UBALDO, RUBEM ALVES E ARIANO - Em menos de uma semana, o Brasil
empobreceu 100 anos na literatura. Perdeu, primeiro, João Ubaldo Ribeiro,
depois Rubem Alves e em seguida Ariano Suassuna. Três monstros sagrados, três
estilos antagônicos, três gênios.
Ubaldo nos enviúva com suas
adoráveis prosas, Rubem com suas crônicas sobre a beleza da vida e do amor; o
mestre Ariano com o seu canto sertanejo que ganhou o mundo pela sua obra
síntese O Auto da Compadecida. Aos domingos, no caderno de literatura de O
Globo, João Ubaldo Ribeiro nos brindava com estórias e causos do quotidiano.
Leitura obrigatória e
indispensável. “Faço tudo que me dá na cabeça, não quero saber de limitações.
Eu não pequei contra a luxúria. Quem peca é aquele que não faz o que foi criado
para fazer”, dizia Ubaldo. Rubem Alves, o mais doce e amoroso dos três, deixou
frases célebres sobre a vida.
“A vida não pode ser economizada
para amanhã. Acontece sempre no presente”, dizia. “Todo jardim começa com uma
história de amor, antes que qualquer árvore seja plantada ou um lago construído
é preciso que eles tenham nascido dentro da alma”, eis outra pérola dele. Rubem
Alves escrevia para o homem, a mulher, a criança. Seus textos eram primorosos.
Sobre a comemoração de mais um
aniversário de vida deixou esta outra pérola: “A celebração de mais um ano de
vida é a celebração de um desfazer, um tempo que deixou de ser, não mais
existe. Fósforo que foi riscado. Nunca mais acenderá. Daí a profunda sabedoria
do ritual de soprar as velas em festa de aniversário. Se uma vela acesa é
símbolo de vida, uma vez apagada ela se torna símbolo de morte”.
Já Ariano Suassuna, por fim,
deixa um conjunto de frases de arrepiar: “O otimista é um tolo. O pessimista,
um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”. Arte pra mim, diz ele, “não
é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão,
vocação e festa”.
Sobre a vida, escreveu: 'Tenho
duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a
cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante
tarefa de viver.'
Por fim, para os que choram de
saudade dele encontrei na sua biografia o seu recado: “Quando eu morrer, não
soltem meu cavalo nas pedras do meu pasto incendiado: fustiguem-lhe seu dorso
alardeado, com a espora de ouro, até matá-lo”.
PARTIU O MINISTRO – Não tivesse partido para a eternidade, o mestre
Ariano certamente seria o ministro da Cultura de um eventual Governo Eduardo.
Esta foi a frase mais repetida, ontem, entre os aliados e os que torcem pelo
sucesso do ex-governador na corrida presidencial. Mesmo com a idade já
avançada, Ariano certamente ainda daria uma grande contribuição ao Brasil
ocupando espaço na Esplanada dos Ministérios.
O CHORO DE TAPEROÁ – Um batalhão de jornalistas, entre os quais
este blogueiro, aterrissa, hoje, em Taperoá, na Paraíba, a 310 km de João
Pessoa, para documentar a tristeza da pátria de Ariano Suassuna. Foi ali, em
meio à vegetação inóspita do semiárido nordestino, que o mestre deu o seu berro
de saudação à vida.
CAIU EM PRANTOS– Na entrevista que concedeu, ontem, para lamentar a
morte de Ariano Suassuna, o ex-governador Eduardo Campos não resistiu a emoção
e chorou copiosamente. O mestre vinha fazendo um esforço descomunal para se
engajar na campanha de Eduardo ao Planalto, tendo sido visto, inclusive, na
convenção que homologou a chapa com Marina, em Brasília.
PAI E CONSELHEIRO– Já o escritor Raimundo Carrero, premiadíssimo
romancista pernambucano no País inteiro e que teve direito até a uma fala,
ontem, no Jornal Nacional, da TV-Globo, disse que perdeu não apenas um amigo,
mais um pai, um conselheiro. “Ariano foi o mais completo intelectual da sua
geração”, disse Carrero, que também não conseguia conter a emoção.
HUMOR REFINADO – Na nota oficial sobre a morte de Ariano, o
governador João Lyra Neto destacou: “O bom humor sempre foi sua marca, somada a
profundos conhecimentos do imaginário popular e uma inteligência muito acima da
média. A obra de Ariano permanecerá eterna na mente de todos nós que convivemos
com ele, mas tenho certeza de que também será lembrada e venerada pelos mais
jovens e pelas futuras gerações”.
CURTAS
NOS FUNERAIS– É possível que Marina Silva, vice na chapa de Eduardo
Campos, participe, hoje, dos funerais de Ariano Suassuna, no Recife. O velório,
que começou ontem tarde da noite, está sendo realizado no Palácio do Campo das
Princesas.
DEPOIMENTO – Tio de Eduardo, o jornalista Guel Arraes, que levou
para a telinha O Auto da Compadecida, para o cinema e uma série na TV-Globo,
também prestou, ontem, um emocionante depoimento no Jornal Nacional.
PERGUNTAR NÃO OFENDE: O que será da literatura sem João Ubaldo,
Rubem Alves e Ariano?
'O que no seu coração comete deslize, se enfada dos seus caminhos, mas
o homem bom fica satisfeito com o seu proceder'. (Provérbios 14-14)
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