"Auto do salão do automóvel", com texto de Osman,
foi encenado no Recife em 2012 Divulgação
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Escritor é tema de seminário no
Recife. Evento vai debater o teatro, a literatura e o cinema do pernambucano
que completaria 90 anos no dia 5 de julho
Com texto épico, narrativo, em
terceira pessoa e provocativamente experimental, Osman Lins (1924-1978) fez do
teatro a literatura viva, como o próprio autor afirmava. Dono de uma
dramaturgia maior do que a própria cena, se estivesse vivo o escritor nascido
em Vitória de Santo Antão teria completado 90 anos no último dia 5. Marcado por
uma estética narrativa pouco popular, mas tida como vanguardista pelos
estudiosos, Osman é tema do seminário Leituras Cruzadas 3, que acontece de
sexta a domingo, no Teatro Hermilo Borba Filho, com entrada gratuita.
Promovendo diálogo entre
diferentes linguagens artísticas, o evento conta com palestras, leitura
dramática, ensaio aberto de espetáculo, exibição de vídeos e debates. Uma
maneira de se perceber e entender a complexidade e a contemporaneidade de um
homem que fez a sua obra anos à frente do tempo dele. Na abertura do seminário,
sexta, às 19h, a secretária de Cultura do Recife, Leda Alves, e a filha mais
nova de Osman, Ângela Lins, conversam sobre momentos significativos da vida e
da obra do autor.
Para o professor de literatura da
Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e escritor Robson Teles, também
conhecedor da obra de Osman e um dos participantes do seminário (sábado, às
19h20). Ele palestra com Luiz Carlos Vasconcelos (PB) sobre o teatro de Osman.
Para Robson, o autor homenageado é “um dos mais importantes do século 20”, no
entanto “mais conhecido na França e em São Paulo do que em Pernambuco”. “A
importância de um evento como este é não só para o acadêmicos, mas para a
sociedade pernambucana e recifense”, diz Robson, que pontua o trabalho de Osman
como atemporal e universal. “Em O diabo na noite de Natal, por exemplo, ele
discute o diálogo entre a cultura popular e a massificação hollywoodiana: numa
noite de Natal, há o encontro do Superman e do Capitão América com a cultura
local. Ele levou isso ao público infantojuvenil com uma reflexão crítica.”
Com a máxima “escrevo para teatro
como escrevo poesia, isto é, sem considerar-me rigorosamente um dramaturgo ou
um poeta”, Osman Lins se mantém na lista de dramaturgos brasileiros com uma
verve política e estética bem definida. Formado em teatro pela Escola de Belas
Artes da UFPE, no início da década 1960, ele estreia como autor de peças
lançando Lisbela e o prisioneiro, a mais popular de suas obras.
“Quase ninguém sabe, mas Lisbela
foi o trabalho de conclusão de curso de Osman, na Escola de Belas Artes”,
lembra o professor e coordenador da licenciatura de teatro da UFPE, Luís Reis,
para quem se destaca, como grandes textos teatrais osmanianos, a trilogia dos
anos 1970, formada por O auto do salão do automóvel, Doze soldados de Herodes e
O mistério das figuras de barro. “Eu as considero três obras-primas da
dramaturgia brasileira, porque desafiam o encenador como possibilidade cênica,
de vanguarda”, diz Luís, responsável pela coordenação dramatúrgica da segunda
montagem de O auto do salão..., encenada no Recife em 2012, com direção de
Kléber Lourenço.
Jornal do Commercio
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