O discurso de que os governos do
PT são os responsáveis pela retirada, nos últimos dez anos, de mais de 40
milhões de brasileiros da chamada pobreza extrema tornou-se um elemento
praticamente obrigatório nas agendas administrativas da presidente Dilma
Rousseff.
E o principal vetor que alimenta essa conta é, inegavelmente, o
programa social Bolsa Família. A ferramenta, que foi introduzida no primeiro
ano de administração do ex-presidente Lula, em 2003, teve o seu orçamento
reforçado com a petista.
Sob a sua tutela, o gasto anual
do Governo Federal com o benefício passou de R$ 17,3 bilhões, em 2011, para R$
R$ 24 bilhões, em 2013. Ao todo, são 13,5 milhões de famílias contempladas. Um
exército que pode ser determinante em um eventual crescimento da crise que
recai, e com força, sobre a chefe da Nação com as manifestações que se
multiplicam pelas ruas do País.
Com as expressivas quedas na
popularidade e na aprovação do governo da presidente Dilma, aferidas nas
últimas pesquisas especializadas, o sinal de alerta definitivamente acendeu no
Palácio do Planalto. O risco de insucesso na tentativa de reeleição da petista
e, em um caso extremo, de levante dessa massa que toma as ruas do Brasil contra
a sua permanência à frente do Executivo Nacional, os beneficiados pelo programa
Bolsa Família poderiam despontar como os grandes defensores de Dilma.
Integrantes de uma considerável
fatia da sociedade brasileira que nutre um sentimento de gratidão plena. Nos
olhos e, sobretudo, nas falas desses brasileiros, parece não faltar a
disposição necessária para lutar com o fim de assegurar a continuidade de uma
gestora que ainda não consegue responder ao novo momento do País. “Não tem
motivo para falar mal dela. A gente consegue manter a casa, comprar comida para
os filhos e tem uma vida melhor. Tudo está melhorando com Dilma”, atestou a
dona de casa Vanessa Miguel do Nascimento, 29 anos, moradora da comunidade
Portelinha, no município de Goiana (Zona da Mata Norte).
Companheira de Vanessa, a também
dona de casa Vilma Alves de Lima, 29 anos, vai além da simples defesa de Dilma
e garante que sairá às ruas para pedir a continuidade da petista à frente do
Governo Federal, caso as manifestações aumentem o tom das críticas à atual
gestão do Palácio do Planalto. “Eu vou protestar por ela. Se tiver algo desse
tipo, eu estarei com Dilma. Eu vou brigar por ela. A nossa casa tem gratidão
por quem nos ajudou”, destacou. O casal recebe R$ 290 do Bolsa Família por
quatro crianças, com idades entre 5 e 10 anos, frutos de relacionamentos
anteriores.
Como cada uma delas consegue
juntar cerca de R$ 100 por mês, com atividades informais, o valor do benefício
é determinante para a manutenção de sua moradia que possui três pequenos
cômodos e não dispõe de um banheiro sequer. “Como dinheiro que temos é o que dá
para manter. Não conseguimos nem ter um banheiro. A gente faz as necessidades
numa bolsa e depois joga fora”, relatou Vanessa.
Mestre em Ciência Política pela
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a professora Juliana Vitorino
ressalta que o discurso, muitas vezes ligados a militantes petistas, de que um
outro partido poderia extinguir o programa Bolsa Família acaba provocando um
efeito defensivo nos beneficiados pela transferência de renda. “Seria muito
difícil que um partido, por conta da importância e do alcance do programa,
encerre-o de uma forma instantânea. Mas o fato de o PT está à frente de sua
operação gera uma situação confortável e de vinculação direta com o Bolsa
Família”, observa.
Folha de Pernambuco
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