As artes plásticas pernambucanas
perdem um de seus integrantes mais talentosos na manhã desta terça-feira. O
desenhista, gravurista, ceramista e escultor Abelardo da Hora, de 90 anos,
faleceu devido a um edema pulmonar, às 8h45, após passar mais de 15 dias
internado no hospital Memorial São José. Ao longo de 2014, o artista já havia
sido internado várias vezes devido a problemas respiratórios, mas sua situação
se agravou nos últimos dias. Viúvo, Abelardo deixa sete filhos.
O enterro está previsto para a
manhã da quarta-feira no Cemitério de Santo Amaro, na mesma região onde o
artista vivia. Seu ateliê funcionava em sua casa na Rua do Sossego. Um dos
pilares da arte moderna em Pernambuco, sua atuação foi extensa e produtiva, em
uma carreira que ultrapassou 60 anos de duração. Sua última obra pública foi a
escultura O artilheiro, erguida na Arena Pernambuco e inaugurada no dia 31 de
julho, aniversário do artista, que nasceu em Nazaré da Mata em 1924.
Nesta última internação
hospitalar, Abelardo enfrentou uma virose, uma pneumonia, uma infecção pulmonar
e um AVC, antes de sofrer o endema que o vitimou. "Ele foi um guerreiro
que driblou tudo isso enquanto estava no hospital", observou Abelardo da
Hora Filho, que o ajudava de perto em seus últimos projetos. Segundo ele, um
dos motivos dos problemas respiratórios de seu pai era o contato com os
materiais que trabalhava em seu ateliê, como pós de cimento e gesso.
Ele nunca deixou de trabalhar em
suas esculturas. Muitas vezes, a discussão de temáticas sociais e a abordagem
de tipos populares foram objeto da atenção de Abelardo. Além de seu talento
artístico, a atuação de Abelardo também foi notável na esfera social e
política. Foi secretário de cultura do Recife nos mandatos de Pelópidas
Silveira e Miguel Arraes, mas seus direitos políticos foram cassados com a
instauração do regime militar, a partir de 1964. Por ser cunhado do prefeito
Augusto Lucena, colocado no cargo pela ditadura, foi poupado.
Galanteador, Abelardo sempre foi
uma pessoa sociável, que gostava de uma boa conversa. Por conta disso, deixou
muitos amigos na classe artística, além do irmão mais novo, o cantor Claudionor
Germano. Seu temperamento aglutinador também fez dele uma figura atuante em
grupos artísticos pernambucanos: foi um dos fundadores do Atelier Coletivo, que
ministrava cursos de desenho e do qual participaram nomes representativos das
artes em Pernambuco, como José Cláudio e Gilvan Samico (1928-2013). Na virada
dos anos 50 para 60, se torna um dos mentores do Movimento de Cultura Popular,
posto em funcionamento durante o governo de Miguel Arraes.
Assista a vídeo sobre os 90 anos
de Abelardo da Hora
Diário de Pernambuco
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