Os sucessivos aumentos na tarifa
de energia elétrica, previstos para chegar a 32% este ano em Pernambuco devem
provocar um efeito cascata e amarrar o desempenho econômico. Serão, ao todo
dois aumentos, a revisão anual (estimada em 20%) e a extraordinária (orçada em
12%), além da bandeira tarifária, já em vigor. O primeiro impacto, segundo
especialistas, será na inflação, que deve ultrapassar o teto da meta, de 6,5%,
pressionada pelas elevações nos custos de produção de setores importantes como
o industrial, comercial e de serviços.
De acordo com o professor da
Faculdade Boa Viagem (FBV), Marcelo Barros, a energia é um componente forte
para o cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a
inflação oficial, porque “é um insumo importantíssimo para os setores, que, com
um aumento dessa magnitude, não terão como absorver os seus custos e,
consequentemente, vão repassar para seus clientes”. Para ele, a expectativa de
alta para 7% é realista e provável, já que o IPCA encerrou 2014 com 6,41%. “A
alternativa para diminuir esse resultado, coisa que Levy (Ministro da Fazenda)
vem fazendo, será apertar a economia com aumentos de juros e implantação de uma
política fiscal restritiva”, analisou Barros.
Esse efeito cascata, na opinião
do também professor da FBV, Antônio Pessoa, começa quando o preço da
eletricidade começa a recair no bolso do consumidor final. “Numa padaria, por
exemplo, os insumos básicos são trigo, mão de obra e energia, quando este
último sobe, é natural que os custos sejam repassados”, exemplificou. A opinião
de Pessoa é compartilhada pelo presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do
Recife (CDL/Recife), Eduardo Catão, que considera que a única alternativa será
o repasse dos gastos para o consumidor final. “O aumento para o cliente deverá
ser proporcional ao reajuste na conta de luz”, comentou.
Questionado, na quarta-feira
(14), sobre o impacto da nova política tarifária do Governo, o ministro de
Minas e Energia, Eduardo Braga, negou que o reajuste chegue a 40% este ano. Ele
deu a entender que o cálculo do reajuste pode sofrer uma “mudança
significativa”. O ministro não deu detalhes sobre a forma que isso poderia
ocorrer, mas sinalizou que o impacto do empréstimo de R$ 17,8 bilhões nas
tarifas poderá ser menor. Uma das alternativas avaliadas pelo Governo é alongar
o prazo de pagamento desses empréstimos para diluir o impacto sobre as contas
dos brasileiros.
Repercussão
A priori, o segmento industrial
estuda não passar adiante os custos em função da retração econômica, segundo o
vice-presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Ricardo
Essinger. “O maior dos problemas será o impacto na competitividade, sobretudo
no mercado internacional e, automaticamente, no interno”, ressaltou.
O setor hoteleiro também deve
manter as tarifas para o consumidor final, de acordo com o presidente da
Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIHPE), Eduardo
Cavalcanti. “O mercado hoteleiro não suporta um aumento. Pelo menos não de
imediato. O empresário terá que arcar com mais essa despesa sozinho”, comentou.
A energia, ainda segundo Cavalcanti, é a segunda maior despesa para o segmento
no Estado e um reajuste nas contas de luz irá pesar bastante no bolso do
hoteleiro. “O custo de energia de um hotel varia, em média, de 8% a 10%. Esse aumento
vai impactar bastante”, lamentou.
Condomínio fica mais caro
Se o reajuste da energia estimado
após os últimos anúncios do Governo for consumado, quem mora em apartamento e
paga condomínio não ficará satisfeito com a previsão do diretor de Condomínios
do Sindicato da Habitação de Pernambuco (Secovi-PE), Márcio Gomes. “A partir
desse aumento, o valor do condomínio deve aumentar, em média, entre 10% e 14%”,
disse, acrescentando que o índice deve sofrer variação de acordo com as
peculiaridades de cada prédio.
Apesar de ser a terceira despesa
mais cara (ficando atrás apenas do salário dos empregados e do INSS),
representando entre 7% e 12% dos gastos condominiais ordinários, apenas o
aumento previsto nas contas de energia implicaria na necessidade de um reajuste
na ordem de 4% no valor da energia do condomínio. “Esse acréscimo seria somente
para custear essa adaptação (à tarifa), o que seria muito impactante, uma vez
que o reajuste total das taxas em Pernambuco ficam entre 7% e 10% ao ano. Com
esse aumento, essa média subiria, pelo menos, 3 pontos percentuais”, comentou
Gomes.
O presidente do Secovi-PE, Elísio
Cruz, assim como o diretor Márcio Gomes, acredita em um reajuste de 4% nas
despesas de energia de um prédio, mas considera que o cenário pode piorar, com
uma variação maior, de até 6%, se levado em consideração um maior consumo de
energia nas áreas comuns do condomínio, custo rateado pelos condôminos. Mesmo
com apartamentos que pagam taxas razoáveis, Cruz considera um aumento
significativo. “Estamos falando somente da alta de um item, mas existem outros
que também são bastante relevantes”, disse.
Além do aumento da energia, as
cerca de dez mil unidades condominiais registradas no Recife têm que contar,
todo ano, com os gastos que mais influenciam no aumento do valor do condomínio:
o aumento salarial - que já sofreu reajuste de 8,84% no começo deste mês -,
água e gás. Dos três, de acordo com Gomes, o único item que os síndicos ainda
podem negociar com os fornecedores para tentar baratear o valor da taxa
condominial é o gás.
Folha de Pernambuco
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