salú como uma riqueza inesgotável e ao mesmo
tempo mutável, que passa por gerações e vai se mantendo em meio a um mundo cada
vez mais pop. Nada de maneira fácil ou simples, mas tudo sempre guiado pela
lição número um de uma “cartilha” patriarcal que reverbera até hoje: paixão
pelo que faz. Acervo e memória que estão prestes a ganhar um espaço fixo e
serem reunidos no Centro de Referência da Cultura Popular Mestre Salustiano.
Betânia, Cristiano, Dinda, Moca e
Maciel são cinco dos 11 herdeiros que dão continuidade aos grupos e à tradição
do Mestre (ainda há Cleiton, Gilson, Beatriz, Mariana, Manoel e Pedro). Eles
lembram bem dos ensinamentos – diretos e indiretos – que o pai lhes passou e
vão levando isso para as novas gerações. Filhos e netos de Mestre Salustiano
bordam golas de caboclos de lança, dançam, cantam, confeccionam e tocam rabeca,
além de dar aulas. “Ele nunca forçou a gente, mas nosso divertimento sempre foi
brincar”, lembra Maciel.
As imagens, os ensinamentos e as
lembranças que os filhos de Salú guardam na memória e no DNA aos poucos vão
ganhando vida nos depoimentos e nas cenas do documentário Filhos do Mestre – o
legado de Salú (o nome ainda é provisório). O longa-metragem dirigido por Tiago
Leitão (diretor do premiado Vou estraçaiá, sobre Luciano Todo Duro), com
roteiro de Camerino Neto, está sendo filmado há mais de um ano e deve ser
lançado em 2014. Nele, a família Salustiano mostra como a herança do rabequeiro
famoso é mantida e repassada pelos seus filhos e netos.
“A ideia de fazer esse filme
partiu da minha loucura por maracatu”, lembra Tiago. “A princípio, queríamos
fazer um filme sobre os herdeiros que não eram de sangue, a exemplo de Siba,
Antônio Carlos Nóbrega, Chico Science. Mas quando comecei a perceber o envolvimento
dos filhos com a cultura popular, mudei de ideia.”
O filme está orçado em R$ 650 mil
e tem patrocínio de empresas privadas e através da Lei Rouanet, além do apoio
de produtoras e redes de TV que cederam gravações de arquivo para compor o
longa. A ideia foi aceita de cara pelos Salustianos que não se intimidam em
contar suas histórias e abrir as portas para a equipe. O documentário da
família Salú é o primeiro passo de um projeto que está sendo desenvolvido por
Thiago Leitão, a série Filhos dos mestres. Ele vai criar filmes a partir da
temática familiar e mostrar como herdeiros de artistas populares pernambucanos
dão continuidade à tradição.
Sensibilizados com a herança dos
Salustianos, Tiago e a produtora Tactiana Braga estão dando início ao recolhimento
de material para compor o acervo do Centro de Referência da Cultura Popular
Mestre Salustiano, que deverá ser criado em breve na Casa da Rabeca.
“Descobrimos que há muito material espalhado Brasil afora, mas quando alguém
que estudar sobre o assunto vem à Casa da Rabeca e termina não achando aqui. A
ideia é juntar tudo e transformar o espaço num centro de pesquisa”, explica
Tactiana.
Jornal do Commercio
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