Endereço onde estaria escritório da empresa, em empresarial de Boa Viagem, é falso. Foto: Arthur de Souza/Esp. DP/DA Press |
Hugo Bispo - Diario de Pernambuco
Em um mês, R$ 1 mil geram mais R$
600. No mínimo. E o melhor: você nem precisa sair de casa para isso. É só
responder a cinco perguntas propostas diariamente por um site. E pode pesquisar
na internet para responder, se quiser. E não se preocupe, ninguém do portal vai
checar se as respostas estão corretas. Parece brincadeira, mas não é.
É esse o negócio que uma empresa
pernambucana de marketing multinível chamada Priples propõe aos usuários. Com
quantias a partir de R$ 100, o investidor ganha o direito de ser remunerado em
2% ao dia durante um ano. A promessa de
ganhos chama tanta atenção que também atraiu os olhares da Polícia Civil do
estado, que abriu inquérito para investigar o caso. A Priples está sendo
investigada por crime contra a economia popular – mais conhecido como esquema
de pirâmide financeira. Já existem 11 queixas contra a empresa.
Segundo o advogado Thiago
Lapenda, do escritório Lima e Falcão, pode ser configurada como pirâmide toda
operação financeira em que a remuneração de clientes antigos é feita com o
dinheiro de novos clientes, e não com o rendimento de serviços ou produtos vendidos.
“Esse tipo de negócio não é sustentável, pois os lucros distribuídos são
maiores que a receita da empresa.”
O delegado titular da Delegacia
do Ipsep e autor do inquérito contra a Priples, Carlos Ferraz, acredita que o
caso se trate de uma pirâmide e só espera o resultado da perícia contábil para
comprovar oficialmente sua tese. “Como uma empresa cuja razão social é de R$ 30
mil pode pagar dividendos milionários aos seus clientes?” Ferraz conta que a
Priples poderá ser indiciada por outros crimes, como formação de quadrilha,
sonegação fiscal e estelionato.
O dono da empresa, Henrique
Maciel Carmo de Lima, foi intimado para depor, mas não compareceu. Quando for
concluído, o caso será levado ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Até
agora 11 pessoas prestaram queixa contra Priples, de acordo com Carlos Ferraz.
Foram registradas denúncias a respeito do não pagamento dos rendimentos no dia
previsto
Há também queixas dos usuários
por não conseguirem localizar a sede física da Priples. Os dois endereços
fornecidos no site são falsos. A sede apontada no site é o empresarial Pontus
Corporate Center, em Boa Viagem. A reportagem foi ao local e apurou que não
havia sala ocupada pela Priples. A outra, na Estância, trata-se da
ex-residência de Henrique Maciel. A
reportagem não conseguiu entrar em contato com Maciel. Desde a semana passada, a reportagem do
Diario solicitou uma entrevista pela seção “fale conosco”, sem sucesso.
Nova modalidade de marketing
A Priples é mais uma empresa
representante de um novo ramo que tem se consolidado: o marketing multinível
(MMN). Com pequenas variações, os negócios desse segmento têm como principal
política de remuneração a quantidade de propagandas publicadas e o número de
novos clientes indicados para o negócio. Para o Procon-PE, essas empresas devem
ser vistas com cautela.
“A maior parte dessas empresas
remuneram seus clientes com o dinheiro da adesão de novos clientes. Mesmo que
eles tenham outros produtos a oferecer, não são essas vendas que suportam a
quantidade de dinheiro que eles distribuem mensalmente. Então provavelmente vai
chegar um momento em que isso vai saturar”, afirma o coordenador-geral do
Procon-PE, José Rangel. Ele exemplifica com um estudo feito pelo Procon sobre a
Telexfree. “Foram encontrados indícios de pirâmide, além de mais de uma dezena
de irregularidades no contrato.”
A despeito das críticas, há quem
tem ganho dinheiro com MMN. Com um investimento inicial de apenas R$ 600 em uma
conta da Telexfree, o ex-bancário Pedro dos Santos hoje acumula um patrimônio
estimado em quase R$ 500 mil, segundo ele. Já comprou uma caminhonete S10 e
vários terrenos. E tudo partir da aquisição de várias contas na Telexfree e em
outras empresas de MMN, como a BBOM. “Sou contador e sei que marketing
multinível não é pirâmide.”
O Ministério Público de
Pernambuco e o Ministério da Justiça informaram que estão investigando a
Telexfree por suspeita de fraude financeira. Pelo mesmo motivo, o MPPE também
abriu uma ação contra a BBOM. A Polícia Federal disse que não se pronunciava
sobre investigações em curso. Desde a semana passada o Diario entrou em contato
por e-mail com a Telexfree e a BBOM. Não houve resposta.
Saiba mais.
O que prometem as empresas
Priples
Vende aos usuários o direito de
anunciar em seu site
Remuneração
1. Comissão
A Priples promete pagar uma
comissão de acordo com o nível em que o novo cliente está entrando. Pode ser
baseada no valor que o novo cliente irá investir ou no valor do investimento
feito pelo usuário antigo, nos últimos 12 meses (prevalece o menor).
2. Participação
A empresa promete pagar 2% por
dia ao usuário que responder perguntas de conhecimentos gerais.
O percentual é calculado sobre o
total de
recargas nos últimos doze meses.
TelexFree
Empresa se anuncia como
multinacional que tem como negócio a venda de pacotes de Voip
Remuneração
1. Vendendo voips (voz sobre IP
na internet)
2. Publicando anúncios sobre a
TelexFree diariamente. Esquecendo de fazer anúncio em um dia, perde-se a semana
toda.
3. Formando rede multinível
(conseguindo novos adeptos ao negócio)
Paga-se taxa de adesão em todos
os kits de anúncios da empresa.
BBOM
Negocia o aluguel de rastreadores
de veículos. São três tipos de planos para aquisição de rastreadores, aluguel do
aparelho ou indicação efetivada de cliente.
Fontes: contrato das empresas
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