Diferentemente dos delegados da
Polícia Civil, os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) sempre
consideraram três linhas de investigação para elucidar a execução do promotor
Thiago Faria Soares, morto em emboscada numa rodovia estadual, no Agreste
pernambucano. É esta a origem da crise que se instalou entre as duas
instituições e prejudicou o andamento do inquérito a ponto da
Procuradoria-Geral de República pedir e o Superior Tribunal de Justiça (STJ)
decidir pela entrada da Polícia Federal no comando da apuração. No próximo dia
14, o assassinato do promotor de Itaíba completará um ano e nenhum suspeito
está detido.
Desde o início, os policiais
designados para presidir o inquérito trabalhavam com uma tese: inconformado por
ter perdido a disputa judicial por terras, o fazendeiro José Maria Pedro
Rosendo Barbosa decidiu se vingar de Thiago Faria. A noiva do promotor, a
advogada Mysheva Martins, foi quem arrematou em leilão 25 hectares da Fazenda
Nova, em outubro de 2012, onde Zé Maria, como é conhecido, ainda morava mesmo
sem ser o dono da propriedade. Mas, em junho de 2013, a imissão de posse foi
dada pela Justiça. Zé Maria creditou sua expulsão da área à interferência do
promotor e planejou a execução dele.
Os quatro promotores do Gaeco
concordavam com os delegados que o fazendeiro era um dos suspeitos. Mas
avaliavam que outras duas pessoas deveriam entrar na lista de possíveis
mandantes do crime: Genival Martins dos Santos, por vingança, e Glécio Oliveira
Júnior, por ciúmes. Os dois são primo e ex-noivo de Mysheva, respectivamente.
Genival foi condenado num tribunal do júri por crime contra a vida, com uma
atuação contundente do promotor. Para os membros do MPPE, Glécio Júnior poderia
também ter encomendado a morte de Thiago Faria irritado com a aproximação do
casamento da vítima com a advogada.
“Todos os cenários inicialmente
estabelecidos, portanto, como linhas de investigação, passam pelas organizações
criminosas evidenciadas pela CPI”, escreveu o ministro Rogerio Schietti Cruz,
relator no STJ do pedido de deslocamento de competência da investigação e
futura tramitação da ação penal, acatando os argumentos dos promotores.
Schietti refere-se à Comissão Parlamentar de Inquérito que a Assembleia
Legislativa instalou em 2000. À época, o trabalho concluiu que existiam três
grupos com envolvimento em roubos de carga, assaltos a banco e crimes de
sangue. Um deles chefiado por Zé Maria e outro sob o domínio da família
Martins.
Além da crise institucional entre
Polícia Civil e MPPE, os indicativos que ligam o crime às milícias, em qualquer
um dos três cenários traçados por promotores do Gaeco, foi outro argumento que
fundamentou o pedido de federalização das investigações. “Há necessidade de se
proceder o deslocamento de competência, sendo que o Estado de Pernambuco não
detém condições para o enfrentamento isolado da situação. Há interesses,
inclusive, políticos, que podem prevalecer em detrimento da paz social”,
transcreveu o ministro do STJ.
No dia 11 de dezembro, quase dois
meses após a morte do promotor, Genival Martins sofreu um atentado ao lado da
esposa, quando chegava à sua casa, na zona rural de Itaíba. Três homens, um
deles ex-presidiário, surpreenderam o casal. Genival estava armado e reagiu. A
mulher morreu na troca de tiros. Ferido levemente por estilhaços de vidro,
Genival foi socorrido e depois preso em flagrante por porte ilegal de arma e
tentativa de homicídio. Com ele, a polícia encontrou um revólver 38 e uma
espingarda calibre 12. À época, a Secretaria de Defesa Social disse que o
atentado não teve ligação com a morte do promotor.
Do Jornal do Commercio
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