Do G1, em São Paulo
imagem: ufogenesis.com.br
O Brasil está estudando como ter dinheiro para se tornar membro associado do
Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern, na sigla em francês), que é
responsável pelo Grande Colisor de Hádrons (LHC), segundo uma comissão de
trabalho convocada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)
para negociar a entrada do país na organização. A pasta está na fase final da
avaliação da melhor forma de obter a verba para a filiação do país ao projeto.
Em entrevista concedida ao G1, o ministro da
Ciência, Marco Antonio Raupp, recém-empossado, afirmou que o governo trabalha
em uma forma de “engenharia financeira” para conseguir a aprovação do
investimento necessário para a entrada no Cern.
"Estamos trabalhando
para construir uma ‘engenharia financeira’ para [...] a vinculação do Brasil ao
Cern. Precisamos reforçar nossa base de conhecimento, visando a ampliação e
qualificação da mão de obra científica", afirmou Raupp.
Após a entrevista, o repórter
do G1 conversou
com Ronald Cintra Schellard, pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas
Físicas e presidente da comissão que prepara a documentação necessária - que
deve ser entregue ao centro europeu até março. Se for aprovado, o país
terá que pagar uma cota anual para ser considerado membro do projeto - esse
valor ainda precisa ser definido pelo Cern, mas há dois anos era de
aproximadamente US$ 15 milhões ao ano.
O número é obtido a partir
de um cálculo já estipulado pelo conselho do Cern, que utiliza o Produto
Interno Bruto (PIB) das nações como referência. No caso do Brasil, que será
membro associado, será equivalente a 10% do total pago pelos países que já
possuem cadeira efetiva no conselho como Alemanha, Reino Unido e Portugal.
imagem: exame.abril.com.br
O Cern é uma organização
internacional que gerencia o maior laboratório de física de partículas do
mundo. A estrela desse laboratório é o acelerador de partículas LHC, o maior
projeto de cooperação científica mundial e também a maior ferramenta já
construída pelo homem. É no LHC que dois grupos de
pesquisa independentes estão à procura do bóson de Higgs, apelidado de a "partícula de Deus".
De acordo com Schellard,
esse relatório terá dados sobre estrutura de pesquisa, número de cientistas e
indústrias voltadas ao setor existentes no país. "Nós negociamos os termos
com o Cern, mas devido à falta de recursos [do ministério], esse ingresso ficou
interrompido por um tempo", disse Schellard.
Segundo ele, mesmo sem ser
membro efetivo, o Brasil já conta com mais de cem pesquisadores ligados aos
experimentos realizados pelo Centro Europeu. "É a maior equipe entre as
nações que não são membros permanentes no Conselho Superior", afirma.
De acordo com Sérgio
Novaes, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e pesquisador
do Cern, o país teria vantagens científicas ao participar efetivamente do
projeto. “Abre possibilidades interessantes de retorno do investimento feito
pelo Brasil. Não somente em bolsas científicas e posições de pesquisa, mas
também em relação à indústria nacional, que passa a ter ‘carta branca’ para
participar de licitações para fornecimento de serviços e equipamentos em
diversas áreas do Cern [entre elas o LHC]”, disse.
ENTREVISTA COM O MINISTRO
imagem: sistemaplug.com.br
Há 11 dias no cargo, Marco Antonio Raupp substituiu Aloizio
Mercadante, que foi para o Ministério da Educação. Além do Cern, Raupp
conversou com o G1
sobre outros temas da nova gestão do ministério. Segundo ele, as decisões
tomadas por seu antecessor serão continuadas “já que o governo é o mesmo”. A
meta é cumprir entre 2012 e 2015 o que foi definido na Estratégia Nacional de
Ciência e Tecnologia e Inovação. “Vamos nos esforçar para executar essa
programação”, disse.
O físico afirma que vai
tentar elevar a quantidade de recursos humanos na área científica do país e
estabelecer nova infraestrutura para pesquisa. Isso tendo nos cofres um montante de R$ 8,5 bilhões, que corre risco de sofrer
restrições devido à recessão econômica no exterior.
“Ano passado tivemos
cortes. Esse ano já superamos, mas estamos na expectativa se vamos executá-lo
[o orçamento] plenamente ou com restrições. Está em jogo a gestão da política
econômica, a qual vamos nos adaptando.”, disse o ministro.
Ex-presidente da Agência
Espacial Brasileira (AEB), Raupp afirma que o Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais) vai se tornar um braço da agência. A proposta anterior, de
fusão das duas instituições, foi descartada. “Saímos desse modelo porque
achamos que não era conveniente. O que será encaminhado não só para o Inpe, mas
para todos os institutos do MCTI é uma vinculação com as agências e
secretarias. O Inpe ficará vinculado à AEB. [...] O Inpe mantém sua identidade
como instituição de pesquisa do MCT”, afirmou.
Um dos principais desafios
da agência espacial é a construção de um veículo lançador de satélites
nacional. O VLS terá lançamentos não-operacionais até o final de 2012, segundo
o ministro, com o apoio de empresas russas. Se tudo der certo, a fabricação do foguete
completo deve acontecer a partir de 2018. Raupp falou também sobre a produção
de iPads no Brasil, pela multinacional Foxconn. Segundo ele, a pasta espera que
as questões burocráticas sobre a instalação da fábrica se resolvam até o fim de
junho.
“Este processo corre nos
ministérios da Indústria e Comércio e Fazenda. Teve um esforço do ministro
Mercadante em atrair a empresa, que tem a intenção de implantar fábricas. Mas
agora, na negociação entra os municípios candidatos e os estados que vão
oferecer condições para atrair a companhia. O MCT articulou tudo, mas sobre os
agentes de financiamento e outras questões, outros ministérios têm que
resolver. A nossa expectativa é que até o fim do primeiro semestre tudo se
resolva”, afirmou.
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