A morte do então arcebispo de
Olinda e Recife dom Helder Camara (1909-1999) poderia ser antecipada pelas
Forças Armadas.
Um complexo plano anticomunista do regime militar brasileiro
(1964-1985) teria acertado a morte do religioso, além das do ex-presidente
Juscelino Kubitschek e do ex-governador Carlos Lacerda, para o ano de 1968.
A
intenção dos militares era provocar a explosão do sistema de distribuição de
gás da cidade do Rio de Janeiro e criar um "clima favorável" à
perseguição de opositores. O projeto foi abortado depois de recusa de um
militar, o então capitão Sérgio Miranda, encarregado da missão.
"Eles queriam criar um clima
favorável para perseguir os comunistas", relatou Miranda. Segundo ele,
cerca de 100 mil pessoas poderiam ter morrido com o atentado. Depois da missão,
dom Helder, JK e Carlos Lacerda seriam sequestrados e seus corpos jogados no
mar. "Eu não me considero um herói", disse o ex-militar.
Essa história pode parecer,
inicialmente, até um contrassenso, mas faz parte de um conjunto de relatos
coletados no documentário Militares na democracia: os militares que disseram
não, dirigido e idealizado pelo cineasta carioca Silvio Tendler. O filme foi
exibido, com exclusividade, na tarde de ontem no Congresso Internacional dos 50
anos do Golpe de 1964, realizado na Universidade Católica de Pernambuco
(Unicap).
"Sempre quis contar essa
história. Pouca gente sabe, mas alguns militares resistiram ao golpe de 1964.
Vende-se a história do golpe como se fosse algo rápido e pronto, e não foi.
Foram 20 anos de sofrimento para eles, que foram colocados na reserva e
perderam até a licença em pilotar. Foram tempos difíceis", disse o
cineasta, após a primeira exibição do filme.
O documentário será lançado no dia
1º de abril nas comemorações do aniversário do golpe no Museu da República, no
Palácio do Catete (antiga sede da Presidência da República), na cidade do Rio
de Janeiro.
"A ideia deste filme ainda é
da década de 1980. Uma vez eu estava saindo do bairro da Tijuca, na cidade do
Rio de Janeiro, onde moro, e ia para o Aeroporto do Galeão. Conheci um taxista
que era militar e foi afastado por não concordar com o golpe. Ele procurou
outra profissão para sobreviver e nunca mais o encontrei", completou
Silvio Tendler. O documentário foi bastante aplaudido e será exibido em
festivais em todo o país, além das emissoras de TV públicas e privadas
brasileiras.
Diario dePernambuco
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