RIO DE JANEIRO - Um ex-oficial do
Exército confirmou, em entrevista publicada neste domingo no jornal "O
Globo", a existência de um centro clandestino de tortura durante a
ditadura militar, chamado de "Casa da Morte", que só era conhecido a
partir das denúncias feitas pela única sobrevivente do local. "Tinha
outras. Eu organizei o lugar.
Quem eram as sentinelas, a rotina e quando se
dava festa para disfarçar, por exemplo. Tinha que dar vida a essa casa",
disse o tenente-coronel da reserva Paulo Malhães, de 74 anos, ex-oficial do
Centro de Informações do Exército (CIE).
O militar admitiu ter atuado como
oficial deste organismo de inteligência da ditadura na década de 70 numa casa
localizada na cidade de Petrópolis, a cerca de 60 quilômetros do Rio de
Janeiro, para onde eram levados integrantes de grupos que lutavam contra o
regime. Malhães assegurou que a residência, que tinha sido alugada por um
militar, era utilizada para tentar convencer militantes de organizações
guerrilheiras e de esquerda a atuarem como informantes infiltrados do exército
em seus respectivos grupos armados.
"Para virar alguém, tinha
que destruir convicções sobre comunismo. Em geral no papo, quase todos os meus
viraram. Claro que a gente dava sustos, e o susto era sempre a morte. A casa de
Petrópolis era para isso. Uma casa de conveniência, como a gente chamava",
relatou o ex-oficial ao admitir o uso de métodos violentos. Malhães contou
ainda que diversas equipes trabalhavam na "Casa da Morte" e cada uma
atuava com um preso individualmente.
O militar não respondeu o que
ocorria com os presos que se negavam a colaborar com a ditadura e assegurou que
tudo o que ocorria no local era de conhecimento de seus superiores no exército.
Ao ser perguntado se os presos eram assassinados, apenas disse que alguns
"podiam sofrer consequências" se aceitavam ajudar a localizar seus
líderes guerrilheiros mas davam informações falsas. A existência do centro
clandestino de tortura, onde podem ter sido executados pelo menos 22 presos
políticos, foi denunciada em 1979 pela ex-guerrilheira Inês Etienne Romeu.
Integrante do grupo VAR-Palmares, ela passou 96 dias na "Casa da
Morte" e foi libertada após convencer os militares de que os ajudaria a
capturar membros de sua organização.
Inês denunciou as torturas que
sofreu no centro de tortura para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ajudou
a localizar a residência, que já tinha sido desmontada. Até agora, nunca nenhum
militar tinha admitido a existência da "Casa da Morte", apesar de
denúncias terem ajudado a identificar um sargento do exército e a um delegado
de polícia como torturadores que atuaram no local, e um médico, que foi proibido
de exercer a profissão, como colaborador das operações. Malhães assegurou que
comandou a equipe que "trabalhou" com cinco ou seis dos militantes
presos na "Casa da Morte", a quem teria convencido a apoiar a
ditadura, inclusive com incentivos financeiros, e que algumas das pessoas que
hoje figuram como desaparecidas políticas são na realidade ex-guerrilheiros que
mudaram de lado.
AGÊNCIA EFE
Um comentário:
comunista é comunista morto.
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