quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Três linhas de investigação no caso da morte do promotor

Diferentemente dos delegados da Polícia Civil, os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) sempre consideraram três linhas de investigação para elucidar a execução do promotor Thiago Faria Soares, morto em emboscada numa rodovia estadual, no Agreste pernambucano. É esta a origem da crise que se instalou entre as duas instituições e prejudicou o andamento do inquérito a ponto da Procuradoria-Geral de República pedir e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidir pela entrada da Polícia Federal no comando da apuração. No próximo dia 14, o assassinato do promotor de Itaíba completará um ano e nenhum suspeito está detido.

Desde o início, os policiais designados para presidir o inquérito trabalhavam com uma tese: inconformado por ter perdido a disputa judicial por terras, o fazendeiro José Maria Pedro Rosendo Barbosa decidiu se vingar de Thiago Faria. A noiva do promotor, a advogada Mysheva Martins, foi quem arrematou em leilão 25 hectares da Fazenda Nova, em outubro de 2012, onde Zé Maria, como é conhecido, ainda morava mesmo sem ser o dono da propriedade. Mas, em junho de 2013, a imissão de posse foi dada pela Justiça. Zé Maria creditou sua expulsão da área à interferência do promotor e planejou a execução dele.

Os quatro promotores do Gaeco concordavam com os delegados que o fazendeiro era um dos suspeitos. Mas avaliavam que outras duas pessoas deveriam entrar na lista de possíveis mandantes do crime: Genival Martins dos Santos, por vingança, e Glécio Oliveira Júnior, por ciúmes. Os dois são primo e ex-noivo de Mysheva, respectivamente. Genival foi condenado num tribunal do júri por crime contra a vida, com uma atuação contundente do promotor. Para os membros do MPPE, Glécio Júnior poderia também ter encomendado a morte de Thiago Faria irritado com a aproximação do casamento da vítima com a advogada.

“Todos os cenários inicialmente estabelecidos, portanto, como linhas de investigação, passam pelas organizações criminosas evidenciadas pela CPI”, escreveu o ministro Rogerio Schietti Cruz, relator no STJ do pedido de deslocamento de competência da investigação e futura tramitação da ação penal, acatando os argumentos dos promotores. Schietti refere-se à Comissão Parlamentar de Inquérito que a Assembleia Legislativa instalou em 2000. À época, o trabalho concluiu que existiam três grupos com envolvimento em roubos de carga, assaltos a banco e crimes de sangue. Um deles chefiado por Zé Maria e outro sob o domínio da família Martins.

Além da crise institucional entre Polícia Civil e MPPE, os indicativos que ligam o crime às milícias, em qualquer um dos três cenários traçados por promotores do Gaeco, foi outro argumento que fundamentou o pedido de federalização das investigações. “Há necessidade de se proceder o deslocamento de competência, sendo que o Estado de Pernambuco não detém condições para o enfrentamento isolado da situação. Há interesses, inclusive, políticos, que podem prevalecer em detrimento da paz social”, transcreveu o ministro do STJ.

No dia 11 de dezembro, quase dois meses após a morte do promotor, Genival Martins sofreu um atentado ao lado da esposa, quando chegava à sua casa, na zona rural de Itaíba. Três homens, um deles ex-presidiário, surpreenderam o casal. Genival estava armado e reagiu. A mulher morreu na troca de tiros. Ferido levemente por estilhaços de vidro, Genival foi socorrido e depois preso em flagrante por porte ilegal de arma e tentativa de homicídio. Com ele, a polícia encontrou um revólver 38 e uma espingarda calibre 12. À época, a Secretaria de Defesa Social disse que o atentado não teve ligação com a morte do promotor.


Do Jornal do Commercio

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