quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Efeito cascata da conta de luz deve atingir indústria, comércio e chegar ao consumidor

Os sucessivos aumentos na tarifa de energia elétrica, previstos para chegar a 32% este ano em Pernambuco devem provocar um efeito cascata e amarrar o desempenho econômico. Serão, ao todo dois aumentos, a revisão anual (estimada em 20%) e a extraordinária (orçada em 12%), além da bandeira tarifária, já em vigor. O primeiro impacto, segundo especialistas, será na inflação, que deve ultrapassar o teto da meta, de 6,5%, pressionada pelas elevações nos custos de produção de setores importantes como o industrial, comercial e de serviços.

De acordo com o professor da Faculdade Boa Viagem (FBV), Marcelo Barros, a energia é um componente forte para o cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, porque “é um insumo importantíssimo para os setores, que, com um aumento dessa magnitude, não terão como absorver os seus custos e, consequentemente, vão repassar para seus clientes”. Para ele, a expectativa de alta para 7% é realista e provável, já que o IPCA encerrou 2014 com 6,41%. “A alternativa para diminuir esse resultado, coisa que Levy (Ministro da Fazenda) vem fazendo, será apertar a economia com aumentos de juros e implantação de uma política fiscal restritiva”, analisou Barros.

Esse efeito cascata, na opinião do também professor da FBV, Antônio Pessoa, começa quando o preço da eletricidade começa a recair no bolso do consumidor final. “Numa padaria, por exemplo, os insumos básicos são trigo, mão de obra e energia, quando este último sobe, é natural que os custos sejam repassados”, exemplificou. A opinião de Pessoa é compartilhada pelo presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL/Recife), Eduardo Catão, que considera que a única alternativa será o repasse dos gastos para o consumidor final. “O aumento para o cliente deverá ser proporcional ao reajuste na conta de luz”, comentou.

Questionado, na quarta-feira (14), sobre o impacto da nova política tarifária do Governo, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, negou que o reajuste chegue a 40% este ano. Ele deu a entender que o cálculo do reajuste pode sofrer uma “mudança significativa”. O ministro não deu detalhes sobre a forma que isso poderia ocorrer, mas sinalizou que o impacto do empréstimo de R$ 17,8 bilhões nas tarifas poderá ser menor. Uma das alternativas avaliadas pelo Governo é alongar o prazo de pagamento desses empréstimos para diluir o impacto sobre as contas dos brasileiros.

Repercussão

A priori, o segmento industrial estuda não passar adiante os custos em função da retração econômica, segundo o vice-presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Ricardo Essinger. “O maior dos problemas será o impacto na competitividade, sobretudo no mercado internacional e, automaticamente, no interno”, ressaltou.

O setor hoteleiro também deve manter as tarifas para o consumidor final, de acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIHPE), Eduardo Cavalcanti. “O mercado hoteleiro não suporta um aumento. Pelo menos não de imediato. O empresário terá que arcar com mais essa despesa sozinho”, comentou. A energia, ainda segundo Cavalcanti, é a segunda maior despesa para o segmento no Estado e um reajuste nas contas de luz irá pesar bastante no bolso do hoteleiro. “O custo de energia de um hotel varia, em média, de 8% a 10%. Esse aumento vai impactar bastante”, lamentou.

Condomínio fica mais caro

Se o reajuste da energia estimado após os últimos anúncios do Governo for consumado, quem mora em apartamento e paga condomínio não ficará satisfeito com a previsão do diretor de Condomínios do Sindicato da Habitação de Pernambuco (Secovi-PE), Márcio Gomes. “A partir desse aumento, o valor do condomínio deve aumentar, em média, entre 10% e 14%”, disse, acrescentando que o índice deve sofrer variação de acordo com as peculiaridades de cada prédio.

Apesar de ser a terceira despesa mais cara (ficando atrás apenas do salário dos empregados e do INSS), representando entre 7% e 12% dos gastos condominiais ordinários, apenas o aumento previsto nas contas de energia implicaria na necessidade de um reajuste na ordem de 4% no valor da energia do condomínio. “Esse acréscimo seria somente para custear essa adaptação (à tarifa), o que seria muito impactante, uma vez que o reajuste total das taxas em Pernambuco ficam entre 7% e 10% ao ano. Com esse aumento, essa média subiria, pelo menos, 3 pontos percentuais”, comentou Gomes.

O presidente do Secovi-PE, Elísio Cruz, assim como o diretor Márcio Gomes, acredita em um reajuste de 4% nas despesas de energia de um prédio, mas considera que o cenário pode piorar, com uma variação maior, de até 6%, se levado em consideração um maior consumo de energia nas áreas comuns do condomínio, custo rateado pelos condôminos. Mesmo com apartamentos que pagam taxas razoáveis, Cruz considera um aumento significativo. “Estamos falando somente da alta de um item, mas existem outros que também são bastante relevantes”, disse.

Além do aumento da energia, as cerca de dez mil unidades condominiais registradas no Recife têm que contar, todo ano, com os gastos que mais influenciam no aumento do valor do condomínio: o aumento salarial - que já sofreu reajuste de 8,84% no começo deste mês -, água e gás. Dos três, de acordo com Gomes, o único item que os síndicos ainda podem negociar com os fornecedores para tentar baratear o valor da taxa condominial é o gás.

Folha de Pernambuco

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