Após a redução no preço das
passagens de ônibus, a continuidade dos protestos no Brasil surpreendeu a
muitos, mas não devia, apontam analistas da mídia internacional. Apesar do país
ter avançado em diversas áreas, como na economia e na diminuição da desigualdade
social, ainda há uma grande lacuna entre as promessas de políticos e a
realidade da população, afirma um editorial do "New York Times"
publicado nesta sexta-feira.
"Mesmo com todos os
objetivos alcançados pelo Brasil nas últimas décadas - como uma economia mais
forte, mais dinheiro e mais atenção direta à necessidade dos mais pobres -
ainda há uma grande lacuna entre as promessas de governantes políticos de
esquerda e a dura realidade do dia a dia fora da elite política e de
executivos", diz o texto. "O Banco Mundial apresenta o Brasil como a
sétima maior economia do mundo, mas o classifica com menos de 10% em igualdade
de renda", acrescenta.
Em reportagem sobre as
manifestações, o diário novaiorquino descreveu a surpresa de jovens que
presenciam pela primeira vez um movimento de tal tamanho no país. O que une os
ativistas é uma insatisfação geral. No entanto, a multiplicidade entre as
reivindicações - que também ocorreu em outros grandes protestos pelo mundo -
deixa o governo e a oposição confusos na hora de oferecer uma solução para a
situação.
"De repente, um país que já
foi visto como um excelente exemplo de uma potência democrática em ascensão
encontra-se abalado por um amorfa revolta popular sem liderança com um tema
unificador: uma brava, e às vezes violenta, rejeição da política
tradicional", afirma. "Assim como o movimento Occupy nos EUA, os
protestos anticorrupção nos últimos anos na Índia, manifestações por mais
qualidade de vida em Israel e a fúria em nações europeias como a Grécia, as marchas
no Brasil são alimentadas com as causas políticas tradicionais, desafiando o
governo e a oposição também. E as demandas dos manifestantes estão tão difusas
que eles deixaram os líderes brasileiros confusos sobre como
satisfazê-los".
Em reportagem especial para a
emissora americana CNN, o jornalista brasileiro Rogério Simões reforçou que,
por mais que haja causas diferentes nos protestos, os atos mostram que grande
parcela da população está insatisfeita com a administração do país.
"Em um momento em que o
Brasil deveria estar celebrando, as ruas estão cheias de raiva, entoando
reivindicações, com confrontos com a polícia e destruição causada por uma
minoria de radicais. Por que os protestos ganharam tanta força? Uma pergunta
capciosa, mas há uma coisa que ninguém pode negar: um número significante de
brasileiros está insatisfeito com o estado da nação", diz o texto.
Apoio de Dilma não bastou, destacam os jornais europeus
O diário espanhol "El
País" destacou que os protestos continuaram mesmo após o apoio da
presidente Dilma Rousseff, que cancelou uma viagem ao Japão e convocou uma
reunião de emergência com seus ministros. Segundo o veículo, as novas
manifestações foram marcadas pela falta de um apelo preciso, que tenha
prioridade na lista de demandas.
"O apoio que a presidente
Dilma Rousseff deu às vozes das ruas não bastou. A decisão do Rio de Janeiro e
de São Paulo em voltar atrás no aumento de R$ 0,20 nas passagens tão pouco foi
suficiente", disse o jornal. "Ao contrário de segunda-feira, quando
em todos os protestos foi ouvida uma reivindicação precisa e específica, desta
vez não surgiu nenhum elemento unificador, nenhuma reivindicação que tenha
prioridade sobre todas as outras", afirma.
O francês "Le Monde"
destacou com o aumento de participantes, mesmo após o apelo da presidente. Tal
crescimento obrigou Dilma a cancelar sua viagem, em um sinal de maior pressão
social, diz o diário.
"Um mar humano, uma
enxurrada de cartazes e faixas coloridas com humor e malícia, calçadas e
avenidas tomadas e transformadas em plataformas improvisadas: um Brasil
presenciou na quinta-feira, 20 junho, um dia de evento excepcional , numa
extensão muito maior do que a anterior. Mais de um milhão de pessoas, de acordo
com os últimos, foram o suficiente para forçar a presidente Dilma Rousseff a
cancelar uma viagem para o Japão e convocar uma reunião de emergência com seus
ministros mais próximos".
Na América Latina, destaque para o crescimento do movimento
O jornal argentino "La
Nación" destacou o crescimento do movimento, lamentando que as
manifestações tenham terminado em violência em algumas cidades, reforçando a
intenção pacífica do movimento inicial.
"A festa na noite de
quinta-feira virou um pesadelo no Brasil", disse o jornal. "A
confusão noturna estava em claro contraste com o modo como havia começado a
nova jornada de manifestações".
O venezuelano "El
Nacional" ressaltou que as manifestações ocorreram em mais de 100, apesar
dos esforços de Dilma. O diário cita também a tentativa de partidos políticos
de se reunirem ao movimento, mas serem criticados por manifestantes.
TV árabe diz que governo deve demorar para achar solução
Apesar da violência, a emissora
árabe al-Ajazeera faz uma previsão positiva da situação. Segundo a TV, o
governo deve demorar um pouco para entender a população, mas deve pedir mais
calma à polícia durante a proteção de patrimônios ou contenção de tumultos.
"É de maneira geral um
movimento sem liderança. O que estamos vendo é uma tentativa do governo em
tentar remediar a situação, mas também em tentar entender o que os
manifestantes querem e o que podem entregar. O governo vai demorar um pouco
para poder lidar de uma maneira mais confortável com a situação. Eles (os
governantes) vão tentar fazer o seu melhor e tentar fazer com que a polícia
mostre um pouco de moderação", disse o correspondente da emissora.
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