Morreu no Recife, nesta
quarta-feira (23), o escritor, dramaturgo e poeta paraibano Ariano Suassuna,
aos 87 anos. Ele estava internado desde a noite de segunda (21) na Unidade de
Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Português, onde foi submetido a uma
cirurgia na mesma noite após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) do tipo
hemorrágico. Segundo boletim médico, o escritor faleceu às 17h15. "O
paciente teve uma parada cardíaca provocada pela hipertensão
intracraniana". A família ainda não informou os detalhes do funeral.
A cirurgia da segunda foi feita
para a colocação de dois drenos na tentativa de controlar a pressão
intracraniana. Na noite de terça-feira (22), o quadro dele se agravou, devido a
"queda da pressão arterial e pressão intracraniana muito elevada",
conforme foi informado em boletim.
Em 2013, Ariano foi internado
duas vezes. A primeira delas em 21 de agosto, quando sentiu-se mal após sofrer
um infarto agudo do miocárdio de pequenas proporções, de acordo com os médicos,
e ficou internado na unidade coronária, mas depois foi transferido para um
apartamento no hospital. Recebeu alta após seis dias, com recomendação de
repouso e nenhuma visita.
Dias depois, um aneurisma
cerebral o levou de volta ao hospital. Uma arteriografia foi feita para
tratamento e ele saiu da UTI para um apartamento do hospital, de onde recebeu
alta seis dias depois da internação, no dia 4 de setembro.
Foto: Costa Neto / Secretaria de Cultura de Pernambuco |
Na aula-espetáculo que ministrou
no Festival de Inverno de Garanhuns, na semana passada, mais uma vez Ariano
misturou causos, informações sobre elementos da cultura popular nordestina; o
grupo Arraial foi o convidado para os números de música e dança
Ativo até o fim
Ariano Suassuna nasceu em 16 de
junho de 1927, em João Pessoa, e cresceu no Sertão paraibano. Mudou-se com a
família para o Recife em 1942. Mesmo com os problemas na saúde, ele permanecia
em plena atividade profissional. "No Sertão do Nordeste a morte tem nome,
chama-se Caetana. Se ela está pensando em me levar, não pense que vai ser
fácil, não. Ela vai suar! Se vier com essas besteirinhas de infarto e aneurisma
no cérebro, isso eu tiro de letra", disse ele, em dezembro de 2013,
durante a retomada de suas aulas-espetáculo.
Em março deste ano, Ariano foi
homenageado pelo maior bloco do mundo, o Galo da Madrugada. Ele pediu que a decoração fosse feita nas
cores do Sport, vermelho e preto, e ficou muito contente com a homenagem. “Eu
acho o futebol uma manifestação cultural que tem muitas ligações com o
carnaval”, disse, na ocasião.
No mesmo mês, o escritor concedeu
uma entrevista à TV Globo Nordeste sobre a finalização de seu novo livro, “O
jumento sedutor”. Os manuscritos começaram a ser trabalhados há mais de trinta
anos.
Na última sexta-feira, Suassuna
apresentou uma aula espetáculo no teatro Luiz Souto Dourado, em Garanhuns,
durante o Festival de Inverno. No carnaval do próximo ano, o autor paraibano
deve ser homenageado pela escola de samba Unidos de Padre Miguel, do Rio de
Janeiro.
A primeira peça do escritor,
"Uma mulher vestida de sol", ganhou o PRÊMIO Nicolau Carlos Magno em
1948. Ariano escreveu um de seus maiores clássicos, "O Auto da
Compadecida", em 1955, cinco anos depois de se formar em direito. A peça
foi apresentada pela primeira vez no Recife, em 1957, no Teatro de Santa
Isabel, sem grande sucesso, explodindo nacionalmente apenas quando foi encenada
– e ganhou o prêmio – no Festival de Estudantes do Rio de Janeiro, no Teatro
Dulcina. A obra é considerada a mais famosa dele, devido às diversas
adaptações. Guel Arraes levou o “Auto” à TV e ao cinema em 1999.
O escritor considera que seu melhor
livro é o “Romance d'A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta”. A
obra começou a ser produzida em 1958 e levou 12 anos para ficar pronta. Foi
adaptada por Luiz Fernando Carvalho e exibida pela Rede Globo em 2007, com o
nome de "A pedra do reino".
Na década de 70, Ariano começou a
articular o Movimento Armorial, que defendeu a criação de uma arte erudita
nordestina a partir de suas raízes populares. Ele também foi membro-fundador do
Conselho Nacional de Cultura.
Após 32 anos nas salas de aula,
Suassuna se aposentou do cargo de professor da Universidade Federal de
Pernambuco, em 1989. O período também ficou marcado pelo reconhecimento
nacional do escritor – Ariano tomou posse na cadeira 32 da Academia Brasileira
de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, em 1990.
Do G1
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