sexta-feira, 21 de junho de 2013

Brasil vive um despertar social, aponta a mídia internacional


Após a redução no preço das passagens de ônibus, a continuidade dos protestos no Brasil surpreendeu a muitos, mas não devia, apontam analistas da mídia internacional. Apesar do país ter avançado em diversas áreas, como na economia e na diminuição da desigualdade social, ainda há uma grande lacuna entre as promessas de políticos e a realidade da população, afirma um editorial do "New York Times" publicado nesta sexta-feira.

"Mesmo com todos os objetivos alcançados pelo Brasil nas últimas décadas - como uma economia mais forte, mais dinheiro e mais atenção direta à necessidade dos mais pobres - ainda há uma grande lacuna entre as promessas de governantes políticos de esquerda e a dura realidade do dia a dia fora da elite política e de executivos", diz o texto. "O Banco Mundial apresenta o Brasil como a sétima maior economia do mundo, mas o classifica com menos de 10% em igualdade de renda", acrescenta.

Em reportagem sobre as manifestações, o diário novaiorquino descreveu a surpresa de jovens que presenciam pela primeira vez um movimento de tal tamanho no país. O que une os ativistas é uma insatisfação geral. No entanto, a multiplicidade entre as reivindicações - que também ocorreu em outros grandes protestos pelo mundo - deixa o governo e a oposição confusos na hora de oferecer uma solução para a situação.

"De repente, um país que já foi visto como um excelente exemplo de uma potência democrática em ascensão encontra-se abalado por um amorfa revolta popular sem liderança com um tema unificador: uma brava, e às vezes violenta, rejeição da política tradicional", afirma. "Assim como o movimento Occupy nos EUA, os protestos anticorrupção nos últimos anos na Índia, manifestações por mais qualidade de vida em Israel e a fúria em nações europeias como a Grécia, as marchas no Brasil são alimentadas com as causas políticas tradicionais, desafiando o governo e a oposição também. E as demandas dos manifestantes estão tão difusas que eles deixaram os líderes brasileiros confusos sobre como satisfazê-los".

Em reportagem especial para a emissora americana CNN, o jornalista brasileiro Rogério Simões reforçou que, por mais que haja causas diferentes nos protestos, os atos mostram que grande parcela da população está insatisfeita com a administração do país.

"Em um momento em que o Brasil deveria estar celebrando, as ruas estão cheias de raiva, entoando reivindicações, com confrontos com a polícia e destruição causada por uma minoria de radicais. Por que os protestos ganharam tanta força? Uma pergunta capciosa, mas há uma coisa que ninguém pode negar: um número significante de brasileiros está insatisfeito com o estado da nação", diz o texto.

Apoio de Dilma não bastou, destacam os jornais europeus

O diário espanhol "El País" destacou que os protestos continuaram mesmo após o apoio da presidente Dilma Rousseff, que cancelou uma viagem ao Japão e convocou uma reunião de emergência com seus ministros. Segundo o veículo, as novas manifestações foram marcadas pela falta de um apelo preciso, que tenha prioridade na lista de demandas.

"O apoio que a presidente Dilma Rousseff deu às vozes das ruas não bastou. A decisão do Rio de Janeiro e de São Paulo em voltar atrás no aumento de R$ 0,20 nas passagens tão pouco foi suficiente", disse o jornal. "Ao contrário de segunda-feira, quando em todos os protestos foi ouvida uma reivindicação precisa e específica, desta vez não surgiu nenhum elemento unificador, nenhuma reivindicação que tenha prioridade sobre todas as outras", afirma.

O francês "Le Monde" destacou com o aumento de participantes, mesmo após o apelo da presidente. Tal crescimento obrigou Dilma a cancelar sua viagem, em um sinal de maior pressão social, diz o diário.

"Um mar humano, uma enxurrada de cartazes e faixas coloridas com humor e malícia, calçadas e avenidas tomadas e transformadas em plataformas improvisadas: um Brasil presenciou na quinta-feira, 20 junho, um dia de evento excepcional , numa extensão muito maior do que a anterior. Mais de um milhão de pessoas, de acordo com os últimos, foram o suficiente para forçar a presidente Dilma Rousseff a cancelar uma viagem para o Japão e convocar uma reunião de emergência com seus ministros mais próximos".

Na América Latina, destaque para o crescimento do movimento

O jornal argentino "La Nación" destacou o crescimento do movimento, lamentando que as manifestações tenham terminado em violência em algumas cidades, reforçando a intenção pacífica do movimento inicial.

"A festa na noite de quinta-feira virou um pesadelo no Brasil", disse o jornal. "A confusão noturna estava em claro contraste com o modo como havia começado a nova jornada de manifestações".

O venezuelano "El Nacional" ressaltou que as manifestações ocorreram em mais de 100, apesar dos esforços de Dilma. O diário cita também a tentativa de partidos políticos de se reunirem ao movimento, mas serem criticados por manifestantes.

TV árabe diz que governo deve demorar para achar solução

Apesar da violência, a emissora árabe al-Ajazeera faz uma previsão positiva da situação. Segundo a TV, o governo deve demorar um pouco para entender a população, mas deve pedir mais calma à polícia durante a proteção de patrimônios ou contenção de tumultos.

"É de maneira geral um movimento sem liderança. O que estamos vendo é uma tentativa do governo em tentar remediar a situação, mas também em tentar entender o que os manifestantes querem e o que podem entregar. O governo vai demorar um pouco para poder lidar de uma maneira mais confortável com a situação. Eles (os governantes) vão tentar fazer o seu melhor e tentar fazer com que a polícia mostre um pouco de moderação", disse o correspondente da emissora.

 Agência O Globo

Nenhum comentário: