Mãe de uma usuária, Maria Alice da Costa está convencida: “Maconha não é recreação e nunca vai ser”Foto: Geraldo Magela/Agência Senado |
A audiência nesta segunda-feira
(22) no Senado mostrou como é difícil, para os senadores da Comissão de
Direitos Humanos e Legislação participativa (CDH), tomar uma decisão quanto a
transformar ou não em projeto de lei a sugestão popular de regulamentar o
consumo de maconha. Essa foi a observação do senador Cristovam Buarque
(PDT-DF), que presidiu o debate e é relator da sugestão.
Após a apresentação dos
palestrantes, Cristovam permitiu a manifestação de pessoas que acompanhavam o
debate e a primeira a falar foi a professora da rede pública Maria Alice da
Costa. Ela contou o drama da filha, hoje com 26 anos, dependente de drogas
desde os 14 anos e submetida à sétima internação em uma clínica de
reabilitação.
Ela revelou que a filha inicialmente
experimentou a maconha “para se divertir”, mas depois buscou drogas mais
pesadas, como o crack, e se tornou dependente. Nos últimos 12 anos, Maria Alice
resgatou a filha de “lugares tenebrosos” e tentou sua recuperação por diversos
caminhos, mas a filha sempre voltava às ruas. Conforme contou, a filha hoje
pesa 35 quilos e, bastante ferida, foi levada à clínica para mais uma tentativa
de se livrar das drogas.
– Uso recreativo leva a
dependência. Maconha não é recreação e nunca vai ser. Sempre vai ser caixão e
sempre vai ser dor, dor profunda – disse.
Prisão
Logo depois do depoimento de
Maria Alice, os senadores ouviram outra mãe, Zilpa de Souza, que também
enfrenta o problema das drogas, mas que defende a legalização da maconha. Ela
contou que o filho fuma maconha, mesmo contra sua vontade, mas não consome
outras drogas. Mesmo assim, “sempre esteve nas mãos dos traficantes” por conta
do vício.
Para evitar os riscos e a
violência que permeiam a venda de drogas, Zilpa autorizou o filho a plantar a
maconha em casa, para consumo próprio. Mas essa prática foi denunciada à
polícia, que invadiu sua casa de maneira violenta, contou, resultando na prisão
do filho.
– Por mais de dois anos, eu dormi
uma vez por semana na fila na porta do presídio, para chegar mais cedo para ver
meu filho, preso como traficante, o que ele não era. Ele só plantava sua
maconha, não vendia para ninguém. Deixei meu filho plantar para não ficar refém
de traficantes. Não sou feliz com isso, mas não quero que meu filho passe por
tudo o que passou na cadeia – disse.
Na opinião de Cristovam Buarque,
os depoimentos mostram que a proibição da forma como prevista na legislação não
impede que jovens se envolvam com drogas e ainda leva usuários à prisão,
agravando o problema.
– Esses dois depoimentos mostram
as dificuldades desse processo. Num caso, o uso recreativo levou a uma
dependência, que levou a uma degradação completa da vida. No outro, a maneira
de proibir levou ao constrangimento da mãe, que poderia ter perdido o filho na
cadeia, não só pela morte, mas que poderia ter se transformado num bandido –
afirmou Cristovam.
Para o parlamentar, o Senado deve
se debruçar sobre o assunto e encontrar um caminho não só para evitar que
jovens continuem caindo na dependência das drogas, como também para evitar que
usuários sejam transformados em criminosos.
Presente ao debate, o senador
Fleury (DEM-GO) se posicionou contrário à liberação do uso recreativo da droga
e disse ser necessário um estudo para a regulamentação de medicamentos feitos a
partir de substâncias retiradas da maconha, como o canabidiol, utilizado em
pacientes com doenças neurológicas.
– Prefiro a importação desse
remédio, a custo zero para quem necessita, porque este país jamais terá
condições de fiscalizar as plantações para produção do medicamento – opinou
Fleury.
Outras drogas
Contra a legalização, os
senadores ouviram ainda depoimentos de ex-usuários, como Guilherme Bezerra, que
considera a maconha uma porta de entrada para outras drogas, levando o jovem a
banalizar o uso de outras substâncias mais fortes.
Também ouviram relatos de pessoas
que prestam assistência a dependentes, como Weslani Dias, que trabalha com
crianças em situação de risco e moradores de rua. Relatando trabalho em
diversas cidades, em atendimento a dependentes de drogas, ela disse ser
evidente que o consumo de maconha leva à dependência por outras drogas.
– Nunca vi nenhum me dizer que
não começou com a maconha – frisou, ao condenar a legalização do consumo de
maconha.
Favoráveis
Entre os favoráveis à
legalização, Emílio Figueiredo argumentou que a proibição não protege os
jovens, que são os mais vulneráveis às drogas. Ele também afirmou que a
proibição agrava a violência policial contra jovens pretos e pobres, causando
ainda a superlotação nas prisões.
Também Daniele Rodrigues, uma das
fundadoras do movimento Marcha da Maconha, considera que a lei hoje em vigor
pune a população mais pobre. Conforme afirmou, moradores de bairros de luxo
plantam maconha sem medo de terem suas casas invadidas pela polícia.
A maconha já é legalizada,
porque você encontra maconha em vários lugares. Qualquer pessoa pode comprar,
inclusive crianças – afirmou.
Agência Senado
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