O coronel Wilson Machado, dono do
carro em que explodiu uma das bombas no atentado ao Riocentro, em 1981,
compareceu hoje (30) à Comissão Nacional da Verdade (CNV), mas se negou a
responder às perguntas por afirmar que já prestou todos os esclarecimentos à
Justiça. Segundo testemunhas e os dados levantados pela própria CNV, o, então,
capitão estava no carro, se feriu com a explosão acidental e teve que ser
socorrido, enquanto preparava o ataque ao show que reunia 20 mil pessoas.
Machado foi denunciado pelo
Ministério Público por homicídio doloso, atentado duplamente qualificado,
associação criminosa armada e transporte de explosivos, porém o processo foi
declarado prescrito pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que, por 2
votos a 1, não reconheceu que era crime contra a humanidade, o que o impediria
de prescrever mesmo 33 anos depois.
O militar reformado repetiu a
estratégia de outros representados pelo advogado Rodrigo Roca, que compareceram
à comissão ao longo da semana, mas se calaram diante dos questionamentos.
"Já prestei todos os
esclarecimentos à Justiça Militar três vezes e fui julgado pelo Superior
Tribunal Militar. Prestei esclarecimento ao Ministério Público duas vezes. Está
tudo lá", afirmou ele, que destacou ter feito parte do destacamento de
operações entre agosto de 1980 e abril de 1981, mês em que foi realizado o
atentado, no dia 30.
Membros da comissão insistiram
para que ele respondesse, e afirmaram que não se tratava de um processo
judicial ou de um julgamento, mas sim de ouvir a versão dele para registro
histórico. "Não estamos aqui por implicância ou por revolta com o ato por
ele cometido", chegou a dizer José Carlos Dias. Roca discordou e disse que
os depoentes da comissão passam, sim, pelo crivo do judiciário e que, se eles
comparecem e apresentam justificativa, é por uma questão de respeito.
Com o fim da sessão, Wilson
Machado também ouviu perguntas da imprensa enquanto se retirava da sala, mas
continuou calado. Já o advogado do militar mostrou irritação porque a imprensa
não se retirou da sala como nas outras vezes: "Você deu sua palavra de
homem e não cumpriu comigo", chegou a dizer para o coordenador da comissão,
Pedro Dallari, que afirmou que não havia sentido em retirar a imprensa da sala,
já que nenhuma declaração seria dada por Wilson Machado. Roca disse ainda que
nenhum de seus clientes voltará a "colaborar" com a CNV, pois Wilson
foi vítima de "desrespeito e descortesia": "Ele faltou com a
promessa que fez a mim e a uma sala cheia de testemunhas", afirmou,
defendendo que o comparecimento, mesmo sem dar declarações, é uma colaboração.
O advogado também defende o
general reformado José Antônio Nogueira Belham, cujo depoimento é considerado
importante para a comissão, já que o militar comandava o Destacamento de
Operações e Informações (DOI), do 1º Exército, em janeiro de 1971, quando o
deputado federal Rubens Paiva foi morto por integrantes do DOI. Durante a
sessão, ele havia se colocado à disposição para "compatibilizar as
agendas", já que a comissão não conseguiu ouvi-lo em Brasília, na semana
passada, porque ele estava no Rio, nem na capital fluminense, nesta semana,
porque ele alega estar em Brasília.
O coordenador da comissão afirmou
que não faltou com sua palavra porque não fez perguntas a Wilson Machado na
frente da imprensa, solicitando que falasse apenas para responder se diria algo
ou não e para que dissesse suas palavras finais. Sobre a possibilidade de
conduzir coercitivamente os próximos clientes de Roca, ele afirmou que não
seria bom para ninguém: "Se um cliente dele se recusar a depor, a lei nos
autoriza a condução coercitiva. Seria extremamente inadequado. Não seria bom
nem para eles nem para a comissão".
A colaboração de Wilson, na visão
de Dallari, era importante para esclarecer a linha de comando por trás do
atentado do Riocentro: "O Riocentro não foi um atentado feito por alguns
lunáticos, foi organizado pelo regime militar em um contexto em que a
utilização de atentados à bomba se deu de maneira sistemática no Brasil. Foram
mais de 40, e o do Riocentro seria o mais trágico de todos. O esclarecimento de
quem deu as ordens seria muito importante para a comissão".
Agência Brasil
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