O GRITO PACÍFICO DO RECIFE - O Brasil viveu, ontem, um dia
histórico. Seu povo saiu às ruas em mais de 100 cidades, entre as quais as
principais capitais, como São Paulo, que reuniu 100 mil pessoas. Um verdadeiro
formigueiro humano foi visto também no Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte e
Recife. Brasília ferveu.
Manifestantes romperam as
barreiras impostas para chegar até ao Congresso, entraram em confronto com
policiais e atearam fogo na Esplanada dos Ministérios e nas proximidades do
Itamaraty.
Com exceção do Recife, que fez um
ato pacífico, com o branco da paz, cenas de vandalismo se reproduziram em
várias partes do País.
Lamentável! Protestos se fazem
com palavras de ordem, com o eco da voz rouca nas ruas e não com violência.
Recife não registrou incidentes graves, badernas, agressões, nada disso, além
do grito forte do seu povo em caminhada que ficou marcada para a história, não
apenas pela grande adesão da população, mas pela civilidade e pacifismo.
Gente consciente e engajada.
Jovens caras pintadas, cartazes com frases duras, mas que simbolizavam as
razões do belíssimo ato. Recife deu um show de democracia e até a polícia, bem
comportada, acabou sendo aplaudida pela multidão.
Apenas tumultos isolados, sem
graves consequências, se observaram em frente ao prédio da Prefeitura. Mas,
como a manifestação foi comparada ao mar de gente do Galo da Madrugada, isso se
diluiu.
O recado do Recife, porém, foi
dado ao País: a revolta do povo não se dá pelo aumento de 20 centavos nas
passagens, mas por dignidade na política, saúde de qualidade, escolas
eficientes, rejeição a PEC que imobiliza o Ministério Público, fim das obras
superfaturadas e com caras de elefantes brancos, como as arenas da Copa do
Mundo. E, principalmente, o receio da volta da inflação.
CAIU NA REAL – Mais uma vez, a TV-Globo se rendeu aos fatos:
abandonou a transmissão dos jogos da Copa das Confederações, ontem, para
transmitir ao vivo as manifestações que ocorreram em várias partes do País. As
equipes globais, entretanto, tiveram que cobrir os atos nas ruas sem o loco
tradicional da emissora e com segurança particular, temendo agressões de
populares, como ocorreu com o jornalista Caco Barcelos, em São Paulo.
SITIADA NO PLANALTO - Enquanto Brasília pipocava, ontem, com
milhares de manifestantes em frente ao Congresso e ao Itamaraty, a presidente
Dilma despachava no Palácio do Planalto, a 300 metros do burburinho como se
estivesse sitiada. Foi de lá, depois de acompanhar pela televisão o que se
passou no País, que resolveu cancelar sua ida ao Japão.
APENAS CHUTE - No Recife, a Polícia Militar abusou do seu
chutômetro. Chegou a calcular em 100 mil
os manifestantes presentes nas ruas da capital, recuando depois para 52 mil. Para
garantir a tranquilidade do ato, o Governo mobilizou mais de mil policiais. Se
o Galo da Madrugada arrasta um milhão de pessoas, por que não havia, ontem, 100
mil pessoas na manifestação?
NO SERTÃO - Petrolina e Juazeiro, cidades irmãs, separadas pelo rio
São Francisco, se uniram, ontem, mais uma vez, numa manifestação que arrastou
mais de seis mil pessoas. No final da tarde, a multidão se concentrou na ponte
Presidente Dutra, cujo movimento de carros ficou interrompido por mais de duas
horas.
MANTEGA VAI CAIR - Notícias que chegam de Brasília dão conta de que
o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está com os dias contados. Na verdade,
segundo uma fonte palaciana, ele deve ser substituído pelo ex-presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles. Mantega cai, na verdade, por fadiga de
material e deve arrastar boa parte da sua equipe econômica.
CURTAS
EFEITO COLATERAL – Na opinião do cientista político Ricardo Guedes,
da Fundação Getúlio Vargas, as manifestações que sacudiram o País nos últimos
dias tornaram indefinidas as eleições presidenciais de 2014. Ele acredita que o
pano de fundo do inconformismo é a ameaça da volta da inflação.
IMAGEM ARRANHADA – O Governo está extremamente preocupado com a
grande repercussão externa das manifestações no Brasil. Especialmente porque
jornais e revistas internacionais tratam os protestos como reação a tudo,
destacando principalmente a Copa das Confederações.
PERGUNTAR NÃO OFENDE: E os protestos param por ai ou vão continuar
nos próximos dias, mesmo a passagem já tendo sido reduzida?
'É melhor um bocado seco, e com ele a tranqüilidade, do que a casa
cheia de iguarias e com desavença'. (Provérbios 17:1)
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