É entre as cidades de Caruaru e
Pesqueira – passando por São Caetano e Belo Jardim – que a falta de chuvas e o
descaso político causaram uma metamorfose na paisagem. O verde perdeu a cor. As
margens da BR-232 dizem tudo. Convidam o olhar curioso e assustado de quem
trafega por lá. Só nos quase 48 quilômetros de Belo Jardim a Pesqueira, foram
cerca de 30 carcaças de gado flagradas na última segunda-feira (25) – entre
bois, vacas, bezerros, bodes e ovelhas – denunciando que a falta d’água tem
matado bicho e prejudicado gente.
Em um trecho, um boi morto quase
adentra a pista no sentido da capital para o interior. O animal estava
carbonizado, expediente usado pela população para amenizar o mau cheiro.
Um pouco depois dali, entre a
pista e o cercado de uma propriedade rural, observa-se uma vaca malhada que,
pelas características, havia morrido fazia pouco tempo. Estava ainda inchada,
exalando odor insuportável e cercada por não menos que 40 urubus. Um vira-lata
esfomeado tentava disputar espaço com o bando. Ao redor dela, outras três
carcaças, estiradas há dias, já ressequidas pelo sol inclemente, sobre um chão
de terra onde os ossos de gado morto são mais comuns que a plantação.
Enquanto a reportagem registrava
o cenário desolador, na altura de Pesqueira, um agricultor que passava de
carroça com seu jumento pelo acostamento da rodovia federal resolveu parar.
Carregava o pouco que conseguiu para levar para casa – o pouco que seu animal,
fragilizado pela seca, era capaz de suportar: dois garrafões e três baldes de
água, além de duas sacolas com algumas poucas frutas e verduras. “Não chove há
ano e meio. Nossa situação não está fácil”, disse o rapaz, em tom de
resignação.
DESESPERO - O trabalhador rural
confessou que, sem vislumbrar melhora num futuro próximo, muitos criadores de
gado estão doando seus bichos antes que eles morram. Compradores conseguem
barganhar bezerros por menos de R$ 100. De tão enfraquecidos e doentes, alguns
não aguentam sequer o transporte até a capital. Morrem antes.
Na zona urbana de Pesqueira, a
água só vem de 20 em 20 dias, de acordo com o relato da comerciante Creuza
Brito, 63 anos. Quando a reportagem chega, a vizinhança logo rodeia. Reclama do
descaso da gestão anterior e afirma que o prefeito Evandro Chacon tem se
esforçado para, no que depende do poder público, amenizar o sofrimento da
população.
“Do jeito que está fica muito
complicado para a gente. Não chove faz mais de ano. Nem lembro a última vez. A
água nas torneiras, só a cada 20 dias. Quem tem depósito consegue se segurar.
Quem não tem sofre, fica dependendo de carro-pipa”, relata Creuza. A viagem de
volta ao Recife reforça as certezas da ida. O Sertão se expandiu.
Wagner Sarmento/wsarmento@jc.com.br
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