quinta-feira, 24 de julho de 2014

Do blog do Magno Martins: Coluna da quinta-feira

UBALDO, RUBEM ALVES E ARIANO - Em menos de uma semana, o Brasil empobreceu 100 anos na literatura. Perdeu, primeiro, João Ubaldo Ribeiro, depois Rubem Alves e em seguida Ariano Suassuna. Três monstros sagrados, três estilos antagônicos, três gênios.

Ubaldo nos enviúva com suas adoráveis prosas, Rubem com suas crônicas sobre a beleza da vida e do amor; o mestre Ariano com o seu canto sertanejo que ganhou o mundo pela sua obra síntese O Auto da Compadecida. Aos domingos, no caderno de literatura de O Globo, João Ubaldo Ribeiro nos brindava com estórias e causos do quotidiano.

Leitura obrigatória e indispensável. “Faço tudo que me dá na cabeça, não quero saber de limitações. Eu não pequei contra a luxúria. Quem peca é aquele que não faz o que foi criado para fazer”, dizia Ubaldo. Rubem Alves, o mais doce e amoroso dos três, deixou frases célebres sobre a vida.

“A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente”, dizia. “Todo jardim começa com uma história de amor, antes que qualquer árvore seja plantada ou um lago construído é preciso que eles tenham nascido dentro da alma”, eis outra pérola dele. Rubem Alves escrevia para o homem, a mulher, a criança. Seus textos eram primorosos.

Sobre a comemoração de mais um aniversário de vida deixou esta outra pérola: “A celebração de mais um ano de vida é a celebração de um desfazer, um tempo que deixou de ser, não mais existe. Fósforo que foi riscado. Nunca mais acenderá. Daí a profunda sabedoria do ritual de soprar as velas em festa de aniversário. Se uma vela acesa é símbolo de vida, uma vez apagada ela se torna símbolo de morte”.

Já Ariano Suassuna, por fim, deixa um conjunto de frases de arrepiar: “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”. Arte pra mim, diz ele, “não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa”.

Sobre a vida, escreveu: 'Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver.'

Por fim, para os que choram de saudade dele encontrei na sua biografia o seu recado: “Quando eu morrer, não soltem meu cavalo nas pedras do meu pasto incendiado: fustiguem-lhe seu dorso alardeado, com a espora de ouro, até matá-lo”.

PARTIU O MINISTRO – Não tivesse partido para a eternidade, o mestre Ariano certamente seria o ministro da Cultura de um eventual Governo Eduardo. Esta foi a frase mais repetida, ontem, entre os aliados e os que torcem pelo sucesso do ex-governador na corrida presidencial. Mesmo com a idade já avançada, Ariano certamente ainda daria uma grande contribuição ao Brasil ocupando espaço na Esplanada dos Ministérios.

O CHORO DE TAPEROÁ – Um batalhão de jornalistas, entre os quais este blogueiro, aterrissa, hoje, em Taperoá, na Paraíba, a 310 km de João Pessoa, para documentar a tristeza da pátria de Ariano Suassuna. Foi ali, em meio à vegetação inóspita do semiárido nordestino, que o mestre deu o seu berro de saudação à vida.



CAIU EM PRANTOS– Na entrevista que concedeu, ontem, para lamentar a morte de Ariano Suassuna, o ex-governador Eduardo Campos não resistiu a emoção e chorou copiosamente. O mestre vinha fazendo um esforço descomunal para se engajar na campanha de Eduardo ao Planalto, tendo sido visto, inclusive, na convenção que homologou a chapa com Marina, em Brasília.

PAI E CONSELHEIRO– Já o escritor Raimundo Carrero, premiadíssimo romancista pernambucano no País inteiro e que teve direito até a uma fala, ontem, no Jornal Nacional, da TV-Globo, disse que perdeu não apenas um amigo, mais um pai, um conselheiro. “Ariano foi o mais completo intelectual da sua geração”, disse Carrero, que também não conseguia conter a emoção.

HUMOR REFINADO – Na nota oficial sobre a morte de Ariano, o governador João Lyra Neto destacou: “O bom humor sempre foi sua marca, somada a profundos conhecimentos do imaginário popular e uma inteligência muito acima da média. A obra de Ariano permanecerá eterna na mente de todos nós que convivemos com ele, mas tenho certeza de que também será lembrada e venerada pelos mais jovens e pelas futuras gerações”.


CURTAS

NOS FUNERAIS– É possível que Marina Silva, vice na chapa de Eduardo Campos, participe, hoje, dos funerais de Ariano Suassuna, no Recife. O velório, que começou ontem tarde da noite, está sendo realizado no Palácio do Campo das Princesas.

DEPOIMENTO – Tio de Eduardo, o jornalista Guel Arraes, que levou para a telinha O Auto da Compadecida, para o cinema e uma série na TV-Globo, também prestou, ontem, um emocionante depoimento no Jornal Nacional.

PERGUNTAR NÃO OFENDE: O que será da literatura sem João Ubaldo, Rubem Alves e Ariano?


'O que no seu coração comete deslize, se enfada dos seus caminhos, mas o homem bom fica satisfeito com o seu proceder'. (Provérbios 14-14)

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