sábado, 25 de fevereiro de 2012

Vereadores podem comprar projetos de lei prontos pela internet


AGÊNCIA ESTADO

O candidato a vereador nas eleições de outubro em qualquer um dos 5.565 municípios brasileiros poderá dispensar o preparo técnico, político ou administrativo. Se eleito, poderá deixar-se tomar pela preguiça. Bastará dispor de R$ 19,90 para comprar pacotes de projetos de lei pela internet e os apresentar nos Legislativos municipais como sendo seus.

Pelo menos três endereços virtuais da rede mundial de computadores oferecem para as próximas eleições serviços especiais aos candidatos, com promessas de trabalho personalizado e até discursos exclusivos.
Os temas em pauta vão do esporte à educação, do meio ambiente ao lazer, da proteção ao idoso à proteção à mulher. O serviço a R$ 19,90 é de propriedade do mineiro Manoel Amaral, no endereço www.casadosmunicipios.com.br.

Nos sites também são oferecidas fórmulas para projetos que visam a criar casas de cultura, turismo, ouvidoria do povo, normas urbanísticas, ocupação e parcelamento do solo, fusão e supressão de distritos, editais de contratação de servidores por tempo determinado, regulamentos do INSS, concessão de serviços de táxi.


Há ainda mais opções disponíveis. Pela internet, o candidato poderá receber um curso sobre lei orçamentária, autorização para a instalação de postos de combustíveis, criação de unidades fiscalizadoras municipais, plano de carreira de servidores, curso para dar estabilidade a servidores. Enfim, temas do cotidiano das pessoas que vivem nos municípios e que vão votar nos vereadores que ocuparão as Câmaras Municipais pelos próximos quatro anos.

Do ramo

Outro dono dos serviços oferecidos aos candidatos a vereador é o ex-vereador José Gilberto de Souza, de Campo Mourão, no Paraná. Os preços são mais salgados. Ele oferece pacotes com cerca de 15 mil projetos de lei. O menor, com dez projetos, custa R$ 200. O maior, com 100, sai por R$ 1,2 mil.
“Cada um escolhe o projeto conforme o seu perfil. Eu faço as adaptações de acordo com o tamanho da cidade e região”, disse Souza. Isso tudo, segundo ele, para evitar que os projetos de vários vereadores em cidades diferentes sejam exatamente iguais.

Para falar direito

O jornalista Roberto Rech, dono do portal www.assessoriapolitica.com, do Rio Grande do Sul, oferece aos candidatos kits de atuação política, cursos para falar bem diante do público, discursos prontos e até assessoria de imprensa. Mas se recusa a vender projetos. “Isso é picaretagem”, acusa ele. “Eu não faço projetos. Se alguém me procura, o oriento sobre o que deve fazer.”

É permitido?

O presidente da Comissão de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE), Valber Agra, disse que não há empecilho para o comércio. Não existe nada que proíba um vereador de encomendar projetos de lei. "Desde que o projeto de lei não esteja registrado na autoria de outro. Em termo legal, eu não vejo nenhum empecilho", afirmou.

Ele, que ficou surpreso com a informação, comentou que vê apenas o problema de um projeto ser aprovado em um município situado em um estado cuja constitução não permita a execução de determinada lei ou que o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha julgado determinada lei inconstitucional. "O lado mais grave é a criação de projetos em estados de constituições diferentes ou que o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha julgado que determinados municípios não tenha competência para aquilo. Nesse caso, o trabalho foi todo perdido, e os vereadores terão de reformulá-lo ou até mesmo descartá-lo", cravou.

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