Brasília - O combate à violência
praticada contra a mulher tem um símbolo no Brasil: Maria da Penha.
Farmacêutica bioquímica, Maria da Penha chegou a ficar internada por quatro
meses devido a um tiro disparado pelo ex-marido, que a deixou paraplégica. O
caso ganhou repercussão e, apesar da morosidade da Justiça, resultou na
principal ferramenta jurídica de defesa das mulheres vítimas de violência. Ter
seu nome vinculado à lei não a faz esmorecer. Em entrevista ao programa 3 a 1,
da TV Brasil, ela admitiu que a lei sozinha, só no papel, não funciona. O
programa vai ao ar nesta quarta-feira (18), às 20h.
“Falta criar políticas públicas,
[e investimentos em] delegacias da mulher, centros de referências da mulher,
casa-abrigo e juizado”, disse Maria da Penha. “Mas não adianta ter a política
pública se quem está trabalhando não for sensível e não for capacitado [para
atender à mulher]”, acrescentou. Foram necessários quase 20 anos para que o
ex-marido fosse condenado pelo crime que cometeu. Ele ficou preso dez anos e
hoje está livre.
Penha considera a divulgação de
casos iguais ao dela, ocorrido em 1983, muito importante. Em outra ocasião,
lembrou a farmacêutica, ele tentou eletrocutá-la, danificando o chuveiro
elétrico. “[Por isso] vou escrever um livro e contar minha história”, anunciou
durante o programa. “O livro vai mostrar que o Poder Judiciário não faz justiça
e que as políticas públicas que devem ser criadas para atender à lei não
existem. [E mostrar que] gestor público não se sensibiliza [em casos que
envolvem violência contra mulheres]”.
A lentidão do Judiciário foi
criticada por ela durante a entrevista. “Eu vi a demora do Poder Judiciário,
deixando o processo dentro das gavetas e atendendo recursos procrastinadores
[impetrados com o objetivo de atrasar o processo]”. Penha lembrou que no
primeiro julgamento o marido foi condenado a uma pena de oito anos, mas acabou
livre por causa de recursos.
“Naquele momento, eu fiquei muito
angustiada. Já era conduta do Judiciário garantir a impunidade dos agressores
na época”, disse ela ao lembrar os efeitos que a situação causava em sua
família. “Precisamos criar nossos filhos em um ambiente saudável, uma ambiente
sem violência”, acrescentou. “E não adianta ter a política pública se quem está
trabalhando não for sensível e não for capacitado. Mudar a cultura é difícil.
Tem de haver um olhar público para quem tem a responsabilidade de aplicar e dar
agilidade aos processos”.
Agência Brasil
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