quarta-feira, 16 de julho de 2014

A literatura viva de Osman Lins

"Auto do salão do automóvel", com texto de Osman, 
foi encenado no Recife em 2012 Divulgação
Escritor é tema de seminário no Recife. Evento vai debater o teatro, a literatura e o cinema do pernambucano que completaria 90 anos no dia 5 de julho

Com texto épico, narrativo, em terceira pessoa e provocativamente experimental, Osman Lins (1924-1978) fez do teatro a literatura viva, como o próprio autor afirmava. Dono de uma dramaturgia maior do que a própria cena, se estivesse vivo o escritor nascido em Vitória de Santo Antão teria completado 90 anos no último dia 5. Marcado por uma estética narrativa pouco popular, mas tida como vanguardista pelos estudiosos, Osman é tema do seminário Leituras Cruzadas 3, que acontece de sexta a domingo, no Teatro Hermilo Borba Filho, com entrada gratuita.

Promovendo diálogo entre diferentes linguagens artísticas, o evento conta com palestras, leitura dramática, ensaio aberto de espetáculo, exibição de vídeos e debates. Uma maneira de se perceber e entender a complexidade e a contemporaneidade de um homem que fez a sua obra anos à frente do tempo dele. Na abertura do seminário, sexta, às 19h, a secretária de Cultura do Recife, Leda Alves, e a filha mais nova de Osman, Ângela Lins, conversam sobre momentos significativos da vida e da obra do autor.

Para o professor de literatura da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e escritor Robson Teles, também conhecedor da obra de Osman e um dos participantes do seminário (sábado, às 19h20). Ele palestra com Luiz Carlos Vasconcelos (PB) sobre o teatro de Osman. Para Robson, o autor homenageado é “um dos mais importantes do século 20”, no entanto “mais conhecido na França e em São Paulo do que em Pernambuco”. “A importância de um evento como este é não só para o acadêmicos, mas para a sociedade pernambucana e recifense”, diz Robson, que pontua o trabalho de Osman como atemporal e universal. “Em O diabo na noite de Natal, por exemplo, ele discute o diálogo entre a cultura popular e a massificação hollywoodiana: numa noite de Natal, há o encontro do Superman e do Capitão América com a cultura local. Ele levou isso ao público infantojuvenil com uma reflexão crítica.”

Com a máxima “escrevo para teatro como escrevo poesia, isto é, sem considerar-me rigorosamente um dramaturgo ou um poeta”, Osman Lins se mantém na lista de dramaturgos brasileiros com uma verve política e estética bem definida. Formado em teatro pela Escola de Belas Artes da UFPE, no início da década 1960, ele estreia como autor de peças lançando Lisbela e o prisioneiro, a mais popular de suas obras.

“Quase ninguém sabe, mas Lisbela foi o trabalho de conclusão de curso de Osman, na Escola de Belas Artes”, lembra o professor e coordenador da licenciatura de teatro da UFPE, Luís Reis, para quem se destaca, como grandes textos teatrais osmanianos, a trilogia dos anos 1970, formada por O auto do salão do automóvel, Doze soldados de Herodes e O mistério das figuras de barro. “Eu as considero três obras-primas da dramaturgia brasileira, porque desafiam o encenador como possibilidade cênica, de vanguarda”, diz Luís, responsável pela coordenação dramatúrgica da segunda montagem de O auto do salão..., encenada no Recife em 2012, com direção de Kléber Lourenço.

Jornal do Commercio

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