Do Estadão
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CURITIBA - A médica
Virgínia Soares de Souza, que trabalha na UTI do Hospital Evangélico, em
Curitiba (PR), foi presa na manhã de terça-feira, 19, durante operação do
Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa), da Polícia Civil. Ela
é suspeita, segundo fontes ligadas à polícia, de ter praticado eutanásia
(indução à morte de pacientes com consentimento, mas que é crime no Brasil) e
vinha sendo investigada havia um ano, juntamente com outros profissionais. Pelo
menos 18 casos estão sob investigação.
Logo após seu depoimento,
a médica foi levada ao Centro de Triagem na capital. Cerca de 20 pessoas que
atuam ou trabalharam na UTI estão sendo ouvidas.
A Polícia Civil não
revelou quantos casos de eutanásia teriam sido praticados pela médica, pois a
investigação corre sob sigilo de Justiça. Mas, além da prisão da profissional
de saúde, a polícia levou 18 prontuários de pacientes que estiveram na UTI nos
últimos meses e se colocou à disposição de pessoas que perderam familiares na
UTI e queiram prestar algum tipo de queixa.
A delegada Paula Brisola
concederia uma entrevista coletiva no final da tarde. Mas, 30 minutos depois do
horário previsto, a Secretaria de Segurança Pública informou que somente o
secretário Cid Vasquez falaria sobre as investigações, hoje. Antes, a delegada
havia dito a uma emissora de TV que não poderia dar detalhes da operação.
"Uma palavra mal interpretada pode provocar algum transtorno. É um
processo que está em andamento e não há como passar algo."
O advogado de defesa de
Virgínia, Elias Mattar Assad, falou que sua cliente trabalha desde 1988 no
hospital e não há sentido em sua prisão. "Não há nada que desabone o
trabalho dela. Pode ter ocorrido um erro de interpretação em alguns termos por
meio de pessoas não familiarizadas com a linguagem de uma UTI", disse.
"Ela sempre agiu preservando vidas dentro da ética médica e dos critérios
nacionais de terapia intensiva, com criteriosas discussões dos casos com
médicos assistentes e famílias dos pacientes".
Segundo o secretário
estadual de Saúde, Michele Caputo Neto, "o Estado terá participação na
comissão de sindicância que vai investigar as mortes na UTI".
Em nota, o Hospital
Evangélico informou que abrirá sindicância interna. Também declarou que, por se
tratar de processo que corre sob segredo de Justiça, não teria
"conhecimento adequado dos fatos para emitir qualquer juízo". Sobre
Virgínia, disse reconhecer a "competência profissional" e afirma que
"até o momento desconhece qualquer ato técnico da mesma que tenha ferido a
ética médica."
Outros problemas. Uma
morte ocorrida na UTI do Evangélico em agosto passado chamou a atenção da
imprensa na época. A qual a direção do hospital admitiu o erro de uma
enfermeira, que desligou a máquina que mantinha vivo um paciente.
O paciente, João Carlos
Rodrigues, de 33 anos, sofria de uma rara doença neuromuscular degenerativa e
estava internado ali havia quatro anos e quatro meses. Rodrigues escreveu um
livro, Caçador de Lembranças, no qual relata desde os sintomas da doença até a
internação. Ao saber da morte do filho, a mãe de Rodrigues teve um infarto
fulminante e também morreu.
Além da morte de
Rodrigues, outra atribulação pela qual o Hospital Evangélico foi a acusação de
ter dívidas de até R$ 260 milhões. A unidade também foi obrigada a devolver R$
3,1 milhões ao Ministério do Esporte por conta de recursos recebidos para
treinamento de médicos para a Copa do Mundo, o que não ocorreu. Neste mês, o
hospital enfrentou greve de médicos.
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